Capítulo Oito - Parte 01

1.1K 74 2
                                    


Alguma coisa o acordou. Ele não sabia dizer o que tinha sido, seria um barulho? Levou um tempo para entender onde estava e mais um pouco para perceber que estava sozinho.

E novamente ele ouviu o barulho. Era um soluço abafado pela distância e pelo vento, mas despertou seu instinto de proteção mesmo enquanto dormia. Alfonso jogou para o lado as cobertas e foi até a sala, onde encontrou a porta de correr aberta para o jardim, Anahí estava de joelhos junto ao lilás, aos soluços, e a cena o comoveu.

Isso era tão injusto. Quanto mais ela poderia suportar? Ele não sabia se devia ir até ela ou não. Não, ele pensou. Ela espe­rou para ficar sozinha para chorar, e ele tinha de respeitar isso.

Alfonso a viu se levantar meio desajeitada e caminhar até os fundos do terreno e se sentar nos degraus que levavam até a praia. Ela parecia tão desamparada, sentada ali sozinha olhan­do para o mar, que ele não resistiu. Mesmo descalço, ele foi ao encontro dela, pisando na grama molhada, e sentou-se do lado dela. A princípio ela não disse nada, depois ela deu um suspiro e abriu um sorriso triste.

— Desculpe-me — ela disse baixinho. — Sei que pareço patética, mas tive tantas perdas recentemente que a gatinha foi a gota d'água. Ela era tão meiga, vou sentir muita falta dela...

— Claro que vai e você não está nada patética. Acho que você foi bastante corajosa. — Alfonso passou o braço em tor­no do ombro dela e ela deitou a cabeça sobre seu ombro, o cabelo dela entrou no seu ouvido fazendo cócegas.

Alfonso tentou tirar o cabelo, e seus dedos puderam sentir a maciez dos fios. Macios como seda. Linda. Ela levantou a cabeça para fitá-lo sob o luar e de repente tudo parecia esperar, como se até o mar aguardasse. Alfonso sentiu a mão de Anahí segurar seu rosto, e ele se virou para beijar-lhe a palma da mão. Em seguida a encarou.

— Anahí?

Ele falou tão baixinho que não sabia se Anahí tinha ouvido. Por um instante interminável ela nada fez. Depois, ele sentiu os dedos dela se embrenharem nos seus cabelos e puxá-lo até os lábios dela. Logo em seguida, o mundo voltou a girar em seu eixo, o mar voltou a bater e tudo parecia ter voltado ao normal de novo.

— Ah, Anahí... — ele murmurou, embalando a cabeça dela em suas mãos e a beijando de novo e de novo até que de re­pente a ternura se transformou em calor.

Ele ficou em pé e a levantou, e a levou de volta para seu quarto, deixando a porta aberta para ouvirem o barulho do mar. Então ele a virou e a beijou, segurando-a pelos ombros, olhando em seus olhos. Ele deixou as mãos deslizarem pelos braços dela até se darem as mãos.

— Tem certeza? — ele perguntou e ela balançou a cabeça.

— Tenho sim.

— Vai ter de me dizer como fazer, pois eu nunca fiz amor com uma mulher grávida antes.

Ela riu. Ele segurou a camisola dela e ela ergueu os braços para ajudar a tirá-la. Alfonso ficou extasiado de ver o corpo dela. Nossa, como era linda. Ele largou a camisola e fez um cari­nho na barriga redonda.

— Você é linda. Tenho tanto medo de machucá-la.

— Você não vai me machucar. Dizem que faz bem à saúde.

— É mesmo? Assim como as vitaminas?

— Mais ou menos.

Ele sentiu as mãos dela baixando sua cueca e deixou que ela olhasse para ele.

— Uau, posso lhe dizer que é lindo?

Ele deu uma risada e a pegou nos braços, sentindo-a quen­te, firme e feminina junto ao seu corpo. Alfonso a beijou com sofreguidão.

A sensação foi maravilhosa. Anahí nunca tinha se sentido tão amada, tão querida e tão bonita em toda sua vida. O corpo dele era lindo. Firme e musculoso, com poucos pelos no peito e descendo até o impressionante...

— Você sempre observa as pessoas enquanto dormem?

Ela riu envergonhada e puxou as cobertas cobrindo os dois.

— Quase sempre estou sozinha.

Ele se virou para ela, passou a mão pela sua nuca e a beijou.

— Eu também estou sozinho, há algum tempo.

— Fale-me sobre Catherine.

— Não há nada para falar. Não quero pensar nela.

— Mas acabou de pensar nela quando disse que estava sozinho há algum tempo.

— Vai insistir com isso até eu falar, não é?

— Provavelmente.

Ele deu um suspiro e se deitou de costas, puxando-a para o seu lado.

— Nós éramos amantes. Trabalhamos juntos por três anos em vários projetos, e ela dormia com outra pessoa da mesma equipe ao mesmo tempo, durante um ano e meio.

— Nossa! E você trabalhava com os dois? Não quis matá-lo?

— Matá-la.

— Era mulher?

— Sim. Angie. E como poderia disputar com uma mu­lher? Se fosse outro homem, eu estaria em pé de igualdade. Você tem um carro maior, uma renda maior, enfim. Mas com uma mulher? Não sabia nem por onde começar.

— Então o que fez?

— Vim embora. Vendi tudo e voltei para cá.

— E não contou nada para ninguém.

— Como sabe disso?

— Porque já perguntei, e ninguém sabia de nada. Alice disse que só você poderia falar sobre a própria vida. — Anahí se aconchegou mais nele. — Isso deve ter sido horrível! Ela dormiu com os dois e não disse nada, mentiu para você; não foi à toa que fugiu.

— Eu não fugi, vim embora. E ela ainda tentou vir atrás de mim, mas eu a mandei para o inferno. E a namorada dela deu o fora.

— Por que ela não se abriu com você? Por que continuou com a farsa?

— Porque o pai dela era pastor protestante, e já era difícil enfrentá-lo por viver comigo. Se ele soubesse que a filha ti­nha um caso com uma mulher, seria o fim. Acho que eu ser­via para encobrir sua verdadeira opção.

— Então ela o usou como disfarce?

— Acho que sim.

— Que desastre.

— Não importa. Isso é passado.

Será? Anahí achava que não. Alfonso dissera que não servia para ela. Não teria dito se não acreditasse em tal coisa. E ele devia ter amado Catherine antes de descobrir tudo. Não é mesmo?

Lar da Paixão (ADP)Onde histórias criam vida. Descubra agora