Doutor Escobar

Qual o nome dele?

- Você vai perder a primeira aula filha.

- Não vou hoje mãe, a senhora sozinha não vai conseguir arrumar tudo a tempo.

O marido da senhora Merlin a patroa da minha mãe vivia fora do país e estava voltando naquele dia.

Merlin tinha inventado tantas tarefas desnecessárias para minha mãe fazer que era praticamente impossível ela conseguir completá -las sozinha.

- Você não pode faltar aula Julie.

- É pra isso que eu pago a sua faculdade ? Pra ficar de papinho com esse bicho preguiça que não faz nada sozinha? - Merlin falou exaltada aparecendo na sala.

- A senhora sabe que a minha mãe já não aguenta ficar muito tempo em pé. - Disse indignada. Era triste ver minha mãe sendo humilhada todo santo dia e não poder fazer nada por ela.

Minha mãe tinha quarenta e três anos mas sua coluna era de um idoso devido à sua vida de escrava naquela casa.

- Se não aguenta mais é só pedir demissão.

Merlin falava aquilo porque sabia que minha mãe fazia de tudo por mim, ela suportava qualquer humilhação pois sabia que sozinha não ia conseguir pagar os meus estudos.

Eu me perguntava todos os dias o porquê dela pagar minha faculdade sendo que ela nos odiava.

- Eu vou buscar meu marido no aeroporto, arrumem a minha suite. Ai de vocês se encontrar aquela toalha molhada em cima da cama ou aquela calcinha por lavar quando eu voltar.

- Sim senhora. - Minha mãe falou enquanto observava Merlin saindo da casa.

- Eu prometo que isso um dia vai acabar mãe.

- Tenho fé em Deus que sim.

^•^

Em menos de uma hora a campainha já estava sendo tocada e nós ainda não tínhamos feito metade dos deveres.

- Vou arrumar o quarto rápido. - Falei me lembrando do aviso da senhora Merlin.

- Abre a porta menina, se ela ficar esperando na rua vai ser pior.

Sorri para não chorar e fui em direção à porta abrindo-a em seguida. Merlin estava acompanhada de seu marido que tinha uma cara fechada. Ele parecia bem mais arrogante do que a esposa, Merlin pelo menos costumava ter um sorriso mesmo que falso em seu rosto.

- Bom dia. - Ele falou e entraram logo em seguida.

- Te espero lá no quarto amor. - Merlin deu um selinho no marido e subiu.

Senti aquela típica pontada no peito, nenhuma de nós teve tempo de subir para arrumar o quarto e mais um surto de Merlin estava prestes a acontecer.

- Essa é a sua filha Julia?

- Sim, essa é a Julie. - Minha mãe falou sorrindo para o homem.

- Prazer, você é bonita igual a sua mãe. - Ele me estendeu sua mão e não pude deixar de reparar em suas tatuagens que cobriam grande parte de seu braço.

- Obrigada.

Meu celular vibrou no bolso do jeans me dando um susto e eu atendi enquanto minha mãe conversava com o marido de Merlin.

- Como assim? Não pode ser. - Falei assustada.

- O que aconteceu filha?

- Ta bom, obrigada. - Desliguei o telefone e encarei minha mãe sem reação alguma.

- É da faculdade, minha propina não foi paga dês da minha matrícula. Eu não posso mais assistir às aulas enquanto não concertar a dívida. - Falei ainda pasma tentando organizar aquela informação em minha mente.

- Eles devem estar te confundindo Julie.

- Não, não estão mãe. — Falei querendo chorar.

- Julie minha querida, eu posso saber porque não foi no meu quarto ainda?

Merlin falou descendo as escadas lentamente me fitando com ódio mas preferiu fazer cena na frente do marido em vez de fazer escândalo como era de costume.

— O que você fez com todo o dinheiro Merlin?  —  O marido dela a encarou parecendo furioso.

— Do que está falando amor? — Ela respondeu se aproximando.

— Minha filha está com uma dívida enorme na faculdade porque você não pagou nenhuma mensalidade.

— A filha é sua! Quem tem que pagar sua faculdade é você e não eu.

— Merlin, o que você fez com todo o dinheiro que eu te mandei pra entregar para a dona Julia?  — O homem falava entre pausas. Ele parecia exausto e com raiva ao mesmo tempo.

— Não interessa amor. Você tem mania de fazer caridade para pobre e eu não sou obrigada a ser igual a você.

Merlin subiu as escadas novamente claramente para fugir daquela conversa.

— Fiquem tranquilas. Julie, Eu irei legalizar a sua situação na faculdade.

Eu e minha mãe sorrimos genuinamente com o ato daquele homem. Ele era exatamente o contrário de sua esposa.

Tive um rápido arrependimento mental por ter julgado ele no momento em que o vi.

Olhando de fora ele parecia frio e arrogante.

Mas ele não era.

— Como é o nome dele mãe? — Falei quando o homem foi atrás de sua esposa.

— Doutor Escobar.