Criação

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A virtude das coisas tristes é

me lembrar do luto da minha criança

das coisas que já perdi para o mundo,

mas não para mim mesmo.


Tornei-me tão profundamente cínico

para uma maioria que sequer

têm sensibilidade para me perceber.


Convenço-me de meu cinismo e minha

insensibilidade pois, sem tais atributos,

desmoronaria a cada desgraça que

se abate sobre o mundo e

este me é ingrato.


A cada desgraça formo-me

dramaturgo da indiferença.

Tal qual a natureza o é

com sua própria criação.


Ou seria destruição?

Diante de uma nova destruição de mim

apresento-lhes o cinismo.


Na destruição faz-se a criação

E na criação, a destruição.

Não separadamente

Ambas o mesmo gesto.


Talvez de misericórdia.


E a tristeza é o que permanece do que era antes.

O senso de que algumas coisas permanecem.

Ou, pelo menos, permanecem como podem.

O senso de que não vim do nada.

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⏰ Last updated: Sep 06, 2018 ⏰

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