Doce Despedida

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Estavam os dois no parque, no pavilhão mais próximo à entrada norte, como no dia em que se conheceram. Ele se lembrava daquele dia como se fosse ontem, lembrava daquele sorriso que achara encantador, daquele olhar apaixonante, de como ela ficava linda iluminada pelo sol, de como os cabelos dela estavam presos em uma trança sobre o ombro direito, ele se lembrava até do perfume que ela usara naquele dia e do vestido branco simples que ele achara perfeito para ela. Ela estava linda, deslumbrante, encantadora e ele completamente apaixonado, mal conseguia tirar os olhos dela enquanto ela sorria e acariciava pequenos animais moradores do parque, em geral primatas.

Naquele dia, uma chuva se anunciara de repente, aprisionando os dois naquele mesmo pavilhão enquanto ela caía delicadamente. A chuva não era forte, mas estavam despreparados para ela naquele dia. Agora eles estavam lá novamente, no mesmo pavilhão, ela estava vestida do mesmo jeito que ele se lembrava, encantadora como sempre fora.

Ela fitava os olhos dele, e ele os dela, aqueles lindos olhos que sempre lhe falava o que ela era incapaz de dizer em sua voz. Ela estava tão perto dele, ele acariciava-lhe o rosto com uma mão enquanto outra estava solta ao lado de seu corpo. Ele estava nervoso como no dia em que a beijara pela primeira vez, mas precisava ser firme. Ele fitava seus olhos enquanto dizia tudo e ela o olhava com aquele olhar que ele conhecia tão bem, o olhar na qual ele demorara muito tempo para aprender a ler. Ela estava confusa, incapaz de discernir o significado das palavras que ele proferia.

– Eu... Se quiser partir, eu não vou te prender. – disse ela com a voz trêmula e aquele olhar triste.

Houve alguns minutos de silêncio entre os dois, eles apenas se olhavam, sem nada dizer. Ela temia a resposta dele, e ele não sabia o que dizer. Tudo o que planejara dizer desapareceu de sua mente quando viu aquela cara triste dela, lágrimas riscavam-lhe o rosto, ela era incapaz de controlá-las.

– Será melhor para os dois. – respondeu ele, após respirar fundo e tomar coragem para dizer o que viera dizer.

Ela deu um passo para trás, desvencilhando-se da mão dele, limpou as lágrimas em seus olhos, então sorriu. Era um sorriso falso, ele sabia, ela estava se esforçando para não parecer triste, mas seus olhos a delatava. Ela sorria para ele mesmo enquanto queria chorar.

– Espero que seja feliz com a sua decisão. – ela se esforçara para dizer enquanto sorria – Adeus.

Então ela se virou e foi embora. Dessa vez ela estava preparada para a chuva na qual caía, ainda era fraca, mas estava aumentando. Ela abriu o guarda chuva e saiu pelo mesmo lugar que entrara, ele a acompanhou com os olhos parado ali, sem saber o que fazer em seguida. Ele a acompanhou até perdê-la de vista quando ela virou na esquina.

Ele fitava o vazio, não conseguia entender o que estava sentindo naquele momento. Eles haviam terminado como ele queria, mas por que continuava se sentindo deprimido? Se aquele era o desejo dele, por que não se sentia feliz?

Ele olhava ao redor a procura do que lhe faltava, foi quando percebeu que ela havia deixado cair seu cordão. Ele pegou o cordão do chão e o fitou por um longo tempo. Era o cordão que ele dera a ela no dia de seu aniversário, ela sempre usou aquela bijuteria sem qualquer valor material desde então. Sempre que ele a via, ela estava o usando, nos bons momentos passados juntos ou mesmo nos maus. Era nostálgico aquele objeto, quando ele poderia imaginar que um simples cordão estaria presente na vida dos dois, como um elo de uma corrente? Eles eram um casal tão apaixonados... Ninguém jamais imaginaria que acabaria daquela forma, nem mesmo eles.

– Acabar... – pensou ele em voz alta olhando para aquele objeto em sua mão. Então ele percebeu, saiu correndo debaixo da chuva, na qual já estava forte.

Ao encontrá-la, ele gritou.

– Espere! – estava arfando com as mãos apoiadas sobre os joelhos e cabeça baixa, cansado por correr alguns quarteirões atrás dela.

Ela se virou para ele.

– O que foi? – perguntou surpresa, não conseguia conter o espanto daquele ato dele.

Ele ergueu a cabeça, endireitou-se ainda ofegante e disse:

– Você deixou cair isso. – ele estendeu o braço para lhe entregar o cordão na qual ela havia deixado cair.

– Ah, obrigada. – agradeceu ainda surpresa.

Ela se aproximou dele para pegar seu cordão, ainda debaixo de seu guarda-chuva, e quando ela tocou a mão dele suavemente com as pontas de seus dedos na tentativa de pegar o objeto, ele segurou a mão dela e a puxou com força para perto de si, passando seus braços pela cintura dela em um abraço apertado.

De surpresa, seu rosto passara para confusão. O puxão a fizera deixar cair o guarda chuva no chão, estavam os dois debaixo da chuva, encharcados com a tempestade.

– Não vá, por favor! – disse ele – Sei que fui um idiota, mas não me deixe. Se você me deixar, voltarei a ser o nada que eu era antes de te conhecer, eu não sou ninguém sem você. Não sei como fui burro o bastante para cometer esse erro, mas... – sua voz fraquejava ao pensar o quão burro fora – Eu te amo, meu amor, deixe-me consertar a besteira que tentei fazer. – ele a beijou, ainda apaixonado como sempre fora desde que a conheceu. Um beijo longo e apaixonado na qual aquecia os dois, mesmo debaixo da chuva gelada.

Doce DespedidaOnde histórias criam vida. Descubra agora