O que fazemos em meio ao tédio? Categoricamente nosso cérebro se projeta para buscar uma única forma de entretenimento que seja, saindo de um estado de pensamento mórbido, mente vaga. Qualquer coisa pode ser no mínimo atrante para um corpo em meio ao tédio, desde abrir mil vezes a geladeira em busca de algo a comer, ou só uma mera desculpa para ter algo concreto para ver. Diversas vezes, andando de um lado ao outro, o que fazer? Simplesmente não tem nada a ser feito pois agora nesse momento tudo está em seu devido estado perfeito. Há de ter que bagunçar para poder arrumar aqui.
Ja um pouco cansada de tanto procurar um nada a fazer, de sorrateiro meus olhos vagam pelo quadro e encontram uma cômoda. O que de interessante pode haver em uma cômoda? Por fora aparentente nada, mas o interior é o que interessa aqui. Não tinha nada pra fazer mesmo, caminhei sem direção. Só queria abrir uma gaveta. Material de madeira envergada bonito de ver, decepciona saber que uma árvore morreu por isso. Abrindo a gaveta, a primeira coisa captada por minhas retinas oculares é um punhal. Sabe, um punhal daqueles bem bonitos, os gumes tão amolados que poderiam cortar-me só de olhar, o cabo tão firme e com desenhos rústicos antigos em cores escuras. Uma obra de arte, pensei. O que de legal que eu poderia fazer com um punhal? Cortar as unhas? Cortar meu cabelo? Há, eu só conseguia pensar em matar alguém. Obviamente, quando se vê uma arma branca em evidência, você imagina ela sendo desferiada em um corpo, jorrando sangue, dor, sensação. É isso, é o que mais me remete olhando para esse punhal. Sensação. Quantas sensações um objeto poderia lhe causar? E quanto a você, que sensações remeteria a um objeto? Confesso que me apaixonei pelo punhal, queria ele pra mim mas eu sabia que era pedir demais em ter algo tão valioso e intenso como aquele. Não suportaria, eu iria querer saber como é a sensação de sentir a pele em brasa, rabiscando com a ponta da faca.
Me contentei apenas em contemplar sua majestade.. era pouco mas era o bastante pra mim. Fechei a gaveta com uma sensação de preenchimento e votei a me deitar, não mais cansada de procurar pelo que me agradasse e não mais tão entediada como antes. Comecei a pensar que poderia ser terapêutico para mim, abrir a gaveta de facas na cozinha e imaginar elas fatiando alguma coisa..