Me agarro aos braços de Luke em desespero.
Meu rosto está queimando, minha boca ardendo, meus olhos lacrimejando.
— O que você está sentindo? — Luke me observa com as sobrancelhas franzidas, o rosto sério e cheio de preocupação.
Lia dá a volta na mesa e vem correndo até mim.
— Grazy! Você tomou o suco de Julia?!
— Luke... me ajuda... está ardendo muito! Está queimando! Ahhhh!
Corro até a pia da cozinha, me desequilibrando no trajeto, abro a torneira com as mãos trêmulas e enfio a boca embaixo da água.
O calor diminui, mas minha garganta ainda queima.
Em segundos, os três estão em volta de mim. Luke segura os meus cabelos, impedindo-os de caírem dentro da pia.
— Grazy, me desculpa! Eu devia ter calculado o risco de você ser tonta! Você não podia jamais ter bebido do copo de Julia!
Todos olhamos para Lia, assustados.
— O que?! Você queria me envenenar? — Julia coloca as mãos na garganta.
— Como você é burra! Não percebe que era só pimenta?
— Espera — Luke levanta minha cabeça com cuidado, enquanto passo as costas da mão na boca em uma tentativa de secar o rosto. — Grazy é alérgica a pimenta.
Petrifico olhando nos olhos dele. Vou morrer.
— Grazy! E agora?! Temos que levá-la para o hospital! Está vendo o que você fez, Lia? — Julia grita, apontando para Lia.
— Grazy, me desculpa, era só uma brincadeira. Era para Julia beber, eu não pensei que isso fosse acontecer... — Lia se atropela nas palavras, tomada por desespero.
Ao ver o desespero e a culpa no rosto dela, tento amenizar:
— Não é uma alergia grave, Lia, vou ficar boa em segundos — mas na verdade o prurido já está se espalhando pela minha garganta e rosto.
— Graziella, — Luke chama a minha atenção — sabe que terei que te levar ao hospital.
Arregalo os olhos, em pânico.
— Por favor, não me leva — minha voz sai esganada pelo medo. — É uma alergia boba. Me dá um antialérgico que eu fico boa, eu juro — coloco as mãos juntas, implorando.
— De jeito nenhum! Você tem que ir para o hospital — Lia afirma.
— Vou chamar uma ambulância — Julia pega o celular e eu tomo da mão dela, colocando em cima da pia.
— Luke, por favor? Por favor? — imploro quase chorando.
Ele sabe que eu desenvolvi uma espécie de trauma de hospital desde o acidente de carro que lhe causou arritmia cardíaca por quase um dia.
Luke suspira, cedendo.
— Está bem, vou te dar um antialérgico, mas se você não melhorar em uma hora, vamos para o hospital, combinado?
Confirmo veementemente com a cabeça.
Assim que me dá o remédio, Luke me leva para o quarto. Lia e Julia vêm atrás, discutindo por causa do suco apimentado. Julia começa a chorar.
Luke tenta ignorar as duas enquanto me faz deitar na cama, ajeitando o cobertor sobre mim. Meus olhos pesam.
— Esse antialérgico é forte, você vai sentir muito sono — explica ele, acariciando meus cabelos suavemente.
Lia, ao lado da cama, me observa cheia de culpa.
— Temos que monitorar seus sintomas — ela coloca a mão na minha testa.
— É, Grazy, você está com a cara péssima — Julia diz com voz de choro.
— Eu acho que já estou bem... — minha voz soa fraca demais. — A gente pode continuar estudando e eu faço os cálculos tudinho...
— Cala a boca, Grazy, você já está delirando.
Abro um longo bocejo.
— Dorme — Luke me beija na testa.
Não preciso me esforçar para obedecer. Na verdade, estou me esforçando é para manter os olhos abertos, mas as imagens somem e reaparecem através das pálpebras pesadas.
— Acho melhor dormir aqui também, para monitorar os sintomas de Grazy — Julia diz, mas sua voz já está há milhas de distância.
— Não inventa, Julia. Pega seu rumo e se manda pro quinto dos infernos.
— Para de ser chata, Lia! Seria tão legal! Poderíamos ir todos juntos para a faculdade amanhã.
— Você sempre arruma um pretexto para...
— Já chega, meninas. Vamos resolver isso lá embaixo. Grazy precisa descansar — ouço a voz de Luke, mas não consigo acompanhar o desfecho, pois no segundo seguinte, tudo desaparece.
Recobro os sentidos por um instante e percebo que Luke está comigo novamente. Sinto sua mão em minha testa, mas não consigo abrir os olhos.
— Me beija, Luke — sussurro meio delirante com o sono pesado.
Sinto os lábios dele tocarem os meus em um beijo suave.
— Isso sim é um beijo apimentado — ele diz e eu sorrio.
Luke se deita ao meu lado e acaricia meus cabelos vagarosamente.
Me esforço ao máximo para abrir os olhos e, em uma fração de segundos, capto o lampejo de um rosto lindo me observando com atenção e preocupação.
Essa é a última coisa que vejo antes de mergulhar em uma neblina tranquila de sono profundo, mantendo um único pensamento: amanhã acordarei ao lado do homem que eu amo.
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O garoto dos olhos avelã
Teen FictionGraziella tem uma imaginação para lá de fértil, vive no mundo da lua e, por vezes, acaba se enfiando em situações embaraçosas. Sem planos de se apegar à nova cidade, ela sabe que a promessa de permanência do pai é daquelas que não se deve levar à sé...