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Guilherme:

Passados seis meses, o caso já havia perdido o interesse para a mídia, entretanto com a aproximação do julgamento ganhou novamente proporções gigantescas, o advogado de Glauco havia feito um pedido de internação dele para uma clínica pois alegava que ele estava perturbado, dois ou três policiais decretaram veracidade no que ele afirmava. 

Nós sabíamos que aquilo não passava de encenação, mas sem provas nada podíamos fazer, a não ser esperar um laudo do psiquiatra que aparentemente estava mais favorável a escutar os policiais,  do que nós como pais,  que havíamos sidos privados de termos o nosso filho em nossos braços:

_ Mas isso não é certo, o senhor tem que fazer alguma coisa, não pode deixar ele em uma clínica de repouso, ele matou dois homens, e atirou no meu filho, o juiz não pode deixar ele solto. 

_ Calma Guilherme, eu estou fazendo de tudo para mante-lo na prisão, mas não depende de mim, depende do que o juiz decretar, vamos esperar o julgamento para então requerer nova petição de prisão.

_ Vocês não podem brincar com a vida dos meus filhos assim, o Glauco é perigoso. Já é um absurdo imaginar que se ele for condenado a 25 anos sairá da cadeia em 10 anos e agora saber que ele vai estar solto em um jardim bonito descansando já é demais. 

_ Nós só temos que derrubar a tese de que ele está perturbado usando essa alegação para sair em pune das acusações. 

Bernardo me abraçava, mas eu sentia que ele estava tão indignado quanto eu, mesmo ele tentando me acalmar.

_ Calma Gui.

_ Eu não quero ficar calmo Bê, chega de ficar calmo, eu quero justiça, apenas justiça. Ele agiu premeditadamente Bê e ainda vai sair beneficiado com uma clínica de repouso? _ É por essa razão que muitos pensam em fazer justiça com as próprias mãos, evidenciamos tantas injustiças que pensamos em nos igualar a esses criminosos.


_ Eu sei que a justiça as  vezes é falha em vários casos, mas pensar em fazer justiça com as próprias mãos não é solução de nada, a vingança cega suas vítimas, eu sei é algo revoltante ver alguém que te fez tanto mal ficar gozando de boa vida enquanto muitas vezes a vítima tem que se manter presos, mas se cada um de nós formos nos levar por esse sentimento não haveria uma pessoa do lado de cá para exigir justiça entende seu Guilherme, eu farei de tudo para ele receber a pena máxima que não passa de 30 anos, ele por mais que receba uma pena maior que 30 o código penal  
previne que um cidadão não permaneça em reclusão por mais tempo. 

_ Eu concordo com o advogado Gui, a dor de ver uma injustiça sendo cometida e não vê o resultado que esperamos que a lei venha a ter, nos deturba a visão sobre ela e acaba nos cegando de tal forma que queremos de todo o jeito punir aquele que sabemos ser culpado ou até que acreditamos ser culpado, mas se tomarmos as mesmas atitudes que aqueles a quem condenamos, estaremos agindo da mesma forma, ou seja pecando querendo corrigir o pecador. 

_ Vocês estão certos, é só que eu tenho medo dele fazer algum mal aos meninos novamente, eu quero ele bem longe dos meninos Bê, é só isso o que eu quero.

_ E ele vai ficar Gui, calma. Nós não permitiremos que ele se aproxime novamente dos meninos.

Era difícil ter um pensamento politicamente correto com a possibilidade do Glauco se aproximar novamente dos meus filhos ou de Bernardo, ele era o meu irmão, mas eu o mataria com minhas próprias mãos se novamente ele ousasse se aproximar de um deles. Eu nunca me imaginei tendo um pensamento como aquele, mas só de pensar na possibilidade de ver Samuel e Daniel em perigo me subia o sangue tirando qualquer sanidade de que eu ainda era possuidor. 

Eu não iria falhar em mante-los em segurança, era minha obrigação fornecer proteção a eles, eu era o pai deles. 

Faltando algumas horas para a primeira audiência no tribunal, onde eu ficaria cara a cara com Glauco depois de meses eu estava apreensivo, ansioso, mas convicto de que faria a minha parte para que ele passasse um bom tempo na prisão.  A professora seria a primeira a prestar o depoimento, depois seria Lana, eu seria o terceiro, apesar de ser um depoimento secundário pois não estávamos na hora em que ele atirou nos dois cúmplices e em Samuel, eu daria enfase no meu depoimento falando sobre o sentimento de um pai, que vê o seu filho em perigo, na dor que foi esperar aquelas 72h de agonia sem saber como ele reagiria a operação, já Bernardo seria um dos últimos a prestar o seu depoimento sendo a vítima ocular junto aos policiais que ali estavam presentes na hora em que ele efetuou o disparo.

Glauco estava sendo julgado por duplo homicídio doloso qualificado e uma tentativa de homicídio, dois carcere privado, sequestro e resistência a prisão. 

Começava o julgamento, alvoroçados os telejornais anunciavam a todos os momentos que começariam hoje o julgamento do tio que sequestrou o sobrinho, matou dois homens e manteve o sobrinho e o pai em carcere privado. 

Já estávamos todos na sala quando alguém anunciava a entrada do juiz:

_ Todos de pé, sua excelência o juiz Bryan Junqueira - imponente o juiz se apresentou sentando-se no seu lugar e o arauto voltou a dizer _ Podem sentar-se.

Todos nós nos acomodamos. O juiz bateu o martelo pela primeira vez:

_ Está aberta a sessão. 

O arauto voltou a tomar a palavra:

_ Processo número 40078 réu Glauco Andrade. Duas acusações de homicídio doloso qualificado, uma acusação por tentativa de homicídio, duas acusações  por sequestro, duas acusações por carcere privado, uma acusação de abandono de capaz, uma acusação por resistência a prisão.

Com uma calma espantosa o juiz voltava-se para Glauco perguntando:

_ Como se declara.

O advogado respondia em seu lugar.

_ Com todo respeito a esse juri e ao excelentíssimo juiz, o meu cliente se declara culpado em algumas dessas acusações e inocente em outras, e declara que não estava bem mentalmente no momento em que os acontecimento sucederam.

Começava assim os depoimentos, a professora era a primeira.

Ela começava a falar que ele havia chegado na sala e dito que ele havia vindo buscar os meus filho, que ele sorria de forma gentil e como ele já havia buscado os meninos algumas vezes nunca imaginou que a verdadeira intenção de Glauco era sequestrá-los.

Depois foi a vez de Lana que foi questionada pelo advogado de defesa o porque ela não havia buscado os meninos no horário certo. 

Em todo o tempo o advogado de defesa procurava justificar o comportamento de Glauco alegando perturbação emocional, isso era algo que me deixava enojado, como podia alguém tentar justificar uma pessoa tentar matar uma criança de 8 anos? 

Chegou a minha vez de prestar o depoimento:



Em busca de redençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora