- Nos trilhos do trem

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- Você entendeu  Yuuta?  Não deve  sair   daqui   ate  que  a mamãe volte.
Yuuta   observou  o  rosto  de sua mãe atentamente.

Queria perguntar por que as mãos   que  amarravam  suas mãos e pés tremiam. Por que ela          estava         chorando enquanto  o  amarrava?

- Eu   fui    um    mal   menino mamãe? -  Ele        perguntou cauteloso,      com     toda      a inocência que só um menino de quatro anos pode ter.

- Só   me   espere   aqui,  tudo bem?  Quando   isso   acabar, você   será  feliz. - A   mulher falou    com    voz      tremula, ergueu-se       e           olhando nervosamente para os  lados, pôs-se   a   correr  de  volta  o caminho  que  percorrera.

  Yuuta permaneceu  parado, vendo sua mãe correr e  logo sumir   de  vista,  adentrando na  mata  fechada.    Ele    não podia      segui-la   nem     que pudesse,         pois         estava amarrado, por isso  ficou  ali, desejando     que     sua    mãe voltasse  logo.

   Ele   olhou   ao  redor,   não havia  nenhum    adulto   por perto,  somente   árvores.    A seus  pés  ele  reconheceu  os trilhos   iguais    aos   de   seu trenzinho   de   brinquedo   e animado ele se perguntou se conseguiria ver um  trem  de verdade.

   Depois do que  pareceu  ser uma eternidade,  quando  na verdade    foram   só    alguns minutos, Yuuta sentou-se  na parte    metálica    do    trilho, cansado.  Quando    sua   mãe voltaria?

   Um   apito    se    fez   ouvir  ao  longe   e  um  barulho  de motor  começou       a          se aproximar   com  vertiginosa velocidade. Yuuta olhou para o  trem   que   vinha   em  sua direção  e  sorriu.         Estava vendo um trem de verdade. Talvez   fosse   isso   que   sua mãe quisesse dizer  com  que ele seria   feliz  quando  tudo terminasse.   Yuuta    sempre amara trens.

   Ele  sentiu   uma   dor  forte que  não  durou  muito,  logo ele  já  não sentia mais  nada, mas   ele   estava   medo.  Por que   tanta    gente    agora   o rodeava?     Yuuta       chorou como    nunca   antes,    tinha muitos     adultos    ao   redor dele, mas   nenhum   era  sua mãe,  nenhum   olhava   para ele.

   Pouco  a  pouco  os  adultos foram embora, tal qual a  sua mãe,    eles      também     não olharam  para  trás,  também deixaram Yuuta lá.

- Mamãe…    Quando       você voltar eu vou ser bonzinho. -Ele        falou      com    a    voz embargada.

   No      céu   um    relâmpago cortou a noite escura  e   logo uma   chuva   torrencial  caiu sobre  aquele  lugar  deserto, onde Yuuta ainda esperava. Ele   ficou   olhando   para    o lugar onde a vira pela ultima vez, como se soubesse  que  a qualquer        instante        ela voltaria para buscá-lo.  Então talvez   eles  pudessem  ir  ao parque  de  diversões.  Yuuta nunca   fora  ao  parque,  por que sua  mãe  estava  sempre ocupada,  sempre     bebendo aquele    suco    com     cheiro estranho e  que a fazia  bater nele sem nenhuma razão.

   Mas agora Yuuta sabia  que isso  tinha   chegado   ao  fim, sua mãe voltaria para  buscá-lo   e   eles   iriam  ser  felizes juntos.    Talvez       ela       lhe comprasse um cachorro, Yuuta    sempre  quisera   um cachorro,  ele    se   chamaria Valentino   e   seria  branco  e preto.  Yuuta   sorriu  para  si mesmo,  sim,  eles   iriam   ao parque   todas   as    tardes   e correriam juntos. Em dias de chuva brincariam no quintal e  entrariam   em   casa   todo lambuzado de  lama  quando sentissem  o  cheiro  de  uma fornada    de     biscoitos     de chocolate   saindo quentinha do forno.   Sua  mãe   fingiria estar  brava  e  lhe  daria  um banho de espuma e  com  um xícara de chocolate quente  e um prato de biscoitos eles se sentariam     em     frente      a lareira  e  Yuuta  ouviria  sua mãe ler seu livro preferido.

    Seu pequenino  coração  se apertou.

   Yuuta sorriu, sentindo uma lágrima quente escorrer por sua   face  mesmo  sob  a  fria chuva. Um dia ele veria a sua mãe novamente.

"É uma mentira, eu sei disso..."

   Ele sabia que já estava morto, mas ele ainda esperaria que sua mãe retornasse.

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⏰ Última atualização: Aug 26, 2018 ⏰

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O menino nos trilhos do tremOnde histórias criam vida. Descubra agora