[37] Banho de Refrigerante

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Podemos conversar agora?

Era o que estava escrito na segunda mensagem que Melissa me enviara só naquele dia.

Eu não respondi depois de ler. Apenas soltei um suspiro e desliguei a tela do celular, largando-o na mesa antes de voltar a atenção para o meu hambúrguer.

Um pouco depois, o sino atrás de mim tilintou indicando que alguém havia entrado na lanchonete.

Dei mais uma mordida no meu lanche, observando as mesas vazias e ocupadas à minha frente.

- Por que você não responde as minhas mensagens?

A voz surgiu me causando um leve frio na barriga. Olhei na direção da dona da voz. Melissa estava parada ao lado da minha mesa, com uma expressão questionadora.

O que ela estava fazendo aqui?

Mastiguei o lanche vagarosamente, olhando para ela.

- Responde, Analu - exigiu ela, sem tirar os olhos do meu rosto.

Engoli o lanche e finalmente perguntei:

- E por que eu deveria te responder?

Ela me encarou por mais um segundo e só então, disse:

- Qual é o seu problema?

- Eu é quem pergunto, Melissa - eu a fitei. - Você disse que a gente não podia mais se ver e agora quer que eu responda suas mensagens?

Ela não falou nada. Só suspirou e deslizou para o banco à minha frente.

- Eu só quero conversar - disse, apoiando as mãos sobre a mesa.

- A gente só pode conversar quando você está a fim?! - disparei. - Por que é só você que decide? Isso não é justo, sabia?

- Me desculpa, eu...

- Eu estou cansada das suas desculpas, Melissa - eu a interrompi. - Decida se você quer ficar comigo ou não!

- É claro que eu quero - ela disse, os olhos atentos no meu rosto. - Mas você sabe que minha vida está complicada depois que aconteceu aquilo, Analu. Por favor, me entenda.

- Eu te entendo - falei, sincera. - Mas não vou aturar isso. Ou a gente passa por isso juntas ou acabamos aqui - me recostei no banco estofado, olhando para ela com determinação. - Você escolhe.

Melissa me fitou um tanto incrédula.

- ... Eu não quero acabar com o que temos - ela revelou.

Inspirei fundo, fechando os olhos por breves segundos.

- O que você quer, então? - abri os olhos e a encarei. - Ou melhor... como ficamos?

- Podemos... Sei lá, podemos continuar como estávamos.

- Com você me evitando?

- Não - havia aflição em seus olhos. - Olha... me desculpa por ontem. Eu realmente não queria ter agido daquela forma. É que eu tenho muito medo que minha mãe descubra. Ela parece desconfiada o tempo inteiro.

Eu assenti.

- Tudo bem - eu disse. Em seguida, peguei meu refrigerante e dei um gole. - Como queira, Melissa.

Ela continuou olhando para mim. Eu fiz o mesmo com ela. Isso durou alguns segundos e foi tempo o suficiente para o sino tilintar novamente.

- Olha quem está aqui - a voz de Noah ecoou até meus ouvidos. Logo, ele apareceu ao lado da minha mesa acompanhado de Bárbara. - Oi, meus amores.

Anseios (PAUSADO TEMPORARIAMENTE) Onde histórias criam vida. Descubra agora