Prólogo

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Anabella

BDSM é uma relação que a base é a disciplina da submissa diante ao dominador. Onde a submissa se entrega e se submete aos desejos e vontades do dono. O prazer da submissa é o prazer do dono. O dominador dá ordens.

Leio mais uma vez esse maldito papel, na verdade meus últimos anos de vida tem sido assim: lendo e relendo para nunca esquecer, na verdade ele não deixa eu esquecer. Quantas vezes me vi no banheiro da casa dele, toda encolhida, sentindo a água quente aliviar meu corpo da dor, mas sempre lembrando de suas palavras.

Você só serve para isso, você é minha e de mais ninguém.

Pare de chorar como um neném, você sabia que seria assim desde o início. Ninguém mais te aguentaria Anabella, agradeça a sua família por ter te vendido!

Quantas vezes fiquei tremendo ali no chão, contando as respirações, quase sufocando num ataque de pânico causado por uma sessão de tortura, porque aquilo não era prazer, nunca foi. Quantas horas fiquei ali no chão daquele banheiro depois de ele ter voltado para a cama, como se nada tivesse acontecido.

"Como vim parar aqui? Como virei essa mulher? "

Repetia essa frase diariamente e você pode estar pensando nesse momento:

"Levante,chame um táxi e vá embora!"

Não é assim tão fácil quando você foi moeda de troca por conta de dívida de seu pai e tem um contrato assinado.

Quantas vezes me levantei e não me reconheci no espelho, quanto ódio eu senti pela mulher que me olhava de volta. Quanto ódio eu sentia do meu pai por ter feito isso comigo. Quantas vezes voltei para aquela cama em vez de sumir e acordei com os braços dele em volta de mim, dizendo que a culpa tinha sido do meu pai. Ele sempre foi assim. Ele sempre deixou claro que seria assim. Eu tinha de mudar e aceitar a vida que me foi destinada. A quantas festas fomos e ele me exibia como troféu, a esposa perfeita e ideal.

Aprendi a não falar nesses eventos, porque um "a" dito errado iria estragar a noite e ela com certeza terminaria naquele terrível quarto.

Quando alguém do seu convívio me perguntava se eu era feliz tinha que estampar um sorriso no rosto e dizer que sim, caso contrário outra humilhação sofrida em silêncio.

Era sadismo, ele é um sádico. Eu via como ele gostava desse poder. E com o passar dos anos só piorou. Parei de ter expectativas e passei a aceitar.

Não poderia deixar que achassem que ele era um monstro. Não contaria para ninguém. Estava totalmente sozinha. Eu sempre fui sozinha.

Na minha solidão, não enxergava mais nos olhos dos outros o reflexo que indicava o que era normal. Só enxergava o reflexo nos olhos dele e comecei a acreditar no que ele me dizia sobre mim. Deixei que ele definisse a realidade. Parte de mim sabia que quando soubessem tudo o que estava acontecendo, as pessoas me forçariam a sair dali para sempre. Mas eu não poderia falar.

NUNCA.

Optei em ser uma pessoa amarga e triste, sem vontade de viver.

Mas a vida nos prega peças inexplicáveis, o ciúme doentio do meu marido me trouxe ele, na verdade eles. E com os dois aprendi que quando tivermos que encarar períodos difíceis e lidar com pessoas daninhas, podemos optar por aprender com a experiência e seguir em frente, assumindo a responsabilidade por nossa própria felicidade.

Meu protetor de expressão séria. Meu pequeno anjo de olhos cor de mel. Eles chegaram como quem não quer nada e revolucionaram a minha vida.

Apenas um olhar e a minha chance para voltar à vida começou.

Apenas Um Olhar (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora