13;;Orion e Escorpião;;13

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jjw;;O homem e a criatura da terra
para sempre presos pelo ódio, entre as estrelas.

—Já que você me arrastou até aqui, pelo menos me diga o que você está vendo. Me descreva a cidade, o céu, qualquer coisa.

–A cidade é como um reflexo do céu. Estamos vendo um espelho e a única diferença é que não podemos ver a parte verdadeira e sim a que se reflete, já que nossas densas camadas de poluição e de luzes artificiais nos impedem de ver as encantadoras estrelas. De modo diferente do universo e seus astros, planetas, cometas e asteroides, quanto mais perto chegamos da parte do reflexo que é terrestre, conseguimos ver mais feiúra, mais da nossa falta de humanidade e de nossos atos desumanos podemos presenciar; já no universo e tudo que o forma, quanto mais próximos, mais interessante ele é, mais partículas coloridas, ou incolores, de poeira cósmica podem ser vistas, se mostrando em todo o seu resplendor e beleza etérea. Somos tão apaixonados pelo universo, Jiwoo, que até mesmo os que não sabem disso se veem encantados pela beleza da junção das nossas luzes mecânicas, que buscam imitar as estrelas e iluminar o mundo  assim como elas.

–Obrigada– foi só isso que Jiwoo falou, por mais que seu corpo ansiasse em se inclinar para frente, da onde vinha a voz de Matthew, e lhe dar um beijo, tamanho era o encanto que sentia naquele momento, sendo banhada pela luz da lua e pela inocência das estrelas.– você não faz ideia do quanto isso significa pra mim.

–Acho que sei sim, mas de nada.– Ele não sabia de onde tudo aquilo tinha vindo, não sabia de que parte de seu ser aquela poesia fora arrancada. Mas ele não se arrependia de nada dito, ele sentia que a mais nova merecia ver aquele pedaço do céu.

–Sabe, eu costumava ver as estrelas todas as noites com meu pai. Eu deitava do lado dele no jardim de casa e ele me contava histórias, me explicava sobre constelações e mitos, me dizia tudo o que eu precisava saber sobre o mundo.– Ela ainda se lembrava do pai lhe contando a história da constelação do escorpião, enquanto ele lhe acariciava os cabelos com o braço que não estava apontando para o céu. Aquela era, de longe, sua história e constelação favorita.

—E mesmo assim, nenhuma das histórias conseguiu me preparar pro mundo. Nem para a perda da minha visão, nem para amores de infância, ou para a escola.— Ela tinha chorado durante horas quando seu coração fora partido pela primeira vez, chorado de novo quando recebeu sua primeira nota baixa em física e pela primeira vez, quando descobriu que nunca mais veria as estrelas.

—Nada consegue preparar a gente pro mundo. Mas você teve alguém pra tentar te preparar pelo menos.— Uma das últimas boas memórias que Matthew tinha do próprio pai, fora a vez em que ele caiu da bicicleta enquanto passeava com os amigos e chegou em casa chorando, com o joelho em carne viva. Ele tinha acalmado o menino, passado água oxigenada e feito um curativo com muito cuidado, depois tinha tinha lhe dito para tomar mais cuidado e o levado para tomar sorvete.

Pouco tempo depois, eles tiveram problemas financeiros, voltaram a viver com a avó na Coreia e tiveram que mudar todos os planos que tinham. Quando se recuperaram, o pai parecia se importar mais com o dinheiro do que com a família, os fins de semana eram especialmente reservados às contas que ele fazia para saber onde poderia economizar, onde poderia gastar mais, como ganhar mais dinheiro e, por pior que seja, nunca para sair com seus filhos.

Hyuna e Matthew cresceram sem amor paternal, a única coisa que lhes restava desde que a mãe tinha morrido, e os presentes do Natal não eram suficientes para suprir aquele vazio no peito que os consumia pouco a pouco.  Como um monstro espreitando pelos cômodos da casa, atacando sempre que era possível e depois voltando para seu berço— o escritório do pai.

blind dancer [bwoo/taeso]Onde histórias criam vida. Descubra agora