IV - Peter

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O clima havaiano sempre me alegrava. Mas o que me animava mesmo era surfar nas praias do Havaí. E quando digo Havaí, eu me refiro à Banzai Pipeline, uma das melhores praias do mundo para surfar, e é em Pipe que acontece a final do Mundial de surfe. O Hostel em que estamos hospedados se localiza exatamente de frente para Pipeline. Se é o lugar mais cobiçado pelos surfistas? Com certeza. Mas como é o Hostel da tia Liza, somos exclusivos.

- E então, estão cansados ou querem ir para a praia? – Pergunta Kai.

Kai era o filho mais velho de Liza. Nos conhecemos há 5 anos em um campeonato de surfe no Havaí, e desde estão somos bons amigos.

- Eu topo. – Diz Thomas.

- Na verdade, eu tenho que ir para Waikiki. Reunião com os patrocinadores. – Falo. – Mas se divirtam por mim.

- Acho que vou com Peter. – Diz a irmã mais nova de Kai, Lana.

- Não, preciso que me ajude com os preparativos para o luau de boas-vindas. – Tia Liza sempre fazia esse luau para comemorar a primeira semana da competição mundial.

- O.k. então. – Resmunga Lana.

Depois de dirigir por uma hora, finalmente estava em Waikiki. E embora fosse inverno, - de acordo com as rádios locais – as praias estavam lotadas, graças ao bom clima do Havaí.

A reunião com os patrocinadores havia sido em um Hotel na orla da praia de Waikiki. O que me fez querer ficar um pouco na praia depois de acertar os patrocínios.

O dia estava bonito, e o Sol estava queimando de leve a minha pele. Com o mar na minha frente, decidi dar um mergulho. Peguei a prancha no carro e entrei na água. Fui remando não muito longe da costa. A água estava cristalina e muito gelada. Parei de remar e olhei para as pessoas em volta, especificamente para uma garota que tentava ficar em pé na prancha. E sem perceber eu já estava rindo de sua situação. Ela tentava de todas as formas, mas nenhuma a ajudava.

- Ei, moço. – Alguém cutuca meu braço. Olho e era uma criança em cima de uma prancha de surf.

- Ei campeão.

- Eu te vi na televisão semana passada. – Ele diz empolgado. – Você surfa, não é?

- Sim. – Sorrio e ele sorri de volta.

- Que legal. Eu também sei surfar. E quando eu crescer, eu vou ganhar muitos troféus. Eu e os meus amigos estamos torcendo por você no campeonato.

- Ah, muito obrigada... – Digo esperando que ele diga seu nome.

- Andrew – Ele diz sorridente

- Muito obrigada Andrew. O apoio de vocês é muito importante para mim.

Por um momento consegui me ver no Andrew. Eu era bem pequeno quando conheci um surfista profissional que estava competindo pelo mundial. Acho que ainda consigo sentir todo o meu entusiasmo naquele dia.

A conversa durou até que a mãe de Andrew o chamou para voltar para a areia. Decidi remar de volta para areia e quando olho novamente para a garota, ela estava deitada na prancha. Balanço a cabeça rindo da cena anterior. E então um jet-ski passa acelerado ao seu lado, o que a faz cair da prancha. O que me faz pensar que hoje – definitivamente – não era seu dia de sorte. A procuro, mas sem sinal dela. O que deve ter acontecido? Espero de longe ela voltar para superfície, mas ela não o faz. Remo rapidamente para onde a prancha dela está e então vejo a movimentação debaixo d'água, ela estava se afogando. Mergulho e a puxo pelo braço, trazendo-a para a superfície.

- Te peguei – Digo e coloco parte de seu corpo apoiado na prancha e a água começa a sair por sua boca.

A levo o mais rápido possível para a areia. Ela estava pálida e assustada. Seus olhos estavam vermelhos, mas a coloração azul de sua íris ainda brilhava. O que mais me chocou foi quando ela começou a rir, do nada.

- Você está bem? – Pergunto sem entender. Ela apenas balança a cabeça como um sinal de que sim, estava bem. – Eu preciso te levar para o hospital.

- Hospital? Na-não. Eu estou bem, juro. – Ela para de rir e fica séria. – Eu acho melhor eu ir andando pro Hotel e...

- Sem chances. – A interrompo. – Você acabou de se afogar, tem que fazer exames, sei lá.

- Olha, eu agradeço, mas... – Ela tenta se levantar, mas quase cai.

- E é por isso que eu não posso deixa-la sozinha.

- Tudo bem, eu vou para o hospital com você, mas eu juro que estou bem. – E então ela sorri. – A propósito, meu nome é Alexia, Alexia Médicci.

- Peter Mayer. – Sorrio de volta

Depois de colocar a prancha no carro, dirijo até o hospital com Alexia no carona.

- Você é daqui? – Ela pergunta

- Na verdade sou da Austrália. E você?

- Bem, sou de vários lugares. Se é que me entende. Meu pai tem negócios ao redor do globo. Mas no momento vivo em Seattle.

- Eu nasci em Gold Coast, e bem, nunca me mudei de lá. – Brinco. – Mas com os campeonatos de suf, eu fico sempre viajando.

No hospital, Alexia fez alguns exames para prevenir qualquer chance de afogamento secundário. E para sua sorte, não havia risco algum.

- Bom, acho que devo te agradecer, não é? – Ela ri timidamente. – Obrigada por me ajudar na praia. De verdade. Se tiver algo que eu possa fazer para recompensá-lo...

- Está tudo bem. De verdade. Já me sinto recompensado por você estar bem.

- Sendo assim, eu vou voltar para o Hotel. Chega de praia por hoje. – Ela brinca.

Quando seu corpo se vira para finalmente sair do hospital, me encho com alguns segundos de coragem e seguro sua mão.

- Na verdade tem algo que você pode fazer por mim.

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