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As vezes, as emoções guiam os pensamentos. O calor de um beijo fruto de uma paixão, muito provavelmente passageira, ou a pureza de uma risada verdadeira, a qual em questão de segundos será tomada como forçada até mesmo pelos próprios lábios que a esboçaram. Essas sensações nos fazem delirar sobre o eterno e sobre o verídico, nos envolvendo no calor do momento e criando crenças momentâneas sobre o mundo.

Nos faz pensar que o mundo é parte de nós, que o tempo está em nossas mãos. Ou dependendo do momento, acreditamos que somos apenas parte do mundo, e que o tempo corre com a intenção de nos deixar para trás.

Bem, Lily não pensava desse modo. Desde sua queda miserável deixou de acreditar no mundo. Pois de acordo com ela, o mundo foi quem a derrubou, o que não deixa de ser verdade.

"Quanto mais alto o sonho, maior a queda", é o que todos os frustrados com a vida repetem nos ouvidos daqueles que ousam desafiar os limites do céu. E Lily tinha suas asas no explendor da juventude, prontas para alçar voo e romper qualquer barreira em seu caminho. Era jovem e ousada, e dizia não ter medo de cair, até o dia em que o mundo resolveu a desequilibrar, e a garota foi deixada no chão, com asas e coração quebrados .

Desde então o mundo não era parte de Lily, e Lily não era parte do mundo. A garota o via apenas como uma companhia indesejada, um lugar o qual todos perteciam, exceto por ela mesma. Por isso, Lily evitava o mundo de todas as maneiras possíveis, o que de certo modo, fazia com que a menina que acreditava ter tudo nas palmas de suas mãos, a mesma menina que sonhava alto como ninguém, dizendo repetidas vezes, com toda a certeza que cabia em si que nunca iria cair, desaparecesse aos poucos.

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A garota de traços ocidentais e cabelos tingidos observava o pedaço de giz branco riscar o quadro negro a sua frente com uma expressão de enorme desinteresse estampada no rosto. Não que sua mente estivesse viajando, sua mente nunca ia longe demais, a atenção da estudante estava voltada para os fios de cabelo com uma coloração ruiva discreta que quase alcançavam os ombros. Aquele corte já estava ficando entediante, talvez devesse cortar uma franja, ou pintar de alguma outra cor. Algo diferente, não com a intenção de fazer com que a estudante se destacasse em meio às massas, algo deixasse bem claro que ela não pertencia às mesmas.

Lily tinha medo de várias coisas, mas havia algo o qual a ruiva não temia, mesmo que tivesse mil e um motivos para teme-lo. Lily não amava o mundo, muito menos o temia, embora já tenha feito ambos no passado. A garota apenas queria esquece-lo, e queria que ele a esquecesse. Não que isso significasse que ela odiava viver, pelo contrário, Lily desejava aproveitar a vida, mas gostaria de fazer isso por conta própria, sem dependências, o que na visão da garota era a tão desejada liberdade.

O som do sinal estridente soou pela sala de aula, fazendo com que todos os alunos levantassem subitamente e começassem a juntar seus pertences.

Lily despertou de seus pensamentos e voltou sua atenção para as canetas e lápis espalhados por sua carteira. Despejou-os de qualquer jeito na mochila e colocou a mesma sobre os ombros. Após amarrar sua jaqueta verde escura na cintura, a garota se dirigiu para a porta. Sua sapatilha preta já estava a centímetros do piso bege do corredor quando uma voz a fez hesitar o passo.

- Senhorita Moore.

Uma voz calma porém autoritária pronunciou o sobrenome canadense com o típico sotaque coreano.

- Sim Senhora Park?

A ruiva respondeu recuando um passo para dentro da sala de aula. Antes de olhar nos olhos de sua professora e forçar um sorriso.

- Se aproxime por favor.

Lily andou calmamente até a mesa onde a mulher estava sentada. Ela já sabia do que se tratava, e sua vontade de simplismente fazer uma expressão de tédio e dar as costas à senhora Park era enorme. Porém a jovem usou as últimas gotas de seu estoque de paciência e pronunciou com uma voz doce:

forest • kim taehyungOnde histórias criam vida. Descubra agora