Logo depois, estaciono em frente a um prédio de cinco andares. Interfono.
— Oi – sorrio com o cumprimento tão comum entre nós.
— Sou eu, Alessandro.
— Ah, ok. Sobe aÃ, cara! Que bom que veio, achei que tinha desistido.
Confiro o relógio no meu pulso. São nove horas da noite. Estou uma hora atrasado.
Entro em um hall simples, mas elegante. Vou ao elevador e aperto o número quatro. Aquela subida parece levar mais tempo do que o normal ou é apenas a ansiedade e o medo fazendo o trabalho de me deixar tenso e nervoso?
Toco a campainha do 403. Confiro se estou bem, calça jeans, blazer e sapatos pretos juntos com uma camisa branca. Abaixo a cabeça e fecho os olhos.
A porta se abre. Tarde demais para desistir.
Ergo o olhar e encontro dois lagos azuis surpresos e eufóricos. Ah, o entusiasmo da juventude!
— Alessandro? — Pedro pergunta com surpresa e estende a mão direita em minha direção.
— Sim. E você deve ser Pedro — aperto a mão dele e lhe entrego a garrafa de vinho que comprei no caminho.
Pedro fica estático por mais um tempo. A situação é constrangedora. Estou na porta e ainda não fui convidado a entrar.
— Desculpa, Alessandro. Que falta de educação a minha. Entre, por favor, sinta-se em casa — ele abre a porta e entro em um ambiente masculino e elegante.
— Com licença.
— Fique à vontade. Desculpe essa reação. É que... Bem... Eu conheço você. Quer dizer... Acho.
Ele sabe, é claro.
— Me conhece de onde? — testo.
— Já vi você por aÃ! Cantando e celebrando. Você... Bem... — ele passa a mão pelos cabelos — É padre.
— É, sou. Mas aqui, pode me tratar apenas por Alessandro.
— Sim, desculpa.
— Por isso eu disse que não poderÃamos ser vistos em público.
— Sim, claro.
— Espero que não tenha problema para você.
Pedro caminha até perto de mim, olha em meus olhos e toca um de meus ombros.
— Se não tem problema para você, Alessandro, para mim menos — sorri largamente e continua — Seja muito bem-vindo ao meu lar!
Pedro se encaminha para o que parece ser a cozinha. Ainda me sinto constrangido. Uma coisa natural, dada as condições e circunstâncias.
Observo. O garoto é bonito e exótico. Tem um quê de selvagem e um toque de angelical. O santo e o profano em um corpo desenhado com pincel celestial.
Ele veste calça social preta, sapatênis, camiseta branca por baixo, e, por cima, uma camisa cinza, com as mangas dobradas no antebraço. O cabelo loiro e desgrenhado ostenta um charmoso topete. Essas coisas que os jovens gostam. E a barba espessa é perfeita, delineia uma face máscula.
— Espero que goste de nhoque de semolina ao molho de gengibre. Também preparei bruschetta de entrada, e de sobremesa, Tiramisù — Pedro fala da cozinha enquanto faz barulhos com panelas e bandejas.
— Parece ótimo, e, realmente, bastante italiano o cardápio. Acho que harmonizará perfeitamente com o vinho Riesling que eu trouxe, é um vinho alemão delicioso.
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Profano
Romance"Não me tornei um cético. Transformei-me no pior que o ser humano pode ser: um descrente de si próprio." Uma vida dedicada ao sacerdócio. Um encontro que mexerá com estruturas e pensamentos, até então, inflexíveis. Uma paixão que colocará a vocação...