IX

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Após o incidente no castelo magnifico, Lucio sabia que logo chamaria a atenção dos outros reis, e consequentemente, dA'Ordem. Sangue e vísceras se espalhavam por todo o salão, alguns beijados pelo sol, que entrava de maneira tímida pelos buracos onde antes haviam belas imagens.

Lucio caminhou em direção aos corpos, neste ponto já recolhera as asas, sentia que o mundo humano era deveras interessante, e agora tinha certeza de que eram criaturas frágeis feitas apenas de carne.

- Talvez Levi goste de um espécime, ou dois – disse observando uma poça de sangue.

Via seu reflexo no belo escarlate grosso que logo estaria coagulado; seu cabelo estava emaranhado e seu peito, nu, sujo de sangue humano. Lucio se odiou por isso, limpou seu peito e experimentou o sangue.

O gosto de ferro quase o fez vomitar. Não sabia o que Levi, Ergos ou Sirius viam naquelas criaturas. Então riu, lembrando que Sirius não existia mais. Ficou perdido nesses pensamentos até ser interrompido por um grito, um grito de criança.

Desceu pelas escadas do lado do altar, passando pela estátua do homem crucificado, por um instante pensou que aquele homem virou seu rosto, seguindo o rei com seu olhar de dor. Deu de frente com um extenso corredor de pedra fria e úmida, portas de madeira grossa estavam postas uma em frente a outra. Um choro infantil que atravessava o corredor, vinha da quinta porta à direita, estava entreaberta o que deixava escapar uma trêmula luz laranja.

Caminhando lentamente, seguiu o som, chegando mais próximo o rei conseguia ouvir mais uma voz, uma voz de homem, carregada de adrenalina.

- Cale a boca, isso logo vai acabar – disse o dono aproximando-se da porta – espero que ninguém tenha ouvido hehe.

Mas se assustou quando se deparou com um homem próximo a porta do quarto, não qualquer homem, um rei. Lucio pode observar, pelo pequeno espaço que a porta permitia, que, sentada em uma cama quadrada, alta e muito luxuosa com um dossel cor de vinho, havia uma menina, com menos roupa do que uma criança normalmente teria, e com trapos ao invés de roupas.

O homem estava branco, mais branco do que Lucio, mas mesmo assim tentou manter a postura.

- Sim, irmão? – disse uma papada tremula e um rosto cheio de manchas, era velho e enrugado, que nem o outro velho. Então, discretamente, tentando evitar que o rei visse mais algo, o velho saiu do quarto, se apertando o máximo que pode, e fechou a porta a suas costas – está procurando alguém?

Lucio olhou o homem de cima, vestia uma camisola leve e branca, quase transparente. Seus pés estavam descalços, e as manchas o acompanhavam até lá. Era desinteressante, mas o que estaria fazendo com aquela criança?

O rei empurrou o velho, adentrando no quarto. Era espaçoso, alguns moveis de madeira, muito belos, estavam espalhados de forma muito bela. Um tapete escarlate se encontrava aos pés da cama. Mas o que chamou a atenção do rei foi um retângulo preto com vidro na frente, estava pendurada na parede, aquilo não se encaixava com o quarto. Seria um espelho?

Olhou para cima, uma esfera emitia luz, sem chamas e também não emitia mana, magia humana era incrível, em todo e qualquer reino, inclusive para um rei.

Então viu a criança, vermelha e chorosa, seu rosto inchado a fazia parecer uma maçã, seus cabelos eram brancos, refletiam a luz do ambiente, lisos, mas mesmo assim estavam emaranhados. Era pequena, não passava de oito anos e estava encolhida, tremendo com medo.

- socorro... – disse, mais em lagrimas do que em palavras

O velho se aproximou do rei, lhe tomando o ombro, suas mãos estavam geladas e suadas.

Vitor Salavar - Os Quatro ReisWhere stories live. Discover now