Capítulo 2 - Boca Suja

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Enquanto passo pela porta sinto algo bater no meu ombro, como se estivesse tentando passar por mim.
— Droga! Olhe por onde anda caralho! — Digo involuntariamente para o alguém que esbarrou em mim. Percebo que esse alguém é...
Iris! Você está bem? — Logo chega aquela tal de Bonniebel, ajudando a menina de cabelos coloridos a se levantar.
— Sim. Estou. — Íris me encara de relance com um olhar mortal e Bonniebel faz o mesmo.
— Me desculpe! Foi sem querer. — Digo involuntariamente, me sentindo totalmente otária.
— Preste atenção por onde anda, boca suja. — Bonniebel diz e se retira da minha frente e, logo todos estavam em seus lugares. Incluindo eu.

Droga. Hoje é meu primeiro dia de aula e já me meto em confusão com pessoas que nem conheço.
Agora é o período da aula de história.
A professora estava explicando a matéria com sua voz tediosa e calma, fazendo eu sentir um sono momentâneo que resolvi ceder por conta da minha leve dor de cabeça.
Mas não se passa muito tempo até alguém me interromper me cutucando no ombro.
— Marcy? É você mesmo? — Voz masculina familiar. Viro pra olhar e vejo o ser desprezível ao meu lado.
— Ash... — Sussurro pra não quebrar o silêncio da sala.
— Sim, eu mesmo! — Ele se aproxima rapidamente e me beija sem cuidado e sem minha permissão. Sua boca com lábios ásperos tinham gosto de álcool. Nojo.
Empurro Ash pelos seus ombros com força para afastá-lo.
— Você está louco?! — Grito sem acreditar no que aconteceu. Ninguém se manifestou sobre meu grito ou nossa conversa. Apenas estavam escrevendo em seus cadernos como se fossem todos surdos.
— Como ousa me chamar desse jeito, idiota? — Ele disfere um tapa em meu rosto.
No impacto me levanto bruscamente e todos olham pra mim com curiosidade.
— Marceline... — Ouço uma voz que me despertou para realidade. — Está tudo bem? — Era a professora. Ouço alguns cochichos dos alunos.
— Sim, sim. Não se preocupe. — Passo a mão no local onde Ash teoricamente bateu e, me sento. Tudo fica em silêncio novamente.
Era apenas um sonho.
Um pesadelo, digo. Como meu subconsciente consegue montar um cenário tão horrível desse em um curto período de tempo? Impressionante.
Ash consegue me perturbar até mesmo nos meus 'momentos de paz', ele nunca deixa de ser uma memória ruim na minha mente.
Esse garoto era meu namorado. No começo do nosso relacionamento tudo era maravilhoso, um mar de rosas. Ele me comprava chocolate e dizia que eu era a mulher da vida dele.
Ele quem me incentivou a montar minha antiga banda "Marceline and The Scream Queens".
Ash estava ficando agressivo depois de algumas semanas, dizendo coisas horríveis em nossas discussões, porém depois sempre se desculpava. Eu queria fazer aquele relacionamento dar certo de algum jeito, mesmo ele não sendo perfeito.
Em um certo dia ele queria tentar algo a mais, e eu nunca o deixava me tocar em lugares mais íntimos, não me sentia preparada o suficiente.
Lembro daquele dia até hoje.

20 de Dezembro — 2015
— Ora Marcy, vamos. Nunca te pedi nada! — Ele tentava me convencer a todo custo.
Estávamos na minha casa, no sofá. Assistindo alguma série porcaria que estava passando, até passar uma cena meio erótica e Ash começar a falar sobre o quanto devíamos fazer algo daquele tipo. Eu apenas tentei fazê-lo esquecer dessa idéia, pois apenas tenho 16 anos! Porra.
— Não estou afim. Sério. — Falei por fim esperando que ele finalmente tivesse cedido à essa idéia idiota.
Mas, eu estava completamente errada.
Ash começou a por a mão dentro de meus shorts.
— Não vai doer nada... — Ele sussurra.
Fico paralisada, o que ele pensa que está fazendo?
Ele acaricia minhas partes íntimas com sua boca no meu pescoço.
— Ei! Para! Eu já disse que não quero... Por favor, vamos assistir outra coisa, ou comer alguma coisa. Que tal? — Tiro sua mão dali e me afasto tentando não ser bruta.
— Comer? Eu quero. Quero comer o que está na minha frente, espero que não se importe. — Ele avança e tira minha camisa rapidamente, abocanha meu pescoço novamente e pousa sua mão no meu seio.
— Droga Ash! O que você está fazendo? Sai! — Afasto-o com minha perna e saio do sofá.
— Tentei ser legal... — Ele vem em minha direção e me segura no colo com firmeza para em seguida me por de volta no sofá.
Ele ergue minhas coxas e arranca meus shorts junto com a calcinha.
— Não... Não! — Sinto meu rosto queimar por conta da raiva e frustração.
— Argh! Marceline, cale a boca! Você nunca faz nada, será que agora você poderia tentar ser um pouco útil? — Cuspiu as palavras sem hesitação enquanto abaixava suas calças. Eu tentava impedi-lo mas ele me segurava com uma força onde era impossível se soltar.
— Por fav... — Antes que eu pudesse terminar ele me penetrou sem medir suas forças. Aquele contato repentino me machucou muito, uma dor nunca sentida antes.
Senti lágrimas se formarem e descerem sobre minha bochecha.
Assim aquela noite continuou, com muita dor e tortura, até Ash se cansar de 'brincar' e ir embora.
-
Pra mim isso foi a gota d'água e então terminei com ele.
Lembrar disso me dói, e muito.
Sinto meu rosto se tornar molhado em instantes. Eu estou chorando no meio da classe, ótimo.
Já que eu não posso segurar, resolvo chorar o mais silencioso possível nos meus braços até a aula acabar.

- 5 min depois.
Acabou. A porta se abre e a diretora adentra a nossa sala.
— Prestem atenção! O professor de vocês teve uma emergência de última hora e não poderá vir hoje. Tenham uma boa aula vaga! — Ela se retira e o pessoal da sala comemora uns com os outros. E eu, na minha.
— Hey... — Bonnibel?
— Ah, oi. — Digo limpando meus olhos discretamente. Que estranho, ela veio conversar comigo mesmo depois daquele ocorrido mais cedo. Acho que ela vai falar algo ruim, não sei.
— Eu notei que você estava chorando. Estava? — Me pega de surpresa.
Fiquei em silêncio.
— Acredito que sim. — Ela diz. — Me desculpe por ter te chamado de 'boca suja' ou ter te olhado feio. Eu não sabia que você era sensível assim, há. — Deu um sorrisinho acanhado.
— Eu não estava chorando por causa disso, mas obrigada. — Sorrio amarelo pois não estava em condições de sorrir com vigor.
— Estava chorando por que então? —



*Capítulo curtinho, mas vou continuar, prometo. Beijinhos.*

Nicotina - BubblineOnde histórias criam vida. Descubra agora