– Querida, de certeza que não queres vir connosco? Vão lá estar pessoas que conheces. Os pais da Judy da tua turma, por exemplo... talvez ela também vá!
– Não, mãe. Tenho a certeza que não quero ir! Aquilo vai ser um jantar como os outros, que não me agradaram nada... Lembro-me de quando fui da última vez, cheio de colegas de trabalho do pai e gente engravatada a falar de gráficos e crescimentos económicos. Uma seca!
Desceram as duas as escadas até à porta. O som de passos pesados que se seguiu denunciou o Sr. Brown que se aproximou de ambas com os nervos à flor da pele. Trazia um fato cinzento-escuro e vinha com a jaqueta ainda aberta enquanto ajeitava o colarinho de onde pendia uma gravata salmão, quase a mesma cor que o vestido da mulher. O Sr. Brown era um homem robusto, com a pele muito clara, devido ao lugar onde trabalhava: num escritório de uma empresa automóvel. Só o seu cabelo liso e de cor negra e a sua insinuada barba por fazer é que contrastavam com o seu alvo rosto, visto que os seus olhos também eram claros. Já a sua esposa, a Sra. Catherine Brown, era magra, mas não deixava de ser elegante. Havia sido uma mulher muito bonita quando jovem, e apesar da idade, os cabelos continuavam a ser compridos de um castanho amêndoa. A sua voz era serena:
– Então está tudo pronto! Já te deixei ali algo se quiseres comer antes de ires para a cama, mas de qualquer maneira, nós pouco depois da meia-noite já voltamos. Porta-te bem! – E dando-lhe um beijo leve, devido ao batom que pusera para estar bem arranjada diante dos donos da empresa do marido, a Sra. Brown deixou finalmente a filha e dirigiu-se para a entrada, tentando equilibrar-se nos seus saltos-altos que à primeira vista não deviam ser nada confortáveis. Atrás de si passou o pai que lhe beijou também, mas desta vez na testa, e ainda acrescentou:
– Toma juízo, está bem? Podes trazer cá os teus amigos, mas por favor – e nesse momento Jane vira nos seus olhos verdes como o pai falava o mais seriamente possível – não faças disparates como da outra vez!– Sim, sim! – repetiu Jane impaciente – peço desculpa por isso...
Em seguida desceu as escadas do Hall e voltou-se uma última vez para acenar a filha. Ela esboçara um sorriso convincente, mas por breves segundos, o Sr. Brown deixou escapar a confiança que tinha posto nela e voltou a avisar:
– Se voltarmos e algo estiver fora do seu sítio comum... - mas calou-se rapidamente. – Até já, então! Espero encontrar-te já a dormir quando voltar-mos!
– Peter! – resmungou a Sra. Brown já dentro do carro – Amanhã é sábado, tem dó! – e olhando para a filha através do vidro que abria lenta e automaticamente, acrescentou –fica até a hora que te apetecer, Jane... se eu pudesse ter novamente a tua idade... – mas Jane já não a estava a ouvir, afirmava apenas com a cabeça enquanto pensava para si quem iria convidar para ir lá a casa após a partida dos pais.
O Sr. Brown entrou para o seu Mustang escarlate, que era inveja de todos os vizinhos, saiu com o carro pela entrada fora, abrandando no preciso momento em que passava mesmo em frente à casa. Sorriu com ar inseguro, ao contrário da sua mãe que contraiu os lábios e fez um aceno desajeitado, que mais parecia o enxotar de uma mosca, e arrancou. Mal viu o carro virar a esquina de Pole Street e desaparecer por de trás da casa amarela da esquina, que continha um imenso jardim aromático, Jane fechou a porta.
"Porque é que têm de ser tão protetores?!" pensou ela num suspiro. Sacou do bolso de trás o telemóvel, reparou que ainda eram cinco e cinco da tarde, e enviou rapidamente uma mensagem para as amigas, para que lhe pudessem vir ajudar com os preparativos. Sim, Jane ia dar novamente uma festa, tinha ignorado completamente os avisos que o pai lhe replicara minutos antes.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Drive Away
ActionCom os pais fora de casa, Jane aproveita todas as oportunidades para fazer uma festa. Mas entre tantos convidados, coisas inesperadas acabam sempre por acontecer, e o reencontro de Adam Walker com os seus antigos companheiros leva ao início de uma h...