CAPÍTULO 1
Eu acordei assustada e ofegante. Olhei para o lado e Téo acabava de acordar também. Talvez pelos meus gritos. O mesmo sonho pela milésima vez, só naquele início de semana. Era uma droga.
-Sonhou com ele de novo, não foi? - tive medo de responder. O ciúme dele podia chegar a níveis ruins. -Sua vagabunda!
-Acha que eu pedi por isso? Acha que eu pedi para que ele fosse o amor da minha vida? Eu te avisei, avisei que não se apaixonasse, avisei que não criasse laços por mim, porque eu não teria nenhum por ti.
Foi então que eu senti. O tapa na minha cara, a ardência do lado esquerdo, as lágrimas caindo. Instintivamente levantei da cama e me agarrei a porta do closet.
-Quem acha que é para me bater?! Seu merda.
-Seu namorado, que está cansado de ser corno!
-Tu não é meu namorado. Só transamos algumas vezes seu doente. É melhor não pensar em chegar perto de mim de novo. - enfiei a mão dentro do closet e peguei o porta bolsas, que estava vazio. Fui para cima de Téo e dei com força na sua cabeça. Ele desmaiou na hora, nem conseguiu se defender, não imaginou que eu fosse fazer isso. Saí pelo kit net catando as peças de roupa que me faltavam no corpo. Ali eu nunca mais poria meus pés. Provavelmente ele ligaria pedindo perdão. Otário.
Mas eu não estava ligando para mais nada. Estava na hora de ir até ele, contar toda a verdade sobre o que aconteceu, o porque eu fugi. Estava na hora de voltar para casa.
Depois de sair da casa daquele mal amado, eu estacionei o carro em uma rua deserta perto da floresta e comecei a pensar. Como eu pude fazer isso comigo?
Eu lembro. Lembro dos detalhes daquele sonho. Das palavras que ele me disse. Quer dizer, eu não vi o rosto, mas era ele. Tinha que ser, eu nunca havia amado ninguém antes, nem depois dele. Não havia alguém que pudesse confundir minha mente.
Dói tanto, dói tanto ele estar tão longe, dói tanto eu ter me afastado, mas depois do que eu fiz não podia mais olhar para ele.
Seis meses. Seis meses de pura dor, onde no início eu ignorava as mensagens, mas depois elas pararam de chegar. Eu stalkeava Facebook, instagram, twitter, tudo para saber notícias dele. Um dia ele postou uma foto com uma garota. Uma ruiva, faltava só alisar o cabelo para se parecer com a Mérida, da Disney. Eu me senti um lixo com os cabelos castanhos e sem vida.
Seis meses que eu tinha fugido, que eu tinha abandonado a faculdade dos sonhos, que eu tinha abandonado o emprego dos sonhos, que eu tinha sumido no mundo, por medo, por vergonha, porque eu fracassei. Faz seis meses que eu me pergunto se ele me perdoaria se soubesse o monstro que eu sou.
Seis meses que eu me pergunto se ele ainda pensa em mim, se ele ainda ouve a minha risada como ouço a dele, ou se sente falta do meu corpo entrelaçado no dele, no meio da noite.
Seis malditos meses, dentre dois deles eu transava com um cara pensando em outro, transava para ver se me apaixonava de novo, mas meu coração gritava constantemente que era ele, que eu deveria voltar pra ele. Mas ele tem uma namorada, uma nova vida agora, quase se formando na faculdade, provavelmente sendo promovido na clínica.
Que merda. Eu não tinha o direito de invadir a vida dele e jogar essa bomba.
Assassina.
Essa era a coisa mais agradável que minha mente gritava todos os dias. Como eu pude? Nosso amor transbordou de uma maneira linda e eu matei isso.
Assassina. Covarde. Medrosa.
Eu me apego ao sonho. Me iludo pensando que um dia a gente vai casar e morar juntinhos num lugar paradisíaco, e que nossos filhos vão crescer aprendendo a surfar e a nadar, brincar na areia da praia com os cachorros.
Mas na verdade, eu mereço passar o resto da vida pagando pela merda que eu fiz, como eu achei que ele não fosse me apoiar? Que droga, ele era maravilhoso.
Parte do castigo que eu deveria pagar, já estava acontecendo. O que eu fiz ainda me dava dores terríveis todos os dias, ainda mais quando eu não tinha dinheiro o suficiente para pagar comida, aluguel, gasolina e os remédios para dor. Talvez isso me causasse câncer e ainda assim, não seria suficiente.
Morrer num hospital público, sem pedir a ajuda de minha família, sem ter minha mãe para segurar minha mão. Sem ter ele para segurar minha mão.
Eu morria todos os dias um pouquinho. Nunca era suficiente para que eu morresse de verdade, afinal ainda precisava pagar por tudo.
Eu cresci em berço de ouro. Então covardemente, joguei tudo fora. Nem uma criança faria as coisas que eu fiz.
Mas naquele ponto, depois do tapa na cara que eu tinha levado de Téo, eu acordei para vida. E percebi que deveria voltar para minha cidade, minha faculdade, talvez ele também.
Eu deixei que tudo acontecesse de novo.
Eu sentia falta de mim. Sentia falta de quem eu havia conseguido me tornar. E eu tenho certeza que algumas pessoas ainda sentem.
Eu tive mais que um período negro na minha amarga doce vida. E consegui sair do monte de cinzas que eu me tornei depois que o primeiro deles acabou. Então me reinventei.
Eu me tornei engraçada, me tornei romântica, me tornei carinhosa com um toque de grosseria. As pessoas queriam que eu estivesse nos lugares, elas perguntavam por mim, sentiam minha falta. Eu conseguia conversar com qualquer um, sobre qualquer coisa, mesmo que eu não gostasse, por que eu era inteligente, eu sabia um pouco de cada assunto.
Eu era querida, eu era adorada, eu era amada.
Eu era. Que frase marcante.
Eu era tão boa quanto Serena em Gossip Girl, que encantava todo mundo. Mas como a Serena eu caí de novo, e dessa vez eu caí feio.
Então, ela se aproveitou e voltou. E foi me envolvendo silenciosamente no manto dela. E em vez de lutar contra, eu me deixei levar. Eu me deixei levar, por que apesar de ser bom, ser alegre o tempo todo cansa. E a melancolia era uma coisa tão boa, tão acolhedora. Não ter que ver o lado bom de todas as situações me seduziu. E eu caí no canto dela, como um pescador caí no canto suave de uma sereia.
Eu ouvia minha parte boa pedindo ajuda, pedindo que eu não fizesse isso com nós duas, mas deixei ela no esquecimento. E ela cansou de me pedir ajuda.
Um dia eu acordei e eu não era mais ela. Eu era quem eu sou agora.
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De Todas Elas
RomanceTheresa é uma jovem que sempre teve tudo o que desejou: uma família rica, uma adolescência bem vivida, beleza e inteligência acima da média. Apesar dos pesares, ela nunca gostou de ser a filhinha perfeita, a aluna modelo ou a amiga popular.