Sempre fui do tipo de pessoa que não obedece às regras que estabelecem. Gosto de ser diferente, de ir contra tudo e a todos, costumam dizer que sou rebelde, mas prefiro dizer que sou revolucionário.
É segunda-feira de manhã, caminho como um "zumbi" em direção ao colégio, completamente cansado e sonolento por causa da festa na casa do meu amigo na noite anterior, cheguei de madrugada quando faltava pouco para o dia amanhecer. Devo ter dormido por minutos, já que acordei pior de que quando cheguei em casa, eu estava com uma aparência péssima, certamente logo após que eu chegasse do colégio, eu receberia um sermão da minha mãe que levaria horas.
Vou caminhando lentamente, sem a mínima noção de que lugar eu estava, quando escuto uma voz conhecida:
- Voltando tarde das festinhas, sem nem se preocupar com o amanhã, não é mesmo Lucas?
Olho ao redor e vejo o senhor Pedro, o velho fofoqueiro da minha rua, sentado em um banco em frente ao portão da casa dele como sempre faz todos os dias, durante o dia todo.
Eu estava cansado demais para retrucar alguma coisa, então optei por fingir que nem escutei, quando ouço outra voz:
- Lucas, espera, posso ir com você?
Viro na direção que vem a voz e vejo Alice, a patricinha filha do Pedro fechando o portão com pressa e correndo em minha direção.
- Venha. – Respondo secamente, sem a menor paciência.
Saio andando sem nem olhar para ela, que começa a conversar comigo, assuntos fúteis que é bem típico de garotas como ela.
Para minha sorte, nós logo chegamos e ela foi procurar as amigas dela, e eu fui em direção à sala de aula para tentar conseguir dormir um pouco, até a aula começar e os professores começarem a chamar minha atenção, como sempre fazem.
Dormi por pouco tempo pelo visto, porque dentro do que pareceu segundos, acordei com a professora de inglês gritando meu nome e todos rindo.
As aulas se seguiram lentamente, as horas se arrastaram sem pressa, hora ou outra eu caia no sono e era acordado pelos gritos dos professores. Quando o sinal do término das aulas tocou, após ter guardado minhas coisas, tomei um susto ao ver Alice parada na minha frente me olhando.
- Que susto, garota! – Disse com raiva – O que você quer?
- Desculpe – ela disse com uma voz serena – Eu só queria saber quais são seus planos para essa noite.
- Não sei, talvez saia por aí, sem rumo certo.
- Hãn... – Ela dá uma pausa antes de prosseguir, provavelmente pensando no que iria dizer – Será que teria como você me encontrar logo após as 23 horas, depois que meu pai dormir?
- Por qual motivo? – Pergunto enquanto saio andando rumo à saída.
- Queria que você me ajudasse a ser como você, rebelde.
- Alice, primeiramente não sou rebelde – respiro fundo – Eu sou revolucionário, depois você não aprende a ser, você nasce sendo.
- Por favor, Lucas – ela pede de um jeito, que acaba me deixando com dó.
- Tudo bem, me encontre às 23:30 em frente a minha casa. – Digo e saio, deixando-a parada aparentemente feliz em frente ao portão.
O restante do dia passou surpreendentemente rápido, à noite tomei um banho, jantei e fui esperar Alice em frente a minha casa, cerca de alguns minutos depois ela chegou, fiquei impressionado em como ela estava linda a luz da lua.
Sai do meu "transe" e começamos a conversar, diferente das outras vezes a conversa estava interessante, nos divertimos bastante e até esquecemos do motivo pelo qual nós tínhamos nos encontrado. Assustei ao ver que eram quase 2:30 da madrugada.
- Alice, acho melhor você voltar para casa – digo levantando-me do chão e estendendo minha mão para que ela se levantasse também – Seu pai pode acordar a qualquer momento, e do jeito que ele é, não duvido que não vá ver se você está mesmo dormindo.
- Você está certo – ela diz – Mas as horas passaram tão rapidamente e nossa conversa estava tão interessante, que nem vi o tempo passar, e muito menos pensei nesse fato de que a qualquer momento meu pai pode acordar.
- Nós nem entramos no assunto de ser rebelde.
Alice riu.
- Verdade. Será que poderíamos nos encontrar novamente amanhã nesse mesmo horário? Dessa vez falaremos do assunto.
- Está bem. – Respondo – Agora você precisa ir, boa noite, Alice.
Ela se despediu de mim e correu até sua casa.
Entrei em minha casa, e já no meu quarto fiquei por um bom tempo pensando em Alice. Não pode ser, eu não podia estar apaixonado.
O outro dia passou como todos os outros, nada de novo aconteceu. Quando a noite chegou fui ansiosamente esperar por Alice, que chegou poucos minutos depois ainda mais bonita do que na noite anterior. Dessa vez fomos dar algumas voltas sem rumo certo.
Conversamos sobre vários assuntos e desta vez falamos sobre ser revolucionário, porém, algo parecia estranho, era como eu já não quisesse mais ser assim.
Voltamos para casa no mesmo horário da noite anterior e marcamos de nos encontrar novamente na noite seguinte. E assim foi por várias semanas, cada noite nos víamos, e a cada minuto que se passava eu sentia que estava cada vez mais encantado por Alice. Também sentia que estava deixando de ser o que até então eu era, aquela menina estava me transformando em outro Lucas. Um que eu nem imaginava que pudesse existir.
Em uma dessas noites de encontro, enquanto estávamos sentados em um banco na praça do outro quarteirão, em absoluto e constrangedor silêncio apenas observando as estrelas, Alice com a voz baixa disse-me que nesses dias que estávamos nos vendo, um novo sentimento por mim começou a surgir no coração dela, que ela contava os segundos para nos vermos novamente, disse-me também que não parava de pensar em mim e que quando me via ficava eufórica.
Eu nem precisei dizer algo. Quando dei por fé eu já estava beijando-a, com toda a paixão que eu poderia sentir, a melhor sensação que eu já havia provado.
Alguns dias depois, quando pude ter certeza que perdi a batalha para o meu coração, pedi para namorar Alice. Que como eu imaginava, aceitou.
O problema no início era o pai dela, o senhor Pedro. Ele estava resistente para aceitar que a filha dela namorasse um "qualquer", ele falava mal de mim para os vizinhos, algumas vezes impedia Alice de me ver, porém algum tempo depois, ao observar minha mudança, ele acabou aceitando.
Hoje vivo muito feliz ao lado de Alice, nos completamos e nos entendemos muito bem. Quanto a ser revolucionário, bem, já mudei completamente e digo que o amor me transformou. Quando aprendemos a amar, o amor pode mudar o mundo.
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Aprendendo a amar
Short StoryEsse foi um dos primeiros contos que escrevi e ele é muito especial para mim. Eu o escrevi para um trabalho no colégio em 2015, a professora o adorou e recomendou que eu participasse de um concurso anual de contos e poesias aqui da cidade com ele. O...