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1804 - UMA CHUVA TORRENCIAL BANHA linha ferroviária que leva aquela enorme locomotiva movida a carvão, deixando rastros de fumaça no ar de Ciel até Constance, províncias muito pequenas, porém muito conhecidas pela grande concentração de fazendeiros importantes para a agricultura daquelas bandas.

Da janela de um dos vagões, uma jovem, de cabelos acobreados com um olho de cada cor – o direito, azul, o esquerdo caramelado –  mostrando estar em qualquer parte do mundo, menos ali, naquele trem. Seu olhar é tristonho e sua mente divagava conforme acompanhava as árvores e tudo quanto o trem ia deixando  para trás; junto com as gotas de chuva que  batiam com força no vidro da janela do vagão, ou encharcavam o solo barrento da linha férrea ao lado da estrada de ferro.

Aquela chuva mostrava tudo o que sentia naquele momento: dor e tristeza.
Seu nome é Carolyne Sheraton, e aquela locomotiva que brigava contra a forte chuva que caia do céu naquele dia para levá – la até Constance, não faria somente isso: estava levando–a para conhecer o homem a quem foi prometida e iria casar-se dentro de uma semana.

O casamento da jovem de apenas dezessete anos de idade com um homem oito anos mais velho que ela fora arranjado por seu pai, o sr. Peter Sheraton, por meio de laços que importam seu benefício em relação a sua fazenda, Monte das Camélias, que seria herança da garota junto com as duas irmãs mais velhas  quando o sr. Sheraton falecesse.

Carol como se era costume chamar-se tinha a total ciência da importância deste casamento; o que não compreendia, era o fato de seu pai tê-la escolhido dentre as três irmãs, sendo ela a caçula. Quando pedira explicações ao pai sobre o porquê de ter sido prometida a um homem oito anos mais velho; sem ao menos poder ter visto o seu rosto uma vez sequer, seu pai simplesmente respondera que tinha que cumprir seu dever e casar-se.

A sensação que transbordava seu rosto era de revolta e tristeza; sentira-se traída pelo próprio pai, já que não pode sequer usufruir do direito de escolher quem haveria de ser o seu marido. Sua angústia espelhava o ar triste e melancólico que via pela janela do vagão, era como se a chuva fosse suas lágrimas contidas e na única coisa que pensava era em suas irmãs Chloe e Cameron.

Depois de muito tempo de viagem; e da chuva ter finalmente cessado, o trem chega na estação de Constance. Muitas pessoas estão desembarcando e logo misturam-se com quem está no aguardo do lado de fora da locomotiva. Dentre os que esperam, está Benjamin Phillips, dono da maior fazenda produtora de cerejeiras de Constance: o Vale do Pôr do Sol, que mesmo com os tempos frios, presenteia os olhos das pessoas com o mais exuberante e surreal pôr do sol no pico mais alto de sua propriedade, ao que batizou suas terras.
 
Mas o sr. Phillips não está só: junto a ele, um rapaz de vinte de cinco anos de idade, cujo o nome é Sebastian Phillips, um jovem já formado em direito de cabelos negros, pele clara e olhos azul-royal. Um porte físico muito bem cuidado, forte e saudável, como se é típico de sua idade. 

Ele não deixava em momento algum de demonstrar o quanto estava aflito para que pudesse sair logo daquele local que agora estava lotado de pessoas as quais ele jamais viu na vida e que nem imaginou que existissem. Era certo também que em hipótese alguma, queria estar ali, prestes a encontrar com sua noiva que  sequer pôde encontrar mais vezes, estando agora às vésperas do tal casamento. Mas no fundo, queria conhecê-la, saber o que haveria de vir dali por diante.

Demora cerca de cinco minutos até que o sr. Phillips encontra ao longe a figura do velho amigo, o sr. Peter Sheraton acompanhado de uma jovenzinha que julga ele ser a sua futura nora.

— Veja, Sebastian, meu filho, ali estão eles – diz o sr. Phillips acenando para o grande amigo ao longe, no meio das pessoas – aquela senhorita que vem com ele só pode ser vossa noiva, Carolyne. Ao que meus olhos vêem é muito bela.

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