01|Onde Tudo Começa

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*Morro do Alemão, 10/12/18, 19:00 p.m.

---Mãe estou indo para o cursinho! ---Grito para que minha mãe que está lá na cozinha me escute.

---Sim! Já deu comida para o Juninho?--- Reviro os olhos, minha mãe trata meu irmão mais novo como um bebé, coisa que ela nunca fez comigo.

---Já mãe. Ele está assistindo desenho, agora eu já vou porque eu estou atrasada! ---Grito uma última vez antes de sair do meu humilde barraco.

Sou nascida e criada na comunidade do alemão. Vivo com minha mãe e meu irmão mais novo em um barraco simples, de apenas 3 cômodos.  Ao todo somos 4 irmãos. Diogo, o mais velho, vive em Copacabana e nem lembra que nós existimos, possui um negócio próprio, vive bem e morre de medo do morro.
Tâmara, a minha outra irmã, vive aqui no morro com sua familia, que são seu marido David e seu filho Martin. Bernardo é o caçula da família, um garoto super esperto e inteligente, que encanta a todos com seu jeitinho meigo, nós quatro temos em comum além do sangue, a ausência dos nossos pais. Eu nunca conheci meu pai biológico, na verdade minha mãe nunca falou dele para mim. Me trancou no morro e nunca falou o por que e nem de onde herdei tantos traços exóticos. O pai que eu conheci foi o Bernardo, pai do Juninho, que infelizmente foi assassinado anos atrás por uma bala perdida.

---Boa noite, seu Zé! ---Cumprimento o idoso que vende balas em frente a minha casa.

---Boa noite Alexia! ---Ele devolve o cumprimento com um sorriso sem dentes.

Continuo descendo o morro até o cursinho, onde faço pré vestibular, por um triz não tive o mesmo destino da maioria das meninas do morro. Por pouco não abandonei os estudos de vez. Hoje continuo batalhando pelo meu sonho de ser médica.

Arrumo a mochila no meu ombro e passo pela quadra onde vai acontecer daqui a pouco um baile funk. Alguns homens que arrumavam o som fazem piadinhas.

---Oh ruivinha gostosa do caralho! Tua bunda foi a coisa mais linda que Deus fez mulher! ---Reviro os olhos.

---Vá tomar naquele lugar caralho, me respeita caramba!---Grito de volta mostrando meu dedo do medo.

Eu sinceramente me acho bonita. Minha pele branca, que herdei do meu pai---meu verdadeiro pai, não o pai do Juninho---meu cabelo ondulado ruivo e meu corpo cheio de curvas, são o carro chefe para mim não passar despercebida.

Mesmo com todos esses atributos a macharada não costumar chegar em mim. Minha fama de indomável não deixa eles se aproximarem.

Atravesso mais um beco, onde encontro alguns dos "Soldados" do Grego.

Ele é conhecido como príncipe do trafico, e é Com certeza o homem mais bonito do morro.

Ele faz qualquer novinha ou coroa cair de joelhos agradecendo a Deus por ter criado uma coisa tão perfeita.

Ninguém sabe nada sobre ele, nem seu nome nós sabemos. Ele chegou aqui como braço direito do Fantasma---antigo chefe do alemão e que hoje é realmente um fantasma--- E daqui nunca mais saiu, assumindo o posto do fantasma quando ele morreu.

Sabemos apenas que ele nos protege. Mesmo sendo um traficante , ele protege o morro com unhas e dentes, e nunca deixa nada de ruim acontecer com nenhum morador.

A experiência mais recente que tivemos foi um homem na casa de seus cinquenta anos que aliciou e estuprou uma menina de 14. O pai da menina foi ate o Grego, contou o ocorrido e no mesmo instante começou a caçada pelo homem.

Não demorou muito e o criminoso foi pego, levado para a quadra--- Aquela mesma que vai rolar o baile funk--- e teve seu castigo.

O Grego mandou que colocassem uma coisa como um troco bem no meio da quadra, eles levaram o homem ate lá, pregaram suas bolas com pregos nesse tronco, colocaram mais madeira ao redor dele e atearam fogo.

O Príncipe Do TráficoOnde histórias criam vida. Descubra agora