Sedentarismo, confissões e significados fora da validade

37 5 6
                                    

Eu preciso de uns trocados pra comprar o novo God of War. Cara, falta tão pouco pra alcançar a quantia que eu tô topando qualquer parada. E embora eu já tenha aparado todos os gramados da vizinhança, creio que possam existir outros bicos para um jovem desocupado.

Caham! Ninguém precisa saber que eu passo horas dos meus dias com a bunda colada no sofá enquanto jogo no meu precioso PlayStation 4 e que na verdade eu sou um baita de um sedentário. Além do mais, é muito fácil tapear adultos, basta ter menos de 18 anos e fingir ter energia suficiente pra carregar as sacolas de compras das senhorinhas que eles abrem a carteira.

E pra falar a verdade, nem precisei de muito pra descolar algo novo. Bastou eu bater o ponto na janela pra admirar meu vizinho bonitinho, Oh Sehun, e o ver correndo de um lado pro outro atrás do seu irmão mais novo que a ideia surgiu. Muitos nas redondezas tinham filhos e é de conhecimento mundial que crianças precisam de cuidados a todo momento, mas que também adultos, principalmente pais, necessitam de um tempo só para si. A equação é simples e eu seria muito burro se não me oferecesse pra tomar conta dos pestinhas.

E foi o que eu fiz. Anunciei no Facebook e em dois dias eu já tinha três casais atrás dos meus serviços. Tive que contar algumas mentirinhas que não doeram, como o meu primo de dois anos inexistente que eu cuidei durante um verão qualquer, pra obter confiança da clientela e de praxe mostrar toda a prática que eu não tinha.

O primeiro pentelho de quem eu seria babá é filho único dos Byun, ambos eram jovens e moravam em um apê bonitinho, porém apertado. Os adultos fariam uma viagem a passeio pra um desses interiores com paisagens naturais bem bonitas, queriam acampar e só voltariam no dia seguinte, por isso não levariam o seu primogênito, pois segundo eles, não tinha idade pra algo do tipo. Bem, eu sabia que os dois só queriam um tempinho a sós pra trocar umas carícias sem ter uma criança ranhenta no calcanhar deles e como eu disse anteriormente, todo dinheiro seria bem vindo.

No dia em questão, eu acordei cedinho, tomei um banho gelado na tentativa de despertar e desci pra tomar café da manhã. Minha mãe estava toda orgulhosa pelo fato de eu estar de pé antes do meio dia e ainda por cima pra trabalhar, mal ela sabia que todo esse esforço era pra eu me trancar no quarto e só sair quando zerasse o tão almejado jogo que com fé no Pai, eu vou conseguir comprar.

Chegando no apartamento dos Byun, me deparei com os dois já prontinhos, só estavam me esperando pra partirem e apesar de haver todo aquele drama bonito de ver ao se despedirem do seu filhinho, dava pra notar que estavam ansiosos e animados pra se mandar. Logo só restou eu e a criança no apartamento.

Byun Baekhyun, com seus cinco aninhos de idade, ostentava um incrível topete no cabelo lisinho e preto. Seus pais até deixaram uma série de dicas e observações para mim, a priori, parecia fácil cuidar do menino.

— E aí, tá afim fazer o que, baixinho? — Perguntei ao Baekhyun. Ele estava parado em frente ao sofá com os braços cruzados e me encarando fixamente.

— Você não pode me chamar de baixinho, sabia? — Bateu o pé pequeno no chão. A sandália é uma daquelas de tira, com o tema dos Vingadores. — Eu ainda sou criança e posso crescer até o teto! — Apontou para cima e formou um bico nos lábios, em seguida cruzando os braços novamente.

Não consegui conter uma risadinha, o garoto estava extremamente confiante no que dizia e isso foi fofo demais. Ele é um pinguinho de gente!

— Verdade. — Concordei por fim e me sentei no sofá. Baekhyun me lançou um olhar desconfiado. — Existe uma coisa chamada puberdade, você vai saber quando ela chegar. Vão crescer pelos no seu corpo e provavelmente você vai esticar e virar um magrelo comprido.

— Sério, tio? — Perguntou subitamente alarmado, virando pra me encarar. — Nossa, então ele já deve ter esse negócio aí. — Comentou consigo mesmo.

— Primeiramente, tio não, por favor, eu ainda tenho 16 anos. — Onde já se viu, me chamar de tio! — Pode me chamar de Jongin ou Kai, é como me chamam na escola. Enfim, ele quem, hein? Que negócio? Você não tá metido com coisa errada, né?

— Claro que não, tio Kai. Eu só tenho cinco aninhos. — Esticou a mão pequena de dedinhos finos, mostrando os cinco pra mim. Então de repente ele me encarou, ficando subitamente sério. Sério demais para uma pirralho fofinho.

Baekhyun manteve a expressão até que se sentou ao meu lado no sofá, cruzando as perninhas como um adulto faria e assumindo um ar de "Vou te contar um segredo muito importante".

Ele respirou fundo. — Eu tenho um amor.

— É o que? — Arqueei a sobrancelha, impactado.

— O nome dele é Park Chanyeol, tem seis anos. — Deu uma risadinha. Ele estava usando um tom quase sussurrado, encolhendo os ombrinhos. — Só que ele é muito alto e magrelo, deve ter isso de puberdade.

— É mais provável que você seja baixinho, Baek... Ai! Você me beliscou? — Perguntei indignado. Aquela criatura angelical beliscou meu braço!

— Você é igual ele! — Cruzou os bracinhos. — Fica zombando da minha altura! Mas o Chan pode, porquê eu gosto dele.

— E ele gosta de você? — Perguntei curioso, apesar da situação ser extremamente cômica.

— Sim, sim! — Acenou a cabeça com convicção. — Ele até ia me pedir em namoro, como viu em um filme, mas nossos pais disseram que só podemos namorar depois de completarmos 30 anos.

— É muito tempo... — Constatei.

— O Chan disse que vai me esperar, sabia? É o amor! — Suspirou alegremente.

— Você não acha que é muito novo pra saber o que é amor, Baek?

— Por que todos os adultos me perguntam isso? — O bico voltou a se formar nos lábios. — Eu gosto do Chan mais do que gosto de docinhos e fico muito mais feliz quando brinco com ele, meu coração até bate diferente. E eu divido meu precioso lanche com ele!

— É baixinho, você tá apaixonadão. — Ri soprado. — É que com cinco anos eu tava mais preocupado em brincar com meus bonecos, sabe?

— Talvez por isso você esteja aqui cuidando de mim ao invés de estar namorando.

— Você é esperto demais pra tua idade, já te disseram isso, Baek? — Apertei o narizinho dele.

— As pessoas me dizem muita coisa, tio Kai... Sabe, o Soo me contou que o irmão dele só fala de você, acha que ele gosta de você.

— Quê?! O Sehun? Gosta de mim? E você só me conta isso agora?

— É que era segredo. — Riu sapeca.

— Ah baixinho, acho que agora estamos na mesma e eu também tenho um amor. — Suspirei pensando no meu vizinho e crush desde sempre. — E não é o God of War.

Incrivelmente, eu e Baekhyun nos demos muito bem e no fim da noite, o espertinho deu a ideia de chamarmos Kyungsoo para eles brincarem e o irmão mais velho vinha junto, claro. Acabei gastando meu dinheiro comprando uma pizza pro jantar e alguns docinhos pros pirralhos, mas em compensação, no fim acabei ganhando um beijinho na bochecha vindo de Sehun e a promessa de um encontro a sós para jogarmos God of War, já que ele tinha o jogo. Ah, o amor!

Eu tenho um amorOnde histórias criam vida. Descubra agora