"Eu sei que você está dizendo que não quer me machucar. E talvez você deva mostrar um pouco de misericórdia. A maneira como você olha, eu sei que você não veio para pedir desculpas"
– One Direction
134 days before
A camisa preta do The 1975 já mal cabia mais em seu corpo. O isqueiro de metal já não formava mais fogo. Os maços de marlboro red já não lembravam mais o gosto dos lábios dele. Dizer palavrões não era a mesma coisa. Tomar coca-cola não era especial. E, a falta já não doía tanto quanto antes.
Se não tivesse passado os últimos meses enterrando sua consciência em álcool e maconha poderia afirmar firmemente que todas as coisas de Finn Wolfhard que estavam em sua posse haviam sido roubadas e não dadas por ele. O isqueiro antigo com as letras F e W marcadas fora tão riscadas quanto quando estava nas mãos de seu antigo dono. Mille não recordava muito bem como todas essas coisas haviam parado com ela, mas, ela lembrava perfeitamente bem de entrar no sótão (usado como quarto por Finn) e encontrar o lugar vazio. As caixas que nunca foram desempacotadas haviam sumido, deixando apenas suas formas pelo chão coberto de poeira. A cama, aquela em que eles tanto desarrumaram, em perfeito estado. A janela coberta por uma cortina que ele nunca usaria. Havia também uma sacola no quarto e três maços de marlboro deixados para trás com o isqueiro favorito do garoto. Caso esteja certa, também tinha um cantil de bolso com vodka, ou não, não sabe se foi ela mesmo que comprou um quando eles terminaram e esqueceu-se como se esqueceu de centenas de coisas que aconteceram depois de sua ida. Como por exemplo; Como tornou-se tão próxima de Noah Schnapp. Como foi sua primeira experiência cheirando fenciclidina (o famoso poeira da lua), mas não faria tanta diferença assim porque ela continuou armando aquelas poeirinhas brancas sobre a mesa e aspirando com toda a vontade do mundo. Como conseguiu maconha. Como seus pais reagiram todas as vezes que ela não voltou para casa depois de uma festa ou voltou com alguém pela janela (alguns garotos ou garotas, ou até mesmo os dois, sempre dependia do quanto sua ansiedade atacou no dia).
Como tornou-se pior que um dia ele já foi.
Ergueu o moletom preto que ele a deu depois do seu primeiro encontro com ela. Aproximou-o do rosto, podendo sentir o cheiro da nicotina misturado com o perfume madeirado que ele usava na época e quase chorou com a lembrança daquele dia. "eu não sei por que Rangi te colocou no meu caminho, mas você está aqui para me machucar" "Eu nunca machucaria você". Riu amargurada, escutando as mensagens na caixa postal que ele havia deixado, lembrando do qual estúpida foi em acreditar nele.
Millie virou-se com os olhos cheios de lagrima para Noah encostado na batente da porta, um cigarro acesso entre seus dentes e os braços cruzados. Seu cabelo castanho desgrenhado caia sobre a testa, quase tampando seus olhos cor de avelã, desprovidos de qualquer felicidade. Ele transpirava raiva. Não só do mundo, mas de Finn.
"...eu te amo! Até logo" a voz grossa de Finn saiu do alto-falante.
– Já disse o quanto odeio esse cara? – Noah sussurrou, deixando a fumaça escapar por suas narinas. Millie esticou a mão para que ele dividisse o cigarro com ela, e ele fingiu esticar para entregar, mas antes que alcançasse seus dedos ele deixou que caísse ao chão e pisoteou a bituca. Ele odiava o fato dele estar tornando-se usuária de varias drogas, por mais que ele também fosse ela, não merecia isso por causa de um estrangeiro estúpido como Finn Wolfhard.
– Já, varias vezes.
– É, mas eu odeio, e quero ressaltar isso. – Ele riu seco, claro que sim, porque além de não saber nada sobre Finn, Noah parecia incapaz de sorrir como uma pessoa comum. Millie achou ter visto ele sorrir uma vez, mas notou depois que parecia mais um estimulo do corpo do que realmente um sorriso. Ele era sempre assim. Confiante, sereno, quieto e bruto. – Ah, antes que me esqueça, Joey o encontrou no estacionamento do colégio sozinho hoje. Uma pena você não estar lá para ver, foi um belo acerto de contas. Aquele merdinha vomitou tanto sangue que eu jurava que ele ia por seus órgãos pra fora. Aquele amigo dele, Jack, resolveu me encarar por não interromper a briga.
Millie não respondeu, então, Noah apenas continuou a narrar o acontecimento. Ele dava golpes no ar pra mostrar como acertou em cheio o rosto do Grazer.
– Foi estúpido de tão fácil. Ele parecia uma banana, mas era bem resistente, sério. O derrubei umas três vezes no chão até cansar, já que ficava o tempo todo levantando. – Noah deu de ombros, apoiou o rosto na mão e suspirou. – Acabei puxando Joey para irmos embora, porque você sabe, ele mataria aquele fumadinho se continuasse.
– E ele está bem?
– O Jack? Sim, fiquei com a consciência pesada e fui perguntar ao Cody depois. Foi quando recebi essa belezinha. – Ele virou a face para Millie mostrando os hematomas no maxilar e o corte na boca. – Porra, eu tenho que agradecer Vincent por isso depois. Uma vadia do terceiro ano me chupou por piedade hoje. Se soubesse que era tão fácil assim teria entrado em brigas antes.
Millie acenou com a cabeça, voltando a apertar o moletom em sua mão.
– Não era isso que queria saber, né?! Não importa como ele ficou o importante foi à surra merecida que levou.
– Tanto faz. – Ela respondeu, enquanto levantava e andava calmamente até cômoda, de onde tirou um cigarro e uma caixa de entrega do correio. – Chegou hoje, estava esperando você aparecer pra abrir comigo. Sabe?! precisava de você por perto pra ter coragem.
Sentados sobre a cama, dividindo um cigarro Hollywood de menta, eles abriram a embalagem de remetente Finn Skata Wolfhard.
Não havia muita coisa dentro, apenas um pendrive, alguns DVD's dos Beatles e um livro antigo do O pequeno príncipe, que logo parou na mão de Noah.
– Por que diabos ele te mandou isso? – Perguntou o rapaz depois de trazer o notebook e o fone para cama, onde eles se ajeitaram para abrir o pendrive.
– Não faço idéia.
– Por o menos você tem uma coleção de DVD do Beatles agora.
– É.
– Olha, cara, se você não estiver satisfeita com isso eu posso ir lá e terminar o que o Joey começou.
– Noah! – Ela o repreendeu. Queria falar muito mais, mas, parecia não ter forças para isso, então apenas clicou no primeiro áudio que havia dentro do pen drive e esperou que o melhor amigo se ajeitasse para ouvir também.
"Hey, eu me sinto estúpido fazendo isso." – Era Finn dizendo. A voz suave e cansada, como a de alguém que acabou de correr uma maratona. Suas lufadas de ar estouravam um pouco o áudio, porém, não incomodava.
– É porque você é. – Resmungou Noah, mas Millie o socou para terminar de escutar.
"Hoje é o segundo dia do tratamento, e eu não faço idéia se sairei daqui vivo. Mas, você precisa saber como eu me sinto e meu irmão sempre disse que o melhor jeito de fazer isso é com música. Ele morreu de leucemia cantando para mim, e eu posso morrer de câncer cantando para você. Faz tempo que não toco nada, então, escute apenas com seu coração, ok?" – O som da sua risada genuína e gostosa foi tomando conta do áudio, entretanto, interrompida pelo violão que iniciava FallingForYou do 1975 e seguia por musicas próprias e covers"
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Hawaiian Girl | ST+ IT Cast |
Ficțiune adolescenți❝Eu sinto como se estivesse no mundo errado. Porque eu não pertenço a um mundo onde nós não estamos juntos. Eu não. Há universos paralelos onde nossa história não aconteceu, onde eu nunca sai de Nova Iorque e você nunca quebrou seu ukulele. Onde nós...