Capítulo 1

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 O começo de tudo eu me lembro como se fosse ontem. Eu estava terminando meu trabalho sobre microeconomia, revisava o meu texto linha por linha, era só eu,o teclado e a tela do computador. Eu, Alan Ferreira, vinte e quatro anos, estudante de administração, morador de Niterói, era um rapaz que se empenhava muito nos estudos e se cobrava muito, tudo não podia ser menos que perfeito, tudo não podia ser menos do que o certo. Eu sempre tirei as melhores notas, eu pus na minha cabeça que para ser alguém na vida e ter uma condição de vida melhor eu precisaria me esforçar para ser o melhor, eram dias e noites em claro estudando, mas no meio de tanto estudos e conquistas havia um grande vazio. Minha mãe, Dona Leda, sempre se esforçou para que eu e meu irmão mais novo tivéssemos tudo, nosso pai nos abandonou um pouco depois dele nascer e não tivemos mais noticias dele. Dona Leda teve que se dobrar em duas e ser mãe e pai ao mesmo tempo para criar dois filhos, eu sempre fui o certinho, já meu irmão mais novo Antônio, doze anos, sempre fora um menino travesso. Eu desde pequeno sempre mostrava sinais de inteligência e que era diferente dos outros meninos, eu tive sorte de ter Dona Leda como mãe, quando me assumi ela riu e disse pra eu contar algo que ela não soubesse. Eu a abracei e vi que para ela não importava com quem eu me relacionasse, ela continuaria sendo minha mãe e me amando do mesmo jeito. Apesar de todo amor que eu recebia de Dona Leda eu sentia a falta do amor de outra pessoa, alguém que eu pudesse amar e me fazer feliz por inteiro, talvez eu sentisse necessidade de me sentir amado porque apesar de ser um prodígio nos estudos eu não tinha amor de pai e nem de amigos, foi então que eu que sempre fui racional e sensato, após terminar de revisar aquele trabalho de microeconomia eu entrei numa rede social, um universo onde eu poderia ser quem eu quisesse talvez e não o Alan Ferreira que só estuda e é um rapaz solitário. 

 Foi então que encontrei na rede social um rapaz que trabalhou na biblioteca da faculdade em que estudo, ele se chamava Fabrício Heidermann, vinte e seis anos, era loiro, tinha olhos claros e tinha ascendência alemã, ele era um rapaz tão esforçado quanto eu, mas tinha mais conquistas, o que me causava certa inveja. Ele nasceu em Nova Friburgo, mas quando apareceu à oportunidade de trabalho em Niterói se mudou para cá. Ele fez formação de professor e era bacharelado em ciências contábeis, logo foi chamado para dar aulas num curso técnico em contabilidade, mas recusou, pois fora convidado a cuidar da coordenadoria de um colégio particular na sua cidade natal e voltou a morar lá. Nossos olhares já tinham se cruzado na biblioteca, mas eu apesar de tão inteligente era tímido e ele nunca deu nenhuma chance de eu me aproximar, mas quando apareceu a oportunidade mesmo que virtualmente eu criei coragem e falei com ele, para meu azar ele já estava comprometido com outro rapaz, mas nada impediu que virássemos amigos, depois de algumas conversas depois de um longo dia de estudo Fabrício me disse que tinha um amigo que eu podia me interessar, seu nome era Santiago Lucarelli, naquele momento senti que aquele nome ia ter alguma importância na minha vida, não sei se era boa ou ruim, não imaginava que minha vida ia mudar tanto.

Fabrício me contara que conhece Santiago há alguns anos, era um rapaz que trabalhava como diretor de uma escola particular, um homem bem sucedido, 40 anos e que precisava encontrar alguém. Santiago apesar de ser um homem bem sucedido tinha uma vida particular que ele escondia, havia dois Santiagos: um que era o diretor de um colégio conceituado, um homem sério e de respeito que muitos admiravam, que pregava a palavra de Deus em congregações e era cantor gospel com muitos fiéis admiradores, e o outro Santiago era um menino assustado que lutava dentro de si contra um sentimento que existia dentro dele. Mesmo com essas características que fui descobrir somente depois eu não hesitei em conhecer o Santiago, era um fim de tarde e minha rede social estava aberta no computador, eu estava terminando de estudar quando ouvi um sinal sonoro indicando que tinha alguém falando comigo, eu fui ver quem era e era um contato novo, era o Santiago, eu abri um sorriso no rosto e comecei a teclar com ele, eram só sorrisos e palavras que agradam a quem as recebe, no mundo virtual Santiago nunca pareceu esse homem com um grande dilema em sua vida, parecia que era um homem que sabia o que queria para ele e para sua vida, quem diria que um homem tão bem sucedido na vida tinha um grande dilema. As conversas foram ficando mais intimas e envolventes e eu já estava totalmente envolvido fantasiando o futuro daquilo, foi então que Santiago me convidou para ir até sua casa.

- Mas... Você vai poder me dar atenção? - disse eu entusiasmado.

- Chego em casa à tarde, você pode ficar a vontade, Caressa essa semana depois do trabalho vai para casa da mãe então não haverá problema, quando eu chegar em casa nós fazemos algo juntos.

- Quem é Caressa? – disse eu confuso.

- Caressa é uma amiga que mora comigo, ela está aqui por uns tempos até se estabilizar financeiramente e ter condições de alugar uma casa. – disse ele se explicando.

- Mas ela não trabalha? – disse eu contestando.

- Sim, mas ela tem algumas dívidas e ajuda a mãe.– disse ele se justificando. – Então, você vem amanhã ?

- Vou sim. – disse eu voltando ao meu estado de entusiasmo.

- Ok. Venha à tarde, se quiser vir mais cedo aproveita e conheça a cidade. Você tem meu endereço e telefone certo?

- Tenho sim.

- Bom, então me liga se caso você se perder. Agora preciso ir que tem gente chegando e eu preciso atender.

- Ok. Até amanhã.

- Até.

Caressa? Quem é Caressa? Ele nunca me falará sobre ela. Amiga que ele ajuda abrigando em casa? Se eu tivesse me feito essas ou mais perguntas, não tivesse fragilizado emocionalmente, sem juízo, na fantasia, eu talvez nunca tivesse entrado em ônibus nenhum. Eu peguei minha mochila, procurei algumas roupas e comecei a preparar a mochila para a viagem, Dona Leda me vendo por roupas dentro da mochila em vez de livros como sempre me questionou.

- Vai viajar? - disse ela.

- Vou à Nova Friburgo ver meu pretendente. – disse eu animado.

- Se conheceram onde? – disse ela desconfiada.

- Na internet, mas pode confiar mãe, ele é um bom rapaz. – disse eu tentando tranquiliza-la.

- Na internet? Como você pode ter certeza que ele é um bom rapaz com boas intenções? Checou as referencias dele? – disse ela preocupada.

- Mãe eu tenho um amigo que se chama Fabrício, ele trabalhou na biblioteca da faculdade, é um bom rapaz, tão esforçado ou até mais que eu, hoje ele é coordenador de um colégio particular, é amigo dele e me indicou-o, então posso confiar. – disse eu querendo acalmar a situação.

- Bom, mas de qualquer forma tome muito cuidado meu filho. Tá levando casaco? Nova Friburgo é uma cidade muito fria. – disse ela como uma mãe preocupada.

- Estou Dona Leda. – disse eu.

- Vai e volta quando?

- Vou ficar lá esse fim de semana e volto na segunda-feira.

- Que Deus te proteja meu filho de todo mal que há lá fora.

 Eu a abracei e continuei a preparar minha mochila, era como se fosse um menino que estivesse indo para um parque de diversões à primeira vez. Naquele dia eu nem estudara como de costume, pois a ansiedade só me deixara pensar na viagem, o estudo naquele momento ficara de fora dos planos, não importava mais boas notas, conquistas ou Caressa, eu, Alan Ferreira só pensara em Santiago Lucarelli e fantasiava um futuro qual eu tanto almejava. Naquela noite mal toquei na comida, estava eu, minha mãe e meu irmão Antônio jantando, minha mãe estava brigando com Antônio por causa de suas notas ruins, Antônio sempre fora relaxado com os estudos, sempre que tirava uma nota ruim Dona Leda sempre nos comparava dizendo que eu sempre tirei as melhores notas. Dona Leda sempre via Antônio como um menino inocente que só precisava de um pouco de atenção, depois de brigar com ele ela olhando eu ali na mesa com a cabeça outro lugar me perguntara.

- Vai amanhã de manhã cedo? - disse ela.

- Vou sim. Mãe estou muito ansioso. – disse eu.

- Calma meu filho, vai com calma, não quero que se decepcione. – disse ela preocupada.

- Não vou. Bom, vou escovar os dentes e dormir porque amanhã vai ser um dia longo. – disse eu confiante.

- Vá com Deus.

 Eu beijei a testa da minha mãe, fui escovar os dentes e fui dormir. Quando botei a cabeça no travesseiro continuei a fantasiar, a ansiedade era tanta que custei a pegar no sono, me virava para todos os lados e o sono não vinha, eu ficara preocupado, pois eu tinha que dormir bem para acordar bem disposto para pegar o ônibus, depois de algumas horas eu finalmente consegui dormir, a ansiedade era tanta que nem me permitira sonhar, como se estivesse com pressa de acordar, quando eu vi, eu despertara.

O Sonho de Alan (Romance Gay)Where stories live. Discover now