Abril de 1956

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O bar estava aberto, mas apenas para limpeza.

Enquanto as damas de companhia dormiam ou apenas ficavam em seus quartos, Jamil havia lavado todo o salão, encerado o chão, arrumando o palco, organizado a prateleira de bebidas e lavado todos os copos. O Le Trous estava limpo e brilhava.

Passando o pano na última mesa e enxugando a água, Jamil se deparou com Charles sentado em uma das mesas de entrada. Estava com um classificados debaixo do braço e usava uma camisa social branca com um terno por cima. Seus cabelos castanhos caíram sob sua testa, e Jamil percebeu que estavam molhados. Como se ele tivesse tomado banho há pouco tempo.

Paris em Abril era de primavera, então o tempo estava fresco. As flores encantavam as ruas e havia turistas de todos os lados. Crianças e mães andavam pelas ruas lotadas, e o cheiro de café inundava a mente de qualquer um que passasse ali.

O Le Trous ficava em uma rua cheia de movimentação. De um lado, cafeterias e lanchonetes, do outro, livrarias e boutiques. Ele ficava entre uma galeria de arte e um centro de mercados.

Jamil desceu a cadeira da mesa e reparou o quão Charles era um pouco enigmático. Ele não acendeu nenhum cigarro, apenas retirou seu terno e jogou na cadeira. Assobiou para uma moça que o cumprimentou amigavelmente, e tirou uma caneta do bolso com uma agendinha. Riscava algumas coisas e anotava outras.

Jamil poderia facilmente ignorar a presença dele ali. Poderia dar meia volta e voltar para o quarto dos fundos, onde sua máquina de escrever o esperava, com os outros rascunhos, e uma garrafa de xerez.

Ele já estava pronto pra jogar a toalha na pia e ir pro quarto, quando Fermín entrou feito um relâmpago no bar.

— Meu Deus, eu preciso que você me esconda! A Srta. Lavine está atrás de mim!

—Baby! Não corra meu amor!  —Os gritos de Lavine foram escutados.

Jamil mal deu tempo de Fermín proferir mais uma fala. O puxou pelas lapelas do terno e o jogou para dentro do balcão.

—Fique calado — Ele murmurou. A jovem Lavine entrou atrás. Seu vestido de poá balançou feito um vento e sua bolsa sacudiu. Seus cabelos levantaram.

—Onde está Fermín? Eu o vi entrando aqui!

— Quem?

— Fermín Vincent! O dono do meu coração.

— Senhorita, importuno eu que esteja enganada. Não entrou nenhuma rapaz aqui agora. Aliás, o bar está fechado.

— Não tente me enganar, meu senhor. Eu vi sim!

Jamil tossiu e Fermín se encolheu debaixo do balcão. Os cabelos loiros da moça jovem estavam brilhando e Jamil imaginou que seria um Marilyn Monroe fajuta.

— Bem, posso lhe afirmar que nada passou por aquela porta.

— Seu mentiroso...

Quando exaltou-se, Charles se aproximou. Sedutor, ele passou uma das suas mãos na cintura da garota, que gemeu ao contato. Inesperadamente e sem perceber, Jamil revirou os olhos.

— Bem, acredite no rapaz — Charles falou roucamente — Eu juro que também, o rapaz aqui, não entrou. Talvez tenha sido uma visão falsa de sua mente.

— Ora, meu senhor — Ela sorriu — Falando mansamente, até eu posso acreditar. 

— Acredite. Ele deve ter passado pelo beco. Pode procurar nas ruas atrás daqui, perto do botequim ou da boutique.

— Não sei se desejo procurar mais, se tenho um belo homem aqui.

Charles sorriu em malícia e Fermín engasgou com uma risada, vendo Jamil fazer cara de nojo. Ao perceber que o amigo riu, Jamil deu um discreto chute na barriga de Fermín que urrou baixinho.

Alabama Song (HISTÓRIA OFICIAL)Onde histórias criam vida. Descubra agora