Can't take my eyes off you

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    Meu nome é Maitê. Amável, Amada ou, se preferir, "Senhora do Verão". Tenho dezessete anos e curso artes visuais. Ingressei na faculdade em fevereiro desse ano com meu melhor amigo Nolan que cursa química. Sempre fomos apaixonados pela arte. Só que eu sempre fui mais apta para isso do que ele. Foi através dela que criamos nossa amizade top de anos. Agradeço todos os dias por isso. Ou melhor, quase todos os dias. Mais especificamente de maio para trás, antes de toda a merda acontecer.

    É neste blog pessoal e muitíssimo fracassado que irei contar minha história com Nolan. Espero algum dia poder dizer a ele tudo isso que será documentado. E caso você esteja lendo isso, Nolan, por favor, vá se foder.

05 de Abril de 2018

     "Obrigado por ser você". Foi o que Nolan disse a mim quando andávamos pelo campus de mãos dadas. Ele sempre foi como meu irmão. Temos apenas dez meses de diferença e nos conhecemos desde sempre. Porém naquele dia eu senti algo diferente.

    Parei por um instante e olhei em seus olhos negros. Ele também parou, encarou-me. Suas sobrancelhas franziram e os olhos espremeram-se por um breve momento. Logo em seguida abriu um grande sorriso acompanhado por duas covinhas. A frase foi totalmente aleatória, mas pensei no tempo que ele demorou para finalmente balbuciar as palavras. Tão repentinas.

    "O quê?" Foi o que consegui responder de volta. "Tipo, por que isso do nada?", melhorei a resposta burra depois de alguns minutos de culpa.

    "Eu só..." Nolan não terminou. Apenas ficou olhando nos meus olhos. Estávamos próximos. Sempre estivemos, mas de alguma forma aquela proximidade momentânea incomodava-me. Por uma fração de segundos senti que ele apertou minha mão. Aquilo definitivamente estava incomodando-me. "Você é boa demais para ser verdade. Digo, sua amizade é a melhor coisa que eu possuo e sou muito grato por ser você... a minha amiga", Respondeu, finalmente, depois de uns minutos que pareciam séculos. "Eu sei que foi repentino, mas eu estava pensando e você é essencial na minha vida", continuou. "Não sei o que faria sem você". Essas palavras também eram incômodas, não sei por quê, mas aquilo era muito desconfortável. Eu tenho certeza que se ele tivesse dito aquilo meses atrás, antes de ingressarmos na faculdade e morarmos na pensão da Leo, não soaria estranho. Mas depois da realidade mostrar que nossas vidas mudaram, que não éramos mais os adolescentes que andavam de skate pela cidadezinha do interior e que Nolan não era mais um adolescente com o corpo desproporcional à cabeça, tudo que ele dizia em relação a nós dois soava absurdo.

    Pisquei algumas vezes tentando digerir aquilo e respondi com muita calma, como se eu não estivesse nem um pouco nervosa por dentro: "Eu também sou grata por ser você, Nolan. Você é a pessoa que mais me apoia em tudo que eu faço e sou muito feliz com sua amizade. Obrigada por ser sempre sincero comigo", sorri de volta e continuamos a caminhar pelo campus. 

    Nossas mãos estavam soadas quando chegamos no refeitório. Eu definitivamente odiava andar de mãos dadas, mas Nolan sempre teve esse costume (incrível como ele conseguiu manter pelo menos isso depois de anos de amizade). Sentamos à mesa e peguei meu celular no bolso da calça. Eram onze e quarenta e cinco da manhã. Só faltava uma aula para acabar o primeiro turno. Como eu estudava de manhã, tinha a tarde livre para entregar currículos pelas redondezas do campus. Não pretendia mais gastar o dinheiro de meus pais para nada. Fazia quase dois meses que eu tinha saído de casa e não pretendia ficar nem mais um na dependência deles.

    Uma mensagem chegou no celular. Era Nolan: "Eu estou aqui ok :p".

    "Desculpa, fui ver as horas e me deparei com uma mensagem da minha mãe. Não podia deixar ela no vácuo". Falei ao ler a mensagem. Ele encarou-me novamente. Aquilo já estava dando-me dor de barriga.

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⏰ Last updated: Sep 17, 2018 ⏰

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A arte nos dezoito anosWhere stories live. Discover now