Capítulo 1
Sua morte será justiça poética.
Lembro-me de ouvir, em vívidas memórias, um de nossos professores explicar com animação sobre as pessoas que viveram antes de nós. Lá embaixo.
Os Terrestres.
Nos explicou que, na sociedade antiga, eles acreditavam que a humanidade iria sempre evoluir para o melhor.
No entanto, no nosso futuro atual, há também quem diga, e comprove, que uma grande parcela da população ainda se apega fielmente a líderes religiosos e aos velhos bons costumes. Aprendi que, mesmo no mundo antigo havia resquícios de conservadorismo que resistiam ao avanço dos tempos.
A história, mesmo aquela que tentam reprimir, nos mostra que, apesar das promessas de um futuro melhor, a humanidade muitas vezes encontra conforto na familiaridade das crenças do passado. Nós, como líderes, sempre arranjamos uma forma de tapar os ouvidos e silenciar as vozes dos cidadãos. Acredito que é isso o que sempre nos fez regredir como sociedade, século após século.
Foram oito anos, oito anos. Anos maravilhosos em que o meu professor se dedicou com cada gota de seu sangue para semear ideias que, a princípio, pareciam veneno para a crença de alguns. Nos fazer enxergar, e sentir isso em nossas entranhas. A ver a verdade por trás de cada mentira.
Às vezes, quando nos encontramos entre os opostos da evolução e da tradição, nós moldamos cada vez mais nossas escolhas baseadas nessas tradições. É como se navegássemos em um mar turbulento, arrastados por correntes (ou melhor, pessoas) que desejam a preservação dos modos antigos. Essas pessoas nos arrastam junto.
O meu professor nos dizia que, "A verdade pode ser um conceito fluido para muitos, mas para você, ela deve ser uma rocha sólida em que possa se apoiar. Se isso não acontecer, não vai restar nada de nós no final disso".
E ele morreu por isso, mas nós não deixamos de carregar as suas ideias. Ele vive. E a vida, agora, só depende unicamente da nossa capacidade de sonhar.
Eu sei que nós ainda buscamos orientação e consolo nessas crenças e tradições que nos foram transmitidas desde o nascimento. Mesmo quando nossa intuição sussurra para seguirmos por outros caminhos essa decisão ainda parece confortável. Esse é um conflito presente em muitos corações, e talvez também esteja presente no seu.
Ainda sim, mesmo diante dessa dualidade, a possibilidade do amanhã chegar para esses corações permanece igual.
O universo não se importa se você acredita em uma coisa ou em outra, se você mata em nome de sua fé ou se releva certas atitudes apenas para lhe garantir a possibilidade de se tornar imortal em seu paraíso.
A vida continua mesmo que exista a violência e a barbárie dentro do peito de alguém.
E talvez, neste momento, para você que lê essas palavras, também exista o amanhã. Talvez haja a possibilidade de mil, três mil ou dez milhões de outros dias para se viver. Talvez para você haja tempo para se dar e vender. Tanto tempo que possa até desperdiça-lo. Mas para alguns de nós neste novo lar, não existe muito tempo.
Para alguns de nós, acreditar em dias diferentes, é como desejar que flores crescessem em mármore. A verdade por aqui é que nunca se sabe quando chegará a sua vez.
É ingênuo e cínico ler isso e não ligar os pontos, para alguns de nós esse tempo não existe.
Pois claro, não se sobrevive muito tempo no espaço.
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The End Of Tomorrow (Lauren/ You)
Science Fiction▪▪▪ Inspirada em "The 100" ▪▪▪ Distopia (dys + topos + ia) substantivo; Etimologia Grego. Qualquer representação ou descrição de uma organização social caracterizada por condições de vida insuportáveis. Arcaico; da raiz...