Ele estava lá, em frente ao horizonte dourado, um céu de tons opacos colorido por uma paleta de cores que ia de pigmentos dourados e rosados a escuros e dramáticos, mas para mim era tudo preto e branco a única coisa colorida ao meus olhos era ele. Fazia um tempo que eu não o via, desde que fui seguir com minha vida no exterior, que ele dizia ser perigoso e desafiador demais para pessoas da nossa cidade. Ele não havia mudado nada, nem o estilo, o jeito como cruzava as mãos enquanto observava algo, o balançar de seus cabelos finos e loiros cor de mel, mesmo estando de costas eu conseguia ver seus olhos, brilhantes e encantados com o sol que despedia-se mais uma vez, a brisa me traz o cheiro de flores, frescas e cítricas, então me dou conta que não eram flores, e sim o perfume que dele emanava.
A sua casa estava igual a antes, o mesmo portão de madeira escura e robusta, a altura de seu peitoral, as flores que das mãos dele cresceram, que tomaram banhos de sol, que foram beijadas por abelhas e beija flores, e cortejadas por borboletas que vinham apenas no amanhecer do dia e eram amantes da noite. Nada havia mudado, as cortinas de cetim amarelas estavam lá dando boas vindas a brisa fresca que entrava pela janela, o seu quadro do horizonte oceânico de onde estávamos, naquele exato lugar, onde ele ficou horas, de vários dias, pincelando a tela precisamente, sem hesitar em desistir por nenhum segundo. A cozinha ainda tinha o mesmo cheiro, de hortelã e broto de laranjeira, com morangos frescos e vermelhos como seus lábios em cima da mesa, morangos que havia colhido na muda que eu deste para ele, muda que havia trazido da casa de mamãe, o jardim, ainda estava lá, com as mesmas árvores cercando uma clareira, onde havia um carvalho enorme, que estava ali há tempos, com iniciais de dois seres apaixonados, que mesmo à distância não iria ser capaz de separar, onde apenas a casca da árvore que se regenerou cobrindo parte do corte das letras.
Viro minhas costas que estavam doendo, como se tivessem suspendidas por um gancho, por conta das horas de voo, e lá estava ele, me olhando com os olhos exibindo um brilho além da imaginação, ele estava tão lindo quando na última vez que o viste, os cabelos loiros jogados no rosto, os lábios doces e suculentos, como pêssegos recém cortados, e as bochechas se coravam a cada passo que eu dava em sua direção. Os melhores beijos são os de saudade, os que você imagina a meses, a cada minuto, a cada segundo, onde os lábios ficam trêmulos só de imaginar, onde os dentes quase que os rasgam de tanto líbito, e quando acontece, é quase um pecado, os anjos desatentos se voltam para apreciar a cena, o céu se ilumina instantaneamente, todos os perfumes existentes se levantam da terra úmida e fria, o oceano se abala, vulcões se incendeiam, é tudo uma explosão miraculosa de sentimentos inigualáveis, onde apenas quem sente, pode explicar, e as vezes, nem isso. Quando nossos rostos se afastam, olhos se encontram, ambos com lágrimas descendo pelos cantos, não de tristeza, de felicidade da mais legítima existente, onde meramente poucos sentem.
Sentamos na grama, que começava a ficar irrigada, o cheiro me lembrava da saudade que eu havia sentido por tanto tempo, olho para o céu, que começa a começa a se enfeitar com estrelas por toda parte, então seus dedos entrelaçam nos meus, onde suas mãos sedosas acariciam as costas da minha, onde nós viramos de lado, a ali, só existíamos nos, mais nada iria nos atrapalhar, nada iria nos tirar a atenção, que estava voltada apenas um para o outro, onde sua mão desentrelaça de meus dedos e é levada ao meu rosto, e foi como se estrelas me tocassem, então só pude ouvir sua voz calma e agradecida,
"É tão bom te ter de volta."
Lágrimas dominam meus olhos, acabam me cegando, se espalhando como um riacho por minhas bochechas, eu estava tão feliz, que não saiam palavras concretas de minha boca, apenas consegui abraçá-lo, e ali ficamos, mesmo sem ver, sabia de seu sorriso escondido em meu pescoço, uma mão agarrada em minha cintura, e a outra penteando meu cabelo, momentos como aquele faziam valer, faziam valer qualquer coisa que alguém já tivesse passado, onde apenas o amor pode explicar, onde apenas o amor, pode te sujeitar.
"Só quem ama pode
ter ouvido
capaz de ouvir e de
entender as estrelas".
- Olavo Bilac
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Os Melhores Beijos são os de Saudade • pkjm
FanfictionOs melhores beijos são os de saudade, os que você imagina a meses, a cada minuto, a cada segundo, onde os lábios ficam trêmulos só de imaginar, onde os dentes quase que os rasgam de tanto líbito, e quando acontece, é quase um pecado.