A virtude das coisas tristes é
me lembrar do luto da minha criança
das coisas que já perdi para o mundo,
mas não para mim mesmo.
Tornei-me tão profundamente cínico
para uma maioria que sequer
têm sensibilidade para me perceber.
Convenço-me de meu cinismo e minha
insensibilidade pois, sem tais atributos,
desmoronaria a cada desgraça que
se abate sobre o mundo e
este me é ingrato.
A cada desgraça formo-me
dramaturgo da indiferença.
Tal qual a natureza o é
com sua própria criação.
Ou seria destruição?
Diante de uma nova destruição de mim
apresento-lhes o cinismo.
Na destruição faz-se a criação
E na criação, a destruição.
Não separadamente
Ambas o mesmo gesto.
Talvez de misericórdia.
E a tristeza é o que permanece do que era antes.
O senso de que algumas coisas permanecem.
Ou, pelo menos, permanecem como podem.
O senso de que não vim do nada.