Cidade da Meia-Noite

PRÓLOGO

"Você deveria escrever uma carta",seu subconsciente aconselhava, "Querendo ou não você é boa com palavras,então quem sabe não dá tudo certo?"

Ela não entendia a razão de seus pensamentos e emoções terem tomado,de repente,uma direção tão otimista,se nem quando as coisas estavam de fato correndo em direções seguras ela,ainda assim, conseguia comportar seus pensamento em algo completamente bom.

E agora que estava tudo caminhando ao caos completo e avassalador sua cabeça, ironicamente,estava a fazendo querer ter certeza de que o final seria feliz.

Ela não construiu estruturas para um final feliz. Ela não colaborou para um final feliz.

Bella Montês nem acreditava em final feliz.

Ela havia perdido quase tudo e estava prestes a perder o que lhe restava,entretanto havia aquela parte dormente em seu ser que não se importava com mais nada.

Ela perderia ele se não fizesse realmente nada e mesmo que a probabilidade pendesse mais para o lado de que ela já o havia perdido,isso ainda não anulava a sua vontade de fazer alguma coisa.

E talvez a insistência de seu interior em invocar um desfecho belo para a história seja apenas uma parte dela - uma parte verdadeira e pulsante dela - que estava satisfeita com o caos que havia causado.

"Eu vou escrever uma carta" ela decidiu
"Mas que fique claro que,com todas as minhas forças,eu não me arrependo".

"Eu te amo. Imensamente" ela pensou,direcionando seus pensamentos para ele "Mas eu não me arrependo. Nem pelas mentiras,nem pelas feridas,nem pela distância. Tudo isso foi consequência daquilo. E aquilo,meu amor,eu faria mil vezes mais se fosse preciso".

A dor que sentia a confortava de certo modo. Além de todo o desespero e preocupação e ansiedade que ela causara a si própria tinha também o coração partido,esse não fora ela quem causara. Mas ela não se importava muito com essa dor específica porque sentia que era a única que ela merecia.

Ela partiu o coração dele,mas ela também estava sofrendo. Portanto, estavam quites.

Então,por fim,sentada em sua mesa com a luz amarelada do abajur iluminando a folha inofensiva a exatamente meia-noite,ela começou a carta com a seguinte frase:

"Venho por meio desta,primeiramente para deixar claro que eu faria tudo de novo se o destino(ou qualquer força maior que possa existir) me desse esse privilégio..."