1. Capuccino

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Estava caminhando para uma cafeteria — ou dizendo na minha língua: a fonte da minha inspiração — para tentar dar continuação ao meu sétimo livro. Eu era uma escritora de no máximo seis livros publicados, que estava em uma crise de criatividade devastadora e meu único remédio para isso era café. 

Eu não costumava ficar sem ideias por tanto tempo, então eu estava sim ligeiramente preocupada com a situação. Minha sorte era trabalhar escrevendo colunas para um jornal e não depender apenas do dinheiro de meus livros.

O local que eu trabalhava era entediante e pagava mal, ainda estava no mesmo apenas porque sabia que seria difícil procurar outro emprego, então eu apenas suportava o tédio para receber, em troca, estabilidade financeira.

Depois de uma caminhada a pé eu cheguei à cafeteria, que, para minha sorte, ficava a apenas a alguns quarteirões da minha casa.

Coloquei-me frente a porta e a abri. O cheiro de café logo inundou minhas narinas, fazendo com que eu sentisse uma satisfação. Eu amava cheiro de café.

Direcionei meu passo para uma mesa. Faria logo meu pedido para começar a escrever, mas foi então que o meu corpo se chocou com outro. Um garçom havia esbarrado comigo, derrubando a bandeja com pedidos sobre mim.

O líquido quente percorreu entre minha blusa, que por sinal era branca, me gerando um arrepio. Aquilo estava pelando e minha pela sensível logo ardeu.

Olhei para o garoto a minha frente com uma expressão indecifrável. Eu poderia parecer nervosa, mas eu só estava querendo ajuda. Aquilo doía.

A figura alta, maxilar marcado, cabelos estranhamente rosa e uma beleza de tirar o fôlego me olhava assustado, como se tivesse se culpando internamente por aquilo. Então sem dizer nada, ele tirou um pano de seu avental e começou a passar em meu colo de uma maneira desesperada e afobada.

Eu fiquei estática e com os olhos entreabertos sem saber o que fazer. Foi então que suas mãos passaram ligeiramente sobre meus seios e eu me assustei. Creio que não foi de proposito, afinal, ele estava visivelmente sem graça, mas ainda sim foi constrangedor e estranho.

Elevei meu braço e dei uma tapa em sua mão, me afastando ligeiramente. Meu rosto deveria estar pegando fogo e eu fiz um x na frente dos meus seios, como se fosse protegê-los.

Então o rosto do garoto seguiu meu gesto e em questão de segundos ele havia percebido a situação. Sua bochecha ficou vermelha, suas orbes foram do meu colo para sua mão e seus olhos se entreabriram.

— M-me desculpe. Eu estava tentando concertar o meu erro. Eu não quis... – ele tentou falar, enquanto, nervoso, mexia em seus cabelos.

Fitei-o séria e julguei pelas suas ações e pelo seu nervosismo que aquilo não havia sido realmente proposital. Abri a minha boca para dizer que estava tudo bem, mas antes que eu pudesse fazer o tal, um grito ecoou.

— Kim Taehyung. Você está definitivamente reprovado no seu teste para a vaga de atendente. — disse uma mulher alta, magra e de cabelos castanhos, caminhando em nossa direção.

Vi o garoto a minha frente ficar serio, parecia preocupado. Ele deu um suspiro frustrado e se agachou para pegar os copos, que agora estavam vazios.

Enquanto ele fazia aquela ação eu tentei deduzir o que estava acontecendo.

Seria realmente uma entrevista de emprego? Ou ele já trabalhava ali? Pensei, segundos antes de ser interrompida pela voz esganiçada da mulher de antes.

— É apenas um teste e olha só o estrago que você fez. — ela murmurou irritada. — Vamos. Levante-se.

O rapaz, sem questionar, se levantou. Ele organizou os copos na bandeja e depois disso abaixou sua cabeça, como um cachorro recebendo bronca depois de uma travessura.

MacchiatoOnde histórias criam vida. Descubra agora