50 - Envenenar

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Me agarro aos braços de Luke em desespero.

Meu rosto está queimando, minha boca ardendo, meus olhos lacrimejando.

— O que você está sentindo? — Luke me observa com as sobrancelhas franzidas, o rosto sério e cheio de preocupação.

Lia dá a volta na mesa e vem correndo até mim.

— Grazy! Você tomou o suco de Julia?!

— Luke... me ajuda... está ardendo muito! Está queimando! Ahhhh!

Corro até a pia da cozinha, me desequilibrando no trajeto, abro a torneira com as mãos trêmulas e enfio a boca embaixo da água.

O calor diminui, mas minha garganta ainda queima.

Em segundos, os três estão em volta de mim. Luke segura os meus cabelos, impedindo-os de caírem dentro da pia.

— Grazy, me desculpa! Eu devia ter calculado o risco de você ser tonta! Você não podia jamais ter bebido do copo de Julia!

Todos olhamos para Lia, assustados.

— O que?! Você queria me envenenar? — Julia coloca as mãos na garganta.

— Como você é burra! Não percebe que era só pimenta?

— Espera — Luke levanta minha cabeça com cuidado, enquanto passo as costas da mão na boca em uma tentativa de secar o rosto. — Grazy é alérgica a pimenta.

Petrifico olhando nos olhos dele. Vou morrer.

— Grazy! E agora?! Temos que levá-la para o hospital! Está vendo o que você fez, Lia? — Julia grita, apontando para Lia.

— Grazy, me desculpa, era só uma brincadeira. Era para Julia beber, eu não pensei que isso fosse acontecer... — Lia se atropela nas palavras, tomada por desespero.

Ao ver o desespero e a culpa no rosto dela, tento amenizar:

— Não é uma alergia grave, Lia, vou ficar boa em segundos — mas na verdade o prurido já está se espalhando pela minha garganta e rosto.

— Graziella, — Luke chama a minha atenção — sabe que terei que te levar ao hospital.

Arregalo os olhos, em pânico.

— Por favor, não me leva — minha voz sai esganada pelo medo. — É uma alergia boba. Me dá um antialérgico que eu fico boa, eu juro — coloco as mãos juntas, implorando.

— De jeito nenhum! Você tem que ir para o hospital — Lia afirma.

— Vou chamar uma ambulância — Julia pega o celular e eu tomo da mão dela, colocando em cima da pia.

— Luke, por favor? Por favor? — imploro quase chorando.

Ele sabe que eu desenvolvi uma espécie de trauma de hospital desde o acidente de carro que lhe causou arritmia cardíaca por quase um dia.

Luke suspira, cedendo.

— Está bem, vou te dar um antialérgico, mas se você não melhorar em uma hora, vamos para o hospital, combinado?

Confirmo veementemente com a cabeça.

Assim que me dá o remédio, Luke me leva para o quarto. Lia e Julia vêm atrás, discutindo por causa do suco apimentado. Julia começa a chorar.

Luke tenta ignorar as duas enquanto me faz deitar na cama, ajeitando o cobertor sobre mim. Meus olhos pesam.

— Esse antialérgico é forte, você vai sentir muito sono — explica ele, acariciando meus cabelos suavemente.

Lia, ao lado da cama, me observa cheia de culpa.

— Temos que monitorar seus sintomas — ela coloca a mão na minha testa.

— É, Grazy, você está com a cara péssima — Julia diz com voz de choro.

— Eu acho que já estou bem... — minha voz soa fraca demais. — A gente pode continuar estudando e eu faço os cálculos tudinho...

— Cala a boca, Grazy, você já está delirando.

Abro um longo bocejo.

— Dorme — Luke me beija na testa.

Não preciso me esforçar para obedecer. Na verdade, estou me esforçando é para manter os olhos abertos, mas as imagens somem e reaparecem através das pálpebras pesadas.

— Acho melhor dormir aqui também, para monitorar os sintomas de Grazy — Julia diz, mas sua voz já está há milhas de distância.

— Não inventa, Julia. Pega seu rumo e se manda pro quinto dos infernos.

— Para de ser chata, Lia! Seria tão legal! Poderíamos ir todos juntos para a faculdade amanhã.

— Você sempre arruma um pretexto para...

— Já chega, meninas. Vamos resolver isso lá embaixo. Grazy precisa descansar — ouço a voz de Luke, mas não consigo acompanhar o desfecho, pois no segundo seguinte, tudo desaparece.

Recobro os sentidos por um instante e percebo que Luke está comigo novamente. Sinto sua mão em minha testa, mas não consigo abrir os olhos.

— Me beija, Luke — sussurro meio delirante com o sono pesado.

Sinto os lábios dele tocarem os meus em um beijo suave.

— Isso sim é um beijo apimentado — ele diz e eu sorrio.

Luke se deita ao meu lado e acaricia meus cabelos vagarosamente.

Me esforço ao máximo para abrir os olhos e, em uma fração de segundos, capto o lampejo de um rosto lindo me observando com atenção e preocupação.

Essa é a última coisa que vejo antes de mergulhar em uma neblina tranquila de sono profundo, mantendo um único pensamento: amanhã acordarei ao lado do homem que eu amo.

O garoto dos olhos avelãOnde histórias criam vida. Descubra agora