Estou deixando meu emprego.
Não digo por estar somente fechando as portas e as trancando com o bolo metálico de chaves que faz as palmas das minhas mãos coçarem. Estou, verdadeiramente, indo embora. Não irei voltar. Aliás, isso se denomina como um ponto muito necessário para alguém que escolhe entrar em minha vida. Uma vez que saio, jamais terei intenção de voltar novamente, e se um dia me interrogarem com questões singulares sobre o motivo, direi que todos nós o fazemos em algum momento. Este é um dos maiores pecados da humanidade, no qual alguns se culpam e outros sorriem por terem abandonado suas marcas.
Mas não iria acontecer. A partir de hoje, nunca mais tornariam a me perguntar algo.
Detalhe bem e perceba que ninguém está de fato ao seu lado. Todos nós somos adversários uns dos outros desde que nos consideramos humanos. Isso acontece porque temos sede por atenção e sucesso há todo tempo. Viver é uma competição, e por esta razão temos sempre que estarmos bem-sucedidos e com uma boa história a contar. O enredo de sua vida não pode ser entediante, caso contrário, não haverá público capaz de suportar sua apresentação teatral. Nem mesmo o melhor e mais doce amor de sua vida terá mero interesse em seu roteiro nada original.
Estamos sempre lutando por um lugar na sociedade, esperando por uma oportunidade para estar na vida de alguém, esperando a hora certa para dizer o que sentimos para o tal. Eu não me vejo mais participando disto.
Meu corpo sempre precisou de outro. Perambulo pelas ruas com a necessidade de ser preenchida. Por favor, não romantize esta frase. Desejo ser sempre preenchida em um profundo do meu ventre. E que nenhum amaldiçoado um dia resolva sair dele, pois todos sabem no que aquelas coisas ingênuas que carregamos por nove meses se tornam depois: Humanos pecadores, como nós estamos sendo agora. Você sabe que eu não mentiria sobre isso, estamos tendo uma conversa sincera neste momento. A única coisa que preciso saber para confirmar esta ideia é ter a resposta ideal para a seguinte pergunta: Quem foi o desgraçado que denominou o pecado como algo ruim?
Minhas mãos pressionam o volante até que o topo dos meus dedos fique esbranquiçado. O celular ao meu lado, no banco do passageiro. Estou ligando para o desconhecido esta noite, convicta em depositar minha amargura em seu corpo, e quem sabe talvez em sua alma. Trepávamos em todos os momentos que ele se sentia vazio, e eu sempre estive lá para acolhê-lo com meu corpo. Era uma pena que ainda que estivesse tão perto de entrar em meu coração, ele preferisse entrar em minha boceta. Depois que acabava, sempre iria embora.
Sim, sempre.
— Diga, Adelaide. Estava pensando em você agora mesmo. O que houve? Quer transar, precisa de dinheiro, ou o quê?
Seu timbre se arrasta na linha, causando grunhidos e suspiros de sono. Ouvindo aquilo, percebi que não importasse o que eu fizesse, ele nunca ficaria. Não passo de um simples corpo negro, com um par de seios medianos para oferecer, afinal, era apenas isto que ele desejava vindo de mim.
— Me responda uma coisa... Seria capaz de morrer ao meu lado? — pergunto, encarando duramente a estrada vazia e escura em minha frente. Por algum motivo tive receio de obter uma resposta.
Ele soltou uma risada fraca e desacreditada. Tão leve como o seu tom de voz.
— O quê?
— Tudo bem. Ao meu lado ou por mim. — A linha se mantém muda, mesmo com minha tentativa de amenizar aquela questão. Revirei o olhar com desdém. — Aliviei para você. Apenas escolha, concorde ou negue. Você consegue fazer isso, não é?
— Oh. — diz, surpreso. — Huh... Sim, mas seria mais fácil morrer com você. Não aceitaria deixar de ser seu parceiro de foda pra vê-la me trocar por outro.
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NEXY MOTEL (DEGUSTAÇÃO)
Short StoryQuem definiu o pecado como algo ruim? Somos humanos que agem por impulso, perturbados por antigos, presentes ou futuros erros, frutos do desconhecido. Alguns de nós transformam isto em textos prazerosos, que poderão causar a outros reflexões doloro...