Capítulo 1

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— Hip, hip, hurra! Hip, hip, hurra!
Corando furiosamente, Low Down franziu o cenho para
os homens saudando-a e acenando com as canecas de
cerveja que Olaf preparara para a ocasião. Como ela nunca
tinha sido uma convidada de honra ou recebido aplausos,
não sabia como responder ou para onde olhar ou se também
deveria levantar sua caneca de cerveja.
Sentindo-se aturdida, virou o olhar para o lado da
montanha, em direção à névoa de fumaça que pairava sobre
as cinzas da escola. Queimar a escola tinha sido a primeira
ordem do dia; então todos tinham subido até a cabana de
Olaf para um jantar de celebração com trutas fritas e bifes de
alce, seguido de conversa animada sobre a reconstrução.
Foi um dia lindo para pensar em novos começos.
Gencianas azuis e densos arbustos de ásteres roxas
derramavam-se montanha abaixo como joias espalhadas
entre os pedregulhos. Margaridas dançavam ao longo do vale,
seguindo o riacho, e a rabbitbrush desabrochava em espetos
dourados. Acima, uma águia circulava contra um céu sem
fim, tão graciosa, selvagem e livre, que o peito de Down doía
só de olhar. Nesse momento, ela desejava poder voar também para escapar do discurso que Billy Brown, o autodenominado
prefeito de Piney Creek, parecia estar se preparando para
recitar.
Pisando no alpendre de Olaf, Billy endireitou seus
ombros, estufou a barrigae conduziu a saudação entusiástica
em honra de Low Down. Se ela soubesse que seria aplaudida,
se suspeitasse que esse se tornaria o dia mais orgulhoso de
sua vida, ela teria se banhado no riacho nessa manhã,lavado
o cabelo e vestido alguns trapos limpos para a ocasião. Em
vez disso, a convidada de honra usava uma grande camisa
masculina e calças jeans,nenhuma das quais muito limpase
galochas de borracha. Enquanto conscientemente enfiava
um pedaço de cabelo sob seu chapéu velho, notou que todos
os outros haviam se trocado.
Billy Brown usava uma camisa de flanela vermelha
quase nova sob as alças do macacão e havia penteado o
cabelo e cortado a barba. Na verdade, todos os seus antigos
pacientes estavam quase tão arrumados como antes das
mulheres terem deixado o acampamento no início da
epidemia. Ela ficou tocada que os homens haviam lavado a
roupa e penteado os cabelos em sua honra.
— Primeiro precisamos agradecer a Olaf Gurner pelo
bom jantar de hoje e por assumir o fogão e alimentar nossos
doentes depois que Jacob Jansen se afogou — disse Billy
Brown, começando sua fala.
Um coro de insultos cordiais irrompeu, dirigido ao caldo
de peixe de Olaf, seguido por uma rodada de aplausos
calorosos.
— Há sessenta e quatro de nós aqui hoje — continuou
Billy Brown, sua expressão se tornando sóbria.— Seis
semanas atrás, Piney Creek tinha uma população
aproximada de quatrocentas almas. Os homens estavam
encontrando pepitas; este lugar estava prosperando. Então o
flagelo começou.
Junto com os outros, Low Down se moveu para olhar
para o acampamento. As vitrines vazias a faziam pensar em
uma cidade fantasma. Nenhuma música tilintava das portas
do saloon. Até mesmo o escritório de análises fora atingido.
Uma leve brisa perseguia um pedaço de papel em uma seção
pisoteada de grama amarelada onde antes as fogueiras de
fileiras de tendas haviam queimado. Rosas selvagens já
floresciam onde as tendas haviam estado. Low Down voltou-
se para Billy Brown com a triste convicção de que Piney
Creek nunca se recuperaria completamente da epidemia.
Billy franziu o cenho para o fundo de sua caneca de
lata.
— Acho que vocês e os homens lá no cemitério
enfrentaram a varíola e ficaram pelo mesmo motivo que eu.
Para proteger seu veio.
Erguendo a cabeça, olhou firmemente para Low Down.
— Mas uma pessoa ficou sem precisar.
— Bem, eu tinha um veio, também — Low Down
murmurou. Parecia que uma convidada de honra deveria ser
um pouco modesta.
— Você não encontrou ouro em pó suficiente nem para
sustentar um esquilo — disse Jake Martin, inclinando-se para cuspir um fluxo de tabaco mastigado em um
formigueiro. — Você poderia ter deixado seu veio sem olhar
para trás.
— Deus ouviu nossas orações e nos deu um anjo de
misericórdia que não nos abandonou na nossa hora mais
escura.
A brisa que soprava dos altos picos parecia fria contra o
calor do constrangimento que se elevou em suas bochechas.
Desejava que Billy Brown terminasse seu discurso ali
mesmo. Ao mesmo tempo, ela secretamente esperava que ele
dissesse mais coisas boas. Elogios foram tão raros como
encontrar uma pepita em sua bateia. Ela lembrava-se de
cada um deles.
— Esta pessoa se levantou para suprir nossa
necessidade desesperada, colocando sua própria saúde e vida
em grande risco.
— Bem… — Uma convidada de honra deve dizer toda a
verdade mesmo que isso acabasse com o discurso de Billy. —
Eu tive varíola quando criança e dizem que você não pode
pegar duas vezes.
Coot Patterson revirou os olhos, depois olhou para ela.
— Ninguém sabe isso com certeza, talvez seja verdade e
talvez não seja. O ponto é que você ficou e cuidou de nós
quando você não precisava e ninguém esperava que você
ficasse. Agora cale a boca e escute as palavras agradáveis que
o velho Billy está dizendo.
— Vocês vão parar de interromper o meu discurso? —
Billy Brown estalou. — Agora, onde eu estava? Certo. Todo mundo aqui sabe que eu estou falando de Low Down. Se ela
não nos tivesse alimentado, limpado, cuidado, a maioria
estaria comendo capim pela raiz agora. Com certeza não
haviam outros voluntários.
Os aplausos quase a deixaram surda e ela não sabia o
que fazer com as mãos ou para onde virar o olhar. Seus
lábios estavam se contorcendo de uma maneira peculiar. Ser
uma convidada de honra era de arrepiar os nervos.
— Não há maneira de recompensá-la adequadamente
por permanecer conosco e manter a maioria de nós viva. Mas
cada homem aqui concorda que não vamos descansar até que
tenhamos expressado nossa gratidão. Queremos fazer algo
por você, Low Down. Alguma coisa grande e agradável. Algo
tão importante e duradouro como o que você fez por nós.
Então, nos diga o que você quer, e, maldição, você terá.
Qualquer coisa, apenas diga.
As cabeças assentiram e os homens reunidos em frente
à cabana de Olaf Gurner sorriram em apreciação esperando.
Com as bochechas em chamas, Low Down acenou sua
caneca de cerveja em um gesto que diminuía a questão.
— Inferno, rapazes. Eu apenas fiz o que qualquer um
faria, só isso. — Ela puxou a aba áspera de seu velho chapéu
de feltro e agitou-se, desacostumada com o peso de tanta
atenção. — Vocês me agradeceram o suficiente. Nunca tive
uma festa em minha honra e vou me lembrar disso toda a
minha vida.
— Não senhora. Uma festa não é o suficiente. — Stony
Marks avançou. — Você trabalhou como um cão,nos alimentou, nos lavou e enfiou esse remédio vil por nossas
gargantas. Por pura força de vontade você fez alguns de nós
viverem, os quais teriam morrido se você não nos
intimidasse, nos ameaçasse, nos falasse coisas doces que a
maioria de nós sequer se lembra. — Ele esperou que as
piadas e risadas morressem. — Mas nós não poderíamos ter
sobrevivido se não fosse por você, e isso é um fato. Deve
haver alguma coisa que você sempre sonhou e desejou.
Talvez algo que você nunca esperava conseguir. Queremos dar
a você. Devemos a você.
Então Frank Oliviti deu um passo à frente, gratidão
suavizando seu olhar enrugado.
— Primeiro, eu quero agradecer por você não roubar
meu ouro como ameaçou. — Low Down sorriu, segurando
uma risada.—Se você quiser uma casa em vez da tenda
pequena que você tem, vamos construir uma cabana e os
móveis para ela. O que você quiser, é seu.
— Se você sempre quis um piano, nós iremos à
Denver comprar um e o traremos até aqui — Billy Brown
concordou. —Apenas nos diga seu maior desejo, não importa
o que seja, e vamos torná-lo realidade."
Max McCord foi o próximo a incentivá-la a aceitar a sua
gratidão.
— Talvez você sempre quisesse ficar no melhor hotel de
Denver e comer ostras e beber champanhe em uma suíte.
Basta dizer isso, Low Down, e nós faremos esse sonho
acontecer.
Ele não parecia o mesmo homem que ela tinha
alimentado, lavado e intimidado. Hoje Max McCord estava tão
bonito que a visão dele a fazia sentir-se estranha por dentro,
como se seu estômago estivesse pegando fogo. Franzindo o
cenho, ela notou que a varíola tinha deixado alguns furinhos
ao longo de sua mandíbula, mas ele não estava tão marcado
como algunsou tão vaidoso como os homens que estavam
deixando a barba crescer para esconder as marcas. Ele
estava bem barbeado, seu cabelo escuro aparado ao
comprimento do colarinho e usava jeans novos e uma camisa
de lã xadrez que era quase do mesmo azul que seus olhos.
Foi enquanto ela estava olhando para Max McCord e se
perguntando sobre o aperto quente e desconfortável em seu
estômago que a ideia apareceu para ela. Havia apenas uma
coisa no mundo que ela realmente, realmente, desejava ter.
Ela duvidava que fosse o tipo de coisa que os garimpeiros
tinham em mente, mas eles estavam insistindo para que ela
nomeasse seu desejo mais profundo. Eles queriam que ela
tivesse algo especial que nunca esperara obter. Mas…

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