III - Borboleta de Sangue

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Enquanto isso, em algum canto do leste europeu, um jovem loiro contemplava um caco de vidro. Umas poucas mechas de cabelo balançaram. Um fantasma emitia uma aura triste, e ao mesmo tempo, trançava entre os fios dourados.

- Ainda decepcionado com aquilo?
- ....
- A culpa não foi sua, muito menos dela. Não precisa sofrer por isso, tio.
- ...
- Está cansado de dizer que nossas famílias nunca se deram bem, mas não custa ir lá, pedir desculpa e oferecer ajuda.

A bolinha brilhante diminuiu o próprio brilho, e deu um chorinho bem de leve, quase inaudível.

- Você pode não querer, mas ela precisa saber a verdade! Não dá pra fugir disso! Quer saber? Deixa.

O jovem deu uma última espiada no amanhecer. Seus olhos verde-acinzentados contrastavam com o laranja rosado do céu, brilhando com certeza e confiança. " Me aguardem, Delores!" , pensou ele. Fechou as cortinas, e pegou uma foto antiga em cima do criado mudo.

Na foto, um homem e uma mulher estavam abraçados, de costa para um vale escuro (provavelmente era verde, já que a foto era preta e branca). O homem usava um chapéu de aventureiro com uma pena no lado direito, e vestia um terno elegante. A mulher parecia uma princesa. Vestido longo e enfeitado, cabelo amarrado em coque, colar de pérolas no pescoço. O fantasma pairava na frente da foto, e ficou ali, lamentando e chorando baixinho. O jovem? Estava no sétimo sono.

Do outro lado do mundo, dona Carolina havia acabado de atender o telefone. Ela foi até o corredor, e gritou pelos netos, que saíram da sala de TV como raios, na esperança de comer a tradicional feijoada no jantar.

- Trabalho pra vocês, crianças.
- Mas..!
- O jantar! - Sophia completou a frase de sua irmã.
- Isso é um absurdo, vó!
- Absurdo é vocês ficarem o dia inteirinho que Deus deu sem fazer nada! Agora, vão tomando o caminho da Roça!
- Vó, onde vamos hoje? - questionou Bruna, sem tirar os olhos do smartphone.
- Estação da Luz. Há um ser emitindo energia sobrenatural lá dentro. Possessões, mortes súbitas, vozes estranhas... O de costume.
- Mas e o jantar!?
- Calma, Richard. Vou deixar tudo na geladeira. Agora, sumam daqui!

Os três se arrumaram, e partiram rumo á antiga estação no coração da cidade. Por precaução, Bruna torrou o dinheiro de sua gorda mesada com armas de airsoft com balas de sal, e entregou 2 rifles para sua irmã. Armados até os dentes, os primos entraram no local de fininho, entre as sombras, e logo avistaram o primeiro alvo da noite. Um corpo-seco segurando um pedaço de cano.

Pobre criatura, a alabarda cravou fundo em seu crânio, e uma chuva de balas o transformou em peneira. Depois, mais destes vieram, com canos e ferramentas.

- Que peninha... - ironizou Sophia. Ela sentou o dedo no gatilho, perfurando as hordas como se fossem feitas de papel, espalhando a areia de seus corpos no chão.
- Calma aí, ó! Deixa um pra mim!

Rick fora deixado para trás, e correu atrás delas, na vã tentativa de conseguir se divertir. Depois de massacrar os corpos daqueles que até o chão rejeitou, as primeiras ondas de cães possuídos saiam dos túneis escuros. A festa estava garantida para os Delore, e dava á entender que a noite estava tendendo, quando o sangue dos animais foi "levantando", e em redemoinhos, virou uma grande borboleta.

- É linda, não é mesmo?
- Sim, mana. Pena que teremos de DESTRUÍ-LA! Rick?
- Indo!!!

Com o chicote, Richard cortou as asas da borboleta antes que se solidificassem por completo, e com a criatura no chão, as irmãs descarregaram os pentes das armas. Por fim, o bicho morreu, ou assim pensavam.

A borboleta virou uma poça de sangue, e subiu pelas paredes, e virou uma nuvem de pequenos dardos. No centro da nuvem vermelha, um cristal negro, o alvo. O problema seria acertar. Sophia arrancou a alabarda da mão do primo, e a arremessou na direção da nuvem. A lâmina da ponta abriu o caminho, e com o pouco de balas que ainda restaram, Bruna destroçou a jóia escurecida.

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