Como se ama alguém? Era esta a dúvida que tinha dentro de mim e a qual eu questionei inúmeras vezes, buscando insaciavelmente por uma resposta.
Desde pequeno tive muitas dificuldades para saber o que era o amor. Amor paterno, amor materno, amor entre irmãos, entre amigos, entre namorados... Eu não conseguia perceber, também não havia ninguém para me explicar. O que era o amor, amar alguém ou ser amado, eu não sabia.
Pelo que diziam o amor era para ser algo bom, que nos fizesse ver a vida de uma maneira melhor, que nos fizesse bem, que apesar de alguns problemas o amor iria acabar sempre por vencer.
Eu pensei que sabia amar, amar a minha mãe por exemplo, no entanto quando ela me fez uma queimadura no lado esquerdo do meu rosto percebi que realmente não sabia o que era esse sentimento, amor não podia ser algo que nos magoasse de tal forma que nos questionássemos sobre a razão de estarmos vivos... Pelo menos era o que eu achava.
Eu nunca tive ninguém próximo de mim o suficiente para me mostrar como amar, a minha mãe magoou-me, afastou-se de mim, deixou-me sozinho, mesmo que na altura muito provavelmente não fosse a sua intenção. Já no caso do meu pai, ele nunca me fez sentir nada que não fosse ódio, sentimento oposto ao amor, raiva e desprezo. E eu não acreditava que ele me fosse ensinar outros sentimentos, já que eu nunca iria perdoar o que ele tinha feito.
Ninguém próximo a mim mostrava afeção para com outras pessoas, os meus pais viviam sempre frios e distantes um com o outro, e os meus irmãos, que ainda brincavam pela casa com caras alegres, sempre que eu me aproximava eles deixavam de sorrir, como se eu fosse algo que lhes tirasse a vontade de se divertirem ou sorrirem, mas eu não compreendia, eu nunca lhes tinha feito nada, então porque é que eles se afastavam de mim? Porque é que não podiam sorrir para mim? Eu nunca cheguei a saber a razão para eles fazerem isso mas decidi que o melhor seria eu afastar-me.
Por isso sempre estive sozinho, com uma parte de mim ferida e congelada, a única coisa que carregava comigo eram as memórias dolorosas do passado e as emoções felizes e quentes que um dia, mesmo que pouco, tive a oportunidade de sentir...
Eu não sabia dar amor ou recebê-lo, pelo menos não sem haver dor e sofrimento. O mundo para mim parecia sempre cinzento e frio, a luz quente e aconchegante que deveria ter parecia ter-me deixado, apenas restando as cicatrizes que eu carregava dentro de mim...
Às vezes pensei em desistir, não havia maneira possível de haver amor para mim, esse provavelmente era um sentimento que eu estava proibido de ter ou sentir... Pois só conseguia magoar as outras pessoas e a mim mesmo. Acho que por esse motivo, mesmo que inconscientemente, acabei por criar uma barreira entre mim e o resto das pessoas.
Mas mesmo assim, no fundo, eu queria saber o que era esse sentimento, eu queria saber o que era ser amado, o que era amar, o que era o amor... Como é que podia amar sem haver dor ou sofrimento, como podia amar sem problemas ou deixar marcas... Eu queria saber... Queria sentir... Esse sentimento... Como seria amar? Como se ama alguém?
Mas como é que poderia exprimir esse meu desejo? Como é que poderia aproximar-me das pessoas e ter oportunidade de demonstrar amor? É difícil dizer o que realmente sinto, especialmente quando sempre o escondi e menti sobre isso, dizendo apenas mentiras enquanto as verdades ficavam apenas no meu coração, com o desejo que algum dia alguém apareça e as consiga desvendar, porque sozinhos já não as conseguimos expor, as verdades e os desejos ficaram oprimidos, pois tinha medo, medo de amar e acabar por sair magoado... ou magoar alguém.
Mas foi então que tu apareceste e o meu mundo mudou, tu que negaste tudo o que eu sempre acreditei ser impossível, partiste a barreira de gelo que tinha imposto entre mim e as pessoas pelo medo da dor e da solidão, partiste-a e expuseste os meus desejos e segredos mais profundos, ensinas-te e demonstras-te que uma pessoa como eu podia amar e ser amado. Graças a ti senti um calor que nunca antes tinha sentido... Era esse sentimento? Era isso o amor? Eu não conseguia ter a certeza, mas eu queria continuar a senti-lo, a ter este sentimento a queimar-me por dentro e aquecer-me, a fazer-me sorrir, a iluminar o meu mundo.
Depois de entrares no meu mundo, o qual nunca tinha deixado ninguém entrar, mas mesmo assim entraste à força, obrigaste-me a encarar-te, a ver os teus olhos cheios de brilho e esperança e os teus sorrisos cheios de sonhos e desejos. Não me deixaste sozinho, aceitaste-me e apoiaste-me, tornaste-te alguém importante para mim, alguém insubstituível. E depois de me ensinares este sentimento, acho que já não ia conseguir ser capaz de viver sem ele.
Eu estava finalmente a aprender a amar alguém e a ser amado de volta. Eu não poderia expressar com palavras a felicidade que sentia dentro de mim. E quando te declaraste, o meu mundo mudou ainda mais, pensei que fosse impossível, mas mais uma vez provaste-me que estava errado, o meu coração batia no meu peito de forma frenética, de uma maneira que eu não consegui controlar, senti borboletas na barriga, estava nervoso e ansioso, afinal nunca pensei que ia chegar o momento em que ia ouvir aquelas palavras vindas de ti, a pessoa mais importante para mim, a minha cara aqueceu de uma maneira que nunca antes tinha aquecido e eu só consegui sorrir para ti, o mais puro e verdadeiro sorriso que alguma vez tinha mostrado a alguém, o sorriso que naquele momento me mostras-te que conseguia dar.
Depois disso tudo foi mudando aos poucos, as minhas dúvidas, as minhas cicatrizes, o meu mundo frio e solitário, foram desaparecendo vagarosamente, dando lugar a esperanças, sonhos e um mundo brilhante e quente, a cada momento que estava contigo só conseguia ter mais certezas do bem que tu me fazias, das coisas e sensações novas que me mostravas a cada dia que passávamos juntos. Desde as carícias, os beijos, os sorrisos, os olhares, às declarações e provas de amor.
E tu não te esquecias de todos os dias me relembrar o quão importante eu era para ti e como estavas feliz de me ter conhecido e que eu tivesse aparecido na tua vida. Mal sabias tu que eu me sentia da mesma forma, salvaste-me da solidão e ensinaste-te o que eu sempre quis aprender.
Obrigado por isso Midoriya Izuku, obrigado por me teres ensinado como se ama alguém.
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Como se Ama Alguém?
FanfictionDesde muito pequeno, Todoroki não sabia amar ou ser amado, não sabia o que era amor, no entanto, ele queria, e desejava, saber, mas não tinha coragem para dizer ou mostrar. Ele só queria a resposta a uma pergunta, como se ama alguém? [TodoDeku]