Acordei dentro de uma banheira, minha cabeça doía. Estava completamente nu, meu corpo apenas estava coberto por uma toalha que entrelaçava a minha cintura e um pouco da virilha. Botei a mão no meu rosto e esfreguei meus olhos. Parecia que eu tinha dormido por mais de uma semana, não me lembrava de absolutamente nada que havia ocorrido. Olhei ao redor do local e não consegui enxergar nada, minha visão estava turva e meu corpo quente.
Levantei com certa dificuldade, meu corpo estava completamente dolorido, não sabia onde estava, senti a textura da banheira e sua temperatura fria tomando conta dos meus pés. Apoiei-me na parede com certa dificuldade, estava ofegante. Demorou um tempo até minha visão ficar focada e quando ela focou, vi que estava em um banheiro praticamente sem mobília, apenas uma banheira suja e mofada no centro do local e um espelho fixado na parede. Olhei para baixo e vi o sangue pingando na banheira e rapidamente botei a mão no meu pescoço e senti o meu sangue quente, sai da banheira e a toalha que estava entrelaçada em minha cintura caiu no chão. Não liguei. Havia absolutamente ninguém no recinto, me dirigi em direção ao espelho e vi um furo em meu pescoço, ele parecia recente, uma pequena quantidade de sangue ainda escorria, me dirigi até a toalha e a peguei, enrolei ela novamente em meu corpo e me dirigi até a porta da sala, quando minhas mãos iam tocar a maçaneta, observei uma pequena seringa jogada no chão, ela não tinha nenhum líquido e não parecia estar jogada lá por muito tempo.
— Mas que porra? — Falei comigo mesmo.
Peguei a seringa do chão e analisei, obviamente não achei nada. Quando abri a porta eu ouvi passos distantes além de um murmuro de uma pessoa.
— Ótimo, estou quase nu e tem gente aqui!
Os passos de repente cessaram, senti um calafrio em minha espinha, senti uma brisa gelada que me arrepiou, e do nada, passos pesados começaram á tomar conta do corredor. Me senti uma criança novamente, com medo do escuro em plena noite chuvosa, se assustando com os raios e quando olhava para janela e via a silhueta preta de algo me observando.
Corri sem pestanejar, uma das minhas mãos segurava a toalha para ela não cair, o passo começava á ficar mais forte e próximo. Meu coração batia rapidamente e o corredor ficava cada vez mais largo, entrei na primeira porta que vi e me escondi debaixo da cama. “Que diabos está acontecendo com você Mike? Você não é mais uma criança, você tem vinte e cinco anos!”.
Minha mente me martelava, estava agindo como criança. O passo continuava. Não tinha percebido nenhuma característica do quarto quando entrei, apavorado, nem percebi que ele era completamente escuro e era iluminado apenas por uma vela em cima de uma cabeceira colocada no canto direito da sala. Os passos se aproximavam, fechei os olhos com força, sentia que algo estava por perto. Finalmente eles cessaram, abri os olhos e vi a silhueta de algo parado em frente a porta, baforando nervosamente, meu coração começou á bater rápido e fiquei ofegante, o suor frio escorria pelos meus olhos, rezava para aquilo acabar.. Apenas queria.. Paz..
Ele parou de baforar e seguiu reto, respirei aliviado e saí debaixo da cama, fui em direção á vela ás cegas e a peguei, do lado dela, havia um pequeno bilhete, peguei ele e li com certa dificuldade, ele estava com a letra borrada e completamente tremida, a caneta aparentemente tinha falhado em diversas partes, o bilhete tinha marca de sangue nas laterais. Ele dizia o seguinte:
“Não agüento mais ficar aqui, minha mão dói, eles retiraram um pedaço da carne dos meus dedos e disseram que era para o bem da humanidade.. Eles estão me destruindo cada vez mais, toda manhã eles retiram uma grande quantidade de sangue de minhas veias, não como á uma semana, estou magro.. Estou fraco..”
A outra parte estava ilegível, a caneta borrada e os pingos de sangue tornavam aquilo mais do que ilegível. Além da escuridão do local. Senti um calafrio na minha espinha e virei assustado, não vi absolutamente nada. Na cama ao meu lado haviam roupas, surradas e velhas, obviamente, mas eram roupas, retirei a toalha de minha cintura e joguei ela no chão. Peguei a roupa e a vesti, estava finalmente vestido, deixei a vela em cima da mesa e me dirigi em direção á porta e abri ela lentamente.
— Por favor, que não tenha ninguém aqui..
Botei meu pé para fora do quarto e fiquei sozinho naquele corredor imenso e sem vida, as paredes eram da cor cinza e o piso era de mármore, meu estomago estava embrulhado e sentia vontade de vomitar. Dei passos lentos, o medo percorria o meu corpo, eu não sabia onde estava, fiquei um bom tempo andando naquele corredor imenso observando apenas a parede cinza, até que parei quando vi que mais á frente, havia um rastro de sangue.
Comecei á tremer de medo, senti as paredes fechando novamente, fiquei paralisado. Tomei forças e dei mais um passo para frente, estava chegando á poça de sangue. Estava alguns metros perto da poça de sangue quando ouvi um barulho estranho. Parecia barulho de carne molhada sendo dilacerada por uma boca selvagem e faminta, o barulho parecia vir da esquerda.
— Por favor, não seja nada.. — Desejei.
Fui lentamente para a esquerda do corredor e dei de cara com um corpo ajoelhado diante de outro repousado no chão, suas mãos iam diretamente á sua boca e o barulho de carne dilacerada ficou mais alto. O cheiro.. É difícil descrever, algo que embrulha seu estômago, o cheiro podre invadia minhas narinas. A aberração respirou fundo e uma grande quantidade de pus saiu de suas costas, levei a mão até a boca para segurar o vômito, comecei á ficar tonto e minha visão ficou turva, recuei lentamente para trás. A aberração voltou á comer, dilacerar a carne com seus dentes, fui recuando mais e mais até que escorreguei no rastro de sangue. Caí no chão, dei um grunhido de dor. A aberração parou de comer e se levantou lentamente, tentava levantar do chão mas escorregava no rastro. Ele se virou e pude ver seu rosto, sua face toda deformada, sem um olho, com um pedaço da bochecha faltando, sua boca cheira de sangue e carne podre. O seu único olho era vermelho sangue, sua orelha estava pela metade ele estava sem a metade dos dedos. Reparei na caneta pendurada em sua camisa. Lembrei do bilhete que tinha lido naquela sala, fiquei encarando aquela criatura. Estava travado, comecei a suar frio e ficar ofegante.. Minhas pernas tremiam.. Não sabia o que fazer..
Ele se aproximava de mim, em um impulso eu levantei e corri em direção ao primeiro corredor que eu vi. Conseguia escutar seus passos pesados atrás de mim, parei em frente á uma porta e tentei abrir-la, ela estava trancada.
— Merda, ABRE LOGO!
Coloquei toda minha força na maçaneta. Sem resultado, a porta continuou trancada, os passos estavam cada vez mais próximos. Comecei a tremer mais e mais. Avistei aquela criatura se aproximando de mim com seus braços estendidos. Senti um calafrio na espinha. A distância estava encurtando até que ele ficou menos de 1 metro de mim. Quando já estava convencido que iria ser atacado a porta se abriu bruscamente e eu fui puxado para dentro da sala e senti uma mão tapando a minha boca. A mão provavelmente estava coberta por uma luva pois sentia o tecido de couro em minha pele. Onde eu estava?
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RED FALLS - Sanatório
Science FictionMike Kennedy acorda em um sanatório localizado na cidade fictícia de “Red Falls”, sua missão: Sair dali. Porém, nada será fácil, o local era usado para experiências doentias e grande parte dessas criaturas sombrias foram jogados lá sem serem ao meno...