"Todos os dias você treina para atirar melhor, correr mais, suportar a pressão.
Se prepara para quando o trabalho exigir de você e bem, ele irá, cedo ou tarde. "
Prólogo
Seria uma simulação simples, casa térrea e com poucos cômodos, três oficiais posicionados na entrada principal e três na porta dos fundos, fazíamos isso constantemente na vida real, era para ser fácil no simulado. Entrar, vasculhar, liberar cada cômodo e apreender quatro suspeitos. Era um treinamento e por isso liberei apenas armas com tinta, queria precisão e não baixas. Não costumo ser um instrutor ruim, mas por se tratar de uma rotina não vi problemas em permitir que a Equipe Beta reagisse e resistisse o máximo possível, erámos a Equipe Alfa por um motivo e tinha certeza de que eram capazes. Três, cinco minutos no máximo e estaria tudo acabado, sem imprevistos e o mais importante, sem danos. Eram dez pessoas no chão e algum deles derrubou algo, pois do stand ouvi o vidro quebrando-se.
Confesso que errei em não encerrar, deveria tê-los advertido ali.
Tudo deu errado. O primeiro cômodo foi mal verificado e assim que Catarina cruzou a porta por último foi atingida pelo suspeito, ambos rolam em luta corporal e não preciso nem dizer, é claro que ela cai sobre o vidro. Nas laterais da 'casa de bonecas' - apelido dado carinhosamente ao complexo que usávamos regularmente para treinamentos - tínhamos duas estruturas para que pudéssemos observar a situação e analisar o que precisava ser melhorado. Toco a sirene e todos sabem que a simulação acabou.
Assim que Cat olha-me tenho certeza que ela está possessa, com dor, mas de longe sua irritação supera. Ela levanta-se e recolhe sua arma do chão, não me olha.
- Catarina. - Chamo-a uma única vez e então encontro seu olhar, sabia que falava como seu superior. Tínhamos esse combinado, não importa quão ruim as coisas estejam, trabalho é trabalho.
- Estou bem. - Ela responde, mas encaro o sangue que escorre de seu braço e contradiz sua definição de bem.
- Cuide do braço, nos falamos depois. - Peço.
- Com certeza. - Observo-a sair pisando firme enquanto solta seu colete.
Erros acontecem, sei disso mais do que ninguém, mas não significa que tolero certas coisas. Como sargento minha função é manter minha equipe a salvo e como namorado protegê-la, e se eu precisasse lidar com sua fúria para isso, que seja.
- O que vocês aprenderam? - Pergunto, mas ninguém me responde. - Lá fora é inadmissível um erro como esse, sem falar imprudente. Façam de novo.
Novamente nenhum barulho a não ser das botas contra o assoalho. Não me importava que ficássemos aqui até às cinco da manhã, comigo só existia um tipo de operação: as que fossem bem planejadas e executadas da melhor forma possível. Não éramos invencíveis e nunca contávamos com a sorte.
~#~
Não sei se ela não ouviu quando entrei ou se simplesmente ignorou minha presença, encaro-a sentada com os olhos fechados. A enfermeira observa-me parado na porta e diz que apesar dos pontos, ela está bem e que assim que os pontos forem tirados, ela está liberada para voltar a equipe, fico aliviado. Assim que ela nos deixa a sós, ouço sua voz.
- Estou bem. - Nem que ela tentasse conseguiria esconder o quanto está brava.
- Você já disse. - Seguro o riso, no fundo sei o que me espera.
- Quer que eu diga o que Noah? - Já estava preparado para isso, só supôs que ela deixaria para libertar a fúria em casa.
- Cat não preciso me justificar, mas já que está sendo chata, tudo bem. Interrompi a simulação com você como teria interrompido com qualquer outro oficial. Não faça disso algo que não é. - Esbravejo, mesmo que por dentro esteja rindo.
Ela me encara, sei que estava tentando descobrir se quem está aqui é seu namorado ou seu sargento, ela fecha os olhos novamente. Batalha vencida. Não gosto de ser autoritário e muito menos babaca, mas com tudo o que passamos algumas situações ainda são delicadas.
- Quer que te leve para casa? - Levanto a bandeira branca e mudo de assunto.
- Não, meu namorado deve me levar, obrigada. - Ela sorri irônica e tive certeza que ela sabia que minha bronca era uma farsa. Se eu teria interrompido o treinamento se fosse outro oficial machucado? Sim e esse é um dos motivos para fazerem vista grossa para nosso relacionamento; nosso profissionalismo e ética são incontestáveis, mas se me preocupo duas vezes mais quando se trata dela? Com toda certeza.
- Engraçadinha. - Somos interrompidos pelo meu rádio.
- Diz que você não pegou pesado com eles? - Ela pergunta desconfiada.
- Talvez. - Seguro o riso enquanto me aproximo para beijá-la. - Me desculpe, mas preciso voltar.
Não demoro mais do que dez minutos para chegar a Central e assim que cruzo o hall encontro meu comandante, sabia que teria que dar satisfações pelo ocorrido e que seria na primeira oportunidade que ele me localizasse em seu radar. Resumidamente? Fui cobrado pelo erro, falhas tão banais não podem ocorrer em operações reais e fui questionado se meu oficial estava bem, mas antes de nos despedirmos ele deixa claro que ainda existe preocupação em relação a nosso namoro e entendo, sei que outros sargentos estão apenas aguardando a menor oportunidade que seja para ter Cat em suas equipes e isso é algo que nenhum de nós está disposto a correr o risco.
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Diga Que Me Ama
FanfictionNão me recordo quantos anos tinha quando escolhi a carreira que tinha, mas grande parte da minha vida foi dedicada a ela. Ex-atirador de elite, policial, sargento de uma unidade especializada; conquistei tudo que desejei e fazia o máximo para manter...