Capítulo Dez - Parte 04

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— Que história é essa de Anahí se mudar? Pensei que ela fos­se comprar um imóvel apenas como um investimento — per­guntou Alice, sentando-se no sofá e passando a mão sobre a barriga protuberante ao interrogá-lo.

— Não. Claro que não. Ela vai comprar uma casa e se mudar para lá. Qual é o problema? Está fazendo a coisa cer­ta, eu devia imaginar isso.

— É mesmo? E quanto a vocês?

— Nós? Nós dois? De qualquer forma, agora são três...

Alice resmungou, revirando os olhos.

— Nossa, como você é lerdo de raciocínio. Pelo amor de Deus, Poncho! Achei que vocês se amassem.

— De onde tirou essa idéia?

— De vê-los juntos, será? — ela falou como se ele fosse uma criança.

— Está imaginando coisas.

— Acho que não. Vocês são íntimos demais. Ou eram até o bebê nascer. Dava para notar pelos olhares e pelo compor­tamento, era tão óbvio. Até um cego saberia que vocês se amavam. Apesar de que, desde que Elena nasceu, você ficou mais distante.

— Não seja ridícula, ela não me ama, e agora ela tem um bebê!

— Isso não é nenhuma doença, Poncho! E por que ridículo? Só porque teve um filho com outro homem isso não a impe­de de amar você, e não deveria impedir você de ser gentil com ela. Ainda pode fazer um carinho nela. E isso você não tem feito — ela o acusou. — Achei que ela estava meio me­lancólica. Pensei que fosse por causa do testamento, mas quando falei com ela ao telefone mais cedo, ela não parecia muito feliz, então fiquei pensando nisso.

— Não acredito.

— Poncho, estou falando sério. Ela o ama muito. E você tam­bém a ama. Você ama Anahí — ela repetiu quando Alfonso es­tava prestes a protestar. — Você sabe. Quando é que vai as­sumir isso?

Alfonso recostou a cabeça no encosto do sofá e fechou os olhos.

— Ela não me ama, Ali — ele disse. — Ela ainda gosta de Edgar.

— Que bobagem! Isso não é verdade! E o sujeito era qua­se tão canalha quanto o irmão. Ela ama você, Alfonso, e pre­cisa de um homem de verdade, um homem maduro que saiba amá-la também. Um homem como você, gentil, atencioso e digno de confiança.

— Ah, obrigado pela ironia.

— É o que pensa? Que estou com ironias? Olhe só para a vida que ela teve, Poncho! Isso era o que de mais importante você poderia lhe dar. Isso e o seu amor. Quando é que vai dizer a Anahí que a ama? Quando é que vai lhe dizer que não quer que ela vá embora, quer que ela fique e se case com você e passe o resto da vida ao seu lado? Para que você par­ticipe da vida de Elena e a veja crescer e lhe dê irmãos.

— Pare com isso, Ali, chega! — ele disse, apavorado, suando de nervoso. — Não vou conseguir dizer isso.

— Por que não? Porque Catherine o traiu? Anahí não é Catherine. Catherine não prestava. Catherine nunca o amou, mas Anahí ama você profundamente e nunca vai traí-lo, nem mentir, nem ma­goá-lo, e precisa do seu amor também.

— Acha mesmo que ela me ama? — Ele balançou a cabe­ça negando. — Ela ainda está de luto por Edgar...

— Não, Poncho. Não! Ela não pensa mais nele! É você que ela ama. E você precisa lhe dizer isso.

Alfonso pensou em Catherine e no dia em que descobriu sobre o caso dela com Angie, quando ele disse que a amava e ela apenas riu. Riu dele.

— E se ela rir de mim?

— Ela não fará isso. E se fizer? O que terá perdido? Seu orgulho? O que é isso comparado a uma vida toda a amando? — Ela se aproximou mais dele e lhe deu um abraço. — Dê a ela uma chance, Poncho — pediu. — Dê uma chance a vocês dois. Vá falar com ela agora.

— Ela está dormindo. Disse que queria dormir cedo hoje.

— Então, por que será que ela está no jardim olhando o mar como se quisesse se jogar?

Alice deu um beijo no irmão e o deixou olhando para Anahí através da janela.

A mulher que ele amava. A única mulher que amou de verdade, ele se deu conta. Deus não ia permitir que ela risse dele.

Ele se encaminhou lentamente até a porta e saiu para o jardim escuro. O dia tinha sido quente, mas agora a tempera­tura havia caído; ou era o medo que fazia ele sentir frio?

Alfonso respirou fundo, tomou coragem e começou a cami­nhar pelo gramado.

Lar da Paixão (ADP)Onde histórias criam vida. Descubra agora