Tudo começa do mesmo jeito: o cara alto bonito conhece a garota de família rica em uma consulta de emergência do pai dela numa viajem de férias, eles se apaixonam, se mudam juntos para a Coréia, se casam tem uma linda filha, então tudo desaba eles se separam e a garota se muda com o pai para o Canadá. É talvez nem tudo seja assim tão comum como a minha história não é mesmo? Mas bem, a garota foi feliz. Ou ela pensou que fosse.
Quando ela era pequena tudo parecia bonito e cor-de-rosa, porém a tempestade da vida entre um cardiologista e uma produtora musical não é bem o ideal de qualquer um. E como todo mundo bem sabe se você não alimentar o fogo ele morre. Pois bem. Meu pai me levou junto de volta para a filial de sua empresa no Canadá, já que minha mãe nunca sacrificou uma hora sequer à mim, e disse que "não pode estar disponível para cuidar de mim por causa de seus clientes mas que investiria no meu futuro também, e seria melhor eu ficar com meu pai".
Então aos 8 anos de idade eu embarquei para um país completamente desconhecido com meu pai, e minha mãe se associou à gravadora 1TheK e começou a trabalhar em um projeto de uma gravadora chamada Big Hit. É claro que foi muito confuso pra mim na época. Quando eu me mudei, eu não era nada sociável e tinha receio de fazer qualquer coisa. Eu era uma criança que introvertida como ninguém, não podia recusar amizades. E Justamente quando me faltava um mês para a mudança, um garoto (talvez o mais encantador que já conheci) se mudou para a casa ao lado. Acho que se chamava Park Ji Min.
De todos os meus 8 anos na Coréia, aquele foi de longe o melhor (ou pior) mês pra mim. Ele até me ensinou à andar de bicicleta e me "emprestou" seu medalhão de uma pedra lápis-lazúli como garantia de sua promessa: um dia quando ele se tornasse famoso ele me visitaria no Canadá e pegaria sua pedra de volta para transformá-la em meu anel de noivado. Eu não acho que posso dizer que esse foi o meu primeiro coração partido de forma literal, já que a até onde eu sei minha paixão por ele foi mais unilateral que sequer recíproca e ele provavelmente se esqueceu de mim logo depois. Mas eu guardei sua pedra. E a promessa.
Enfim, ao chegar no Canadá, a língua, o clima, a saudade da minha terra e os costumes foram apenas um pedaço do bolo. Nos primeiros meses eu me sentia como uma alienígena. Mas nada que a boa companhia do meu pai não pudesse curar. Com 11 anos eu já estava me adaptando ao lugar e me tornando uma pessoa muito diferente. E com a necessidade de aprender inglês veio meu interesse por cinema.
Depois de me esforçar muito nos estudos, ser uma boa menina e pedir incessantemente para meu pai, eu entrei em um acampamento de artes na turma de teatro. Foi um erro claro. Eu imaginava que iriamos estudar cinema e ver filmes mas parece que o objetivo era atuar. Então eu me dei muito mal já que as crianças de lá eram muito mais experientes na área e apenas outra garota tinha 11 anos. Até que não foi tão ruim assim, afinal Melanie se tornou minha melhor amiga desde então.
Quando cheguei no dormitório, eu certamente não estava preparada para a grande bagunça que aquilo prometia causar. O alojamento era em uma espécie de readaptação de chalés e ficava não muito longe do lago Manitoba. Era verão mas não parava de chover desde que chegamos, e no meu chalé havia uma enorme bagunça enlameada de garotas desesperadas para salvar suas maquiagens e bijuterias, e quanto á mim , eu não sabia a diferença entre uma chapinha e um Cacheador de cabelos.
Para chegar ali nos aposentos precisávamos enfrentar uma escadaria infinita, 2 rampas de pedra que com a chuva se tornaram mais paredes de escalada mortais que rampas, e passar pela inspeção das monitoras.
Ao chegar no chalé o cheiro de mofo e erva-doce era quase impossível de não se notar, bem espalhado pelo gande cômodo fechado e estreito, de janelas com telas surradas. Mas como eu cheguei atrasada e tive que ficar na cama de baixo da beliche do canto que tinha O PIOR rangido do mundo eu não parei muito para reparar. Mas enfim, era melhor que nada.
Assim que sentei na cama uma garota americana apareceu pendurada de ponta cabeça na parte de cima para mim.- Oi! – Ela me disse arrumando seu emaranhado de cabelo no rosto
- Jesus de misericórdia
- Cristã?
-Se sim, o que você tem a ver com isso?
- Nada, é que geralmente quando alguém diz "oi" você deve saudar de volta – Ela saltou da cama em uma cambalhota triunfante e me abriu um sorriso da de orelha a orelha – Meu nome é Melanie.
- Ah muito prazer meu nome é Hye Ra. Essa cambalhota foi incrível – Eu ainda estava boquiaberta com o feito.
- Você não é daqui né?
-Não
-Ah que bom essas garotas daqui são tão metidas.
- Como você sabe que eu não sou também?
- Eu sei lá! Você é? Não parece...
- Acho que não... – Ela prosseguiu me encarando com determinação, como que procurando algo para começar um novo assunto – O que foi?
- Eu vou ser sua amiga de agora em diante
- Quem disse que eu preciso de uma amiga
- Eu disse. Você e eu temos dentinhos separados iguais. Mas é claro que, em mim fica melhor.
- Eu não devo ser a única com esse defeito nos dentes não é?
- Não mas, como eu e diferente das outras garotas você não está com uma boca metálica tentando consertar o que na minha opinião é um charme.
- Ah tá
- Então o que me diz? Amigas? – ela estendeu a mão
- Ok
- Qual sua oficina?
- Teatro
- Legal, estamos juntas – Ela me passou um cronograma com a lista de participantes de cada grupo.
- Certo... – No fundo eu preferia estar sozinha, mas até que ela não era má companhia.
- Então a chuva parou. O que acha de um mergulho?
Desesperada em parte por finalmente por ter uma amiga e também por estar com muito frio e longe de poder recusar a proposta de Melanie, eu pus meu maiô tomara que caia e fui arrastada pelo braço por Melanie para o píer onde nós demos um pulo de mãos dadas.
Quando olhamos em volta não tinha uma garota sequer além de nós.
- Melanie
- Eu sei querida. Estamos no lado dos garotos. Relaxa – ela subiu em uma boia grande junto a um garoto qualquer – vamos todos curtir muito certo?
Eu fiquei impressionada ao ver alguém tão à vontade perto do sexto oposto. Até hoje eu me pergunto o que seria de mim se eu não tivesse conhecido Melanie, mas ainda bem que a encontrei.
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the backstage (descontinuada)
Romanceo que fazer quando conflitos familiares acabam te levando a ser vizinha do potencial amor de sua vida? se já não parece fácil, imagine não fazer ideia de quem ele é dentre 7 pessoas? e esse com certeza deve ser no minimo o menor dos problemas de Hye...