possuo feridas
cortes profundos
em carne viva
e em exposição
(aberta ao público) nessa alma
e o sal desse mar
tão materno quanto a batida de um coração
parece nem se importar
e abraça assim mesmo
e faz arder
mas ensina
e sara, e cura
e cicatriza
e é indelével
e cada centímetro dessa pele grossa
é feito da areia sob meus pés
a qual se faz misturar grão a grão
com esses delicados abraços e afagos
areia que se faz frágil
se faz quente
se faz pequena
e é mesmo tão pequena
se fez pequena tantas vezes
que chegou a ser imensurável
num piscar de olhos
de tanto se fazer grão
quando se era tempestade
e cada fio desse cabelo dourado
que dá luz a todas essas flores
pegou emprestado
ou de presente
um pouco dos raios
que acabaram por dar manchas nas costas
de tão soltos que se tornaram
e de tão alegres que ficaram
por terem sobrevivido
junto a flores com tantos espinhos
por terem descoberto
que sol é alimento pra planta
nunca imaginei
que margaridas tivessem espinhos
e eu nunca imaginei
que me dariam esses cortes tão visíveis
e eu nunca imaginei
que escreveria sobre isso
ou sobre qualquer dor
ou sobre qualquer amor
ou sobre qualquer mar
ou sobre qualquer cura
ou sobre qualquer quase-risada
que eu daria pensando nisso
e eu nunca imaginei
que seria setenta por cento mar
que gostaria de ser sol
que qualquer terra pode ser fértil
e que essas pequeninas margaridas
se tornariam grandes e bonitas
o suficiente para serem indeléveis também
- beabee
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-imensurável-
Poetry-beabee- "[...] e nada satisfazia as minhas mãos ainda tão jovens que já gostavam de escrever sobre tudo que descobriam na tentativa falha de tentar entender porque eu sendo assim tão ingênua e tão cheia de vida sentia (e sinto) todas essas coisas ...
