"Honrar a nós mesmos, amar nossos corpos, é uma fase avançada na construção de uma autoestima saudável."
bell hooks
As cortinas balançavam suavemente enquanto a brisa gelada invadia o quarto do ômega. O lugar era pequeno, móveis brancos e paredes azuis, com uma cama de solteiro entre duas mesinhas de cabeceira. Em meio aos lençóis, também azuis, havia uma bola manhosa abraçando um travesseiro, a fronha tocava levemente o nariz do garoto, que rolou pelo colchão resmungando palavras confusas. Suas expressões indicavam que estava sonhando e, julgando o sorriso arteiro, era algo muito bom.
Era uma pena que o alarme tenha soado, fazendo Jimin sobressaltar, quase caído da cama alta. Levou a mão pequena para o peito, o coração estava disparado pelo susto, mas logo se recompôs, desligando o relógio digital que estava sobre uma das mesas de cabeceira. Ainda sonolento, o garoto olhou em volta e percebeu que o dia já havia amanhecido e a luz amarelada do sol invadia-lhe o quarto.
— É hoje... — sussurrou, colocando as duas mãos sobre a boca, enquanto os olhos tornavam-se duas pedras brilhantes.
Hoje começaria os testes para a entrada de novos jogares de futebol na escola onde estava matriculado desde o ano passado. Um dos muitos sonhos do garoto era se tornar uma estrela dos gramados, mas precisava começar subindo degrau por degrau.
A animação tomou conta de seu ser e nem parecia estar em uma segunda-feira, pulou da cama e correu para o banheiro, quase tropeçando nos próprios pés ao fazê-lo. Empurrou a porta de madeira polida, tirando o pijama de listras apressado, jogando-o sobre o cabide de metal na parede. O banho fôra gelado, com a intenção de deixá-lo totalmente desperto, enrolou-se em uma toalha e foi até o closet.
— Deixa eu ver... — falou ao abrir as portas. Todas as roupas, penduradas e dobradas, eram números maiores do que seu. Grandes demais. — Esse!
Escolheu um conjunto moletom preto, cuja as mangas cobriam-lhe as mãos. Jimin optava por esse estilo de roupa porque desejava esconder seu corpo, as curvas voluptuosas eram comum entre os ômegas. Quadris mais largos ajudavam na gestação, acomodando o bebê no ventre. Jimin era um ômega mas não queria que as pessoas soubessem disso.
Os ômegas machos eram muito raros, considerados uma anomalia da natureza e estavam na última camada da pirâmide social. Para eles cabia o papel de subservientes, muitos acabavam na prostituição, pois poucos eram aqueles que poderiam trabalhar sem serem considerados uma ameaça para as famílias tradicionais. Aqueles que não conseguiam suporte familiar eram abandonados e marginalizados.
A mãe do pequeno Park, senhorita Minji, por conta de um Distúrbio hormonal, que causou um aumento no tamanho dos ovários, não conseguia engravidar facilmente e precisou de um longo período de tratamento para que conseguisse gerar o herdeiro esperado. Porém, o que deveria ser motivo de comemoração, virou motivo de tristeza por parte do patriarca da família.
Jimin só não foi parar em um abrigo porque sua mãe protetora não permitira. E iria junto com o filho se assim fosse. Crescendo rejeitado pela grande maioria daqueles que envolvia seu círculo familiar, o garoto começou a repudiar a si mesmo. Olhar no espelho assombrava-o, os comentários maldosos tornaram-se sua culpa, ser rejeitado pelo pai era um fardo diária.
Quando a puberdade chegou, todo o seu corpo ganhou mais forma e seu cheiro ficou avassalador no primeiro cio. Toda aquela semana trancafiado no porão de casa, que sua mãe prepara justamente para a chegada do seu período fértil, fez o ômega querer nunca ter sequer sido gerado. Decidiu, então, tomar inibidores de odor que, consequentemente, mexia com todo o sistema de seu corpo.
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Eu Não Sou Ômega - Jikook Abo
FanfictionOs julgamentos e o preconceito levou Park Jimin a repudiar sua natureza ômega. Em seu íntimo, tudo que desejava era aceitação e reconhecimento, porém, escolhas induzidas pelo mal do mundo lhe fizeram traçar caminhos tortuosos e arriscados. ________...