Aquecido - Capítulo único

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A primeira vez que Todoroki Shouto pegou fogo, foi quando palavras deixaram de ser apenas palavras e adentraram profundamente como agulhas no seu coração.

“É o seu poder, não é?”

Foi quente, macio e aconchegante. Shouto nunca tinha se sentido assim, jamais havia sido presenteado por tamanha intensidade de sentimentos; tanto que foi por conta daquele calor que sua mente ficou em branco, que se esqueceu dos motivos que o levaram a não utilizar seu lado esquerdo, até então.

Ao contrário do que pensou, permanecer utilizando sua individualidade não foi o suficiente, sequer trouxe um resquício daquele calor amigável que usufruiu naquela vez. Ficou confuso, quem não ficaria afinal? Era seu fogo e mesmo assim, não era a chama que desejava.

A segunda vez que Todoroki Shouto pegou fogo, foi num dia de chuva, mais precisamente em uma tempestade. Estava ele e Midoriya sob o mesmo guarda chuva pequeno trazendo sacolas com besteiras junto ao corpo. Isso fez com que se mantivessem grudados para se protegerem da água violenta que descia dos céus. Mal sabia que a ideia de uma noite de guloseimas e de filmes com a turma, fariam-o se sentir daquela forma.

A chama veio no momento em que o guarda chuva que tanto tentava os proteger — em vão — voou para longe, avançando todo aquele temporal sobre eles, encharcando-os intensamente. Inicialmente, deveria ter sido um desastre, mas a verdade foi que o sorriso de Izuku junto a risada sobre sua própria situação o fizeram queimar em brasa novamente.

Automaticamente seu corpo respondeu, incendiando o seu lado esquerdo e arrancando ainda mais risos do outro.

Afetuoso, tranquilo; cômodo.

Nesse mesmo momento entendeu o óbvio, estava perdidamente apaixonado pelo seu colega de classe e ele era a razão das suas chamas.

Na terceira vez que Todoroki Shouto pegou fogo, não se parecia nada com fogo. Aconteceu três semanas antes da formatura de sua turma e não foi nem um pouco bom como nas outras vezes.

Estavam todos sentados no refeitório quando reparou numa cena: Ochako entregando uma cartinha de amor para Midoriya, este que permanecia tão vermelho quando a metade do cabelo de Todoroki.

“Deku-kun, por favor, aceite meus sentimentos.”

Foi nesse momento que a labareda ascendeu dentro de si. Shouto não era estúpido, sabia há muito tempo dos sentimentos da garota — até porque se via nela — e por ter convivido muito com eles sabia que Midoriya provavelmente a aceitaria, pois eles já eram muito próximos, desde sempre andavam juntos, não haveriam motivos para ele recusá-la.  

O fervor que se acendeu como uma raiva intensa e amargura que transformava seu coração em cinzas, ironicamente não veio de seu lado esquerdo tão odiado, mas sim do seu direito, de maneira intrigante a individualidade herdada de sua mãe deixava-se descontrolar nos piores momentos.

Congelou a mesa inteira, chegando até alguns pedaços do piso abaixo dela, tornando mais do que óbvio para todos ali presentes; incluindo para o motivo — baixinho e de sardas — do seu coração inflamar, os sentimentos mais profundos do filho de Endeavor.

Os eventos a seguir se resumiram em evitar qualquer um de seus colegas. Queria sofrer sozinho, deixar aquela chama de amor apagar de vez até que seu coração pudesse congelar para sempre.

Tinha uma ideia de que poderia ser rejeitado, que suas chances eram mínimas se comparado a garota flutuante, mas não esperava que seus sentimentos fossem incendiados antes de se formar. Pretendia revelar o seu segredo de amor somente depois da formatura, quando soubesse que poderia evitá-lo quando a repulsa viesse, quando não seria estranho caso se afastasse completamente, pois estaria cada um seguindo a sua vida de herói.

E foi no meio dessa situação que a quarta vez que Todoroki Shouto pegou fogo chegou. Fora no dia da formatura, quando não pode mais evitar ninguém, nem mesmo o motivo de sua frustração.

Era tão difícil assim querer ser recusado em paz?

”Eu preciso conversar com você.” Izuku soltou, estremecendo a pele já gelada de Todoroki com o tom sério do outro, sabia que isso se referia a preocupação natural que Midoriya tinha para com os outros quando os via mal. Inegavelmente tentou fugir de novo, não queria obrigar o ‘seu herói’ a ser gentil consigo por pena, jamais! Todavia, o discípulo de All Might não era estúpido e não deixou o meio-a-meio esquivar-se de novo.

Assim que chegaram em um jardim do lado de fora de onde acontecia a festa de formatura, que a camada de gelo em seus sentimentos que estava construindo derreteu, não pela chuva que começou — o lembrando do dia em que se apaixonou — mas sim e precisamente quando a boca ardente de Izuku tocou os seus gélidos lábios.

Convidativo, cálido e sereno.

Midoriya Izuku era o verdadeiro combustível para suas chamas, seu ar, seu oxigênio e a verdadeira faísca para sua brasa.

A individualidade herdada de seu pai não era a fonte de seu aquecimento; Midoriya Izuku era e sempre seria a sua chama, o seu incêndio.

N/A: espero que tenham gostado dessa tododeku fluffy, ela aqueceu meu coração literalmente.
A arte da capa pertence a kacchanbae (Tumblr)
E a arte do capítulo pertence a irene-draws (Tumblr).

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⏰ Última atualização: Sep 25, 2018 ⏰

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