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- Pode começar se quiser, meu amor - os longos e fortes braços de meu pai me envolveram em um abraço. Estávamos sentados no sofá de nossa sala, mamãe dormia e eu o tinha tirado de seu trabalho só para conversarmos - Ei, pode contar tudo para mim.

- Ah papai! Se lembra do Craig? - ele assentiu - Nós terminamos, faz algumas semanas...

- E não nos contou? Angelina!

- Eu não queria preocupar vocês com tudo isso, são minhas bobeiras... - dei um sorriso amarelo - Ele estava com outra menina e... - afundei meu rosto em seu ombro e senti o cheiro do perfume forte que mamãe tinha lhe dado de aniversário - Eu ainda o amo, papai.

- Oh, Angel, por que não nos contou? Por que guardou isso tudo para você, meu amor? - beijou o topo de minha cabeça e o observei. Eu era muito parecida com o meu pai. Nossos cabelos escuros e olhos claros, o mesmo sorriso... Mamãe é uma mulher bonita, mas não nos parecemos em nada, talvez meus pais misturaram as cores de seus olhos e formou os meus - Por isso tem andando tanto com o Collin ultimamente? Ele está ajudando você, não está? - confirmei com um olhar triste.

- Ele e o Craig brigaram hoje por minha causa - funguei e balancei a cabeça tentando tirar as cenas de minha mente - Eu tive que pedir para o Col parar de bater nele, papai. Aquilo estava me machucando tanto, eu não conseguia vê-lo daquele jeito. Ele mexe comigo de um jeito que ninguém mais consegue.

- Isso é amor, filha, você realmente descobriu o amor - ele suspirou - Achei que demoraria para isso acontecer, mas acredito que eu, como pai, nunca vou estar pronto para ver minha menininha se apaixonar - dei uma risada besta e concordei, eu realmente amava o Craig - Agora eu tenho que... - ele coçou a cabeça e ficou pensativo por um momento tentando se lembrar do que tinha que fazer.

- Ir para o hospital? - pergunto preocupada com sua falta de memória recente - Acho que você deveria estar trabalhando.

- Sim, sim... Isso, obrigado - ele beijou minha testa e foi em direção a porta, só consegui ouvir a batida da madeira branca quando se fechou.

***

Abri meus olhos ao sentir a forte vibração do meu celular em minha barriga, sem ler o ID de chamadas atendi.

- Olá?

- Ang?! Onde você esteve o dia inteiro? - Collin perguntou preocupado - Eu estava louco atrás de você!

- Meu pai foi me buscar mais cedo, nós fomos conversar... Só isso.

- Você não pode mais me assustar assim. Está em casa? Quer que eu vá até ai te fazer companhia?

- Não, eu estou bem... Só vou sair e tomar um ar puro, andar por ai. Não precisa se preocupar, beijo - desliguei sem ouvir sua resposta. Eu amo o Col, ele é meu melhor amigo, mas eu deveria depender menos dele.

Subi as escadas correndo e fechei com cuidado a porta de meu quarto. Encarei minhas cortinas brancas soprando com o vento frio, o papel de parede bege era repleto de flores pintadas a mão, o chão de madeira escura que realçava meus móveis. Eu amava o meu quarto por ser tão quieto, tão meu.

Prendi meu cabelo e deixei minhas vestes deslizarem até o chão, abri a porta de meu banheiro e adentrei no box. A água morna caía por minhas costas e faziam com que eu me sentisse segura. Sentei-me e abracei meus joelhos contra meus seios, joguei minha cabeça para trás e respirei profundamente. Olhei meu reflexo pelo espelho colado ao teto, mal acreditava em como estava magra. Meus lábios estavam roxos graças ao frio que eu sentia, meus olhos estavam azulados e meus cabelos tinham perdido todo aquele brilho. O que aconteceu comigo?

***

Vesti meu moletom azul pastel e um short jeans escuro, calcei meu vans preto simples e deixei meus longos cabelos presos no topo de minha cabeça. Olhei-me no espelho em cima de minha cabeceira, meus olhos se destacam em todo o meu rosto, meu cabelo as vezes tirava a atenção deles e eu não gostava muito disso. E se talvez eu o cortasse? O solto por um instante e tento me imaginar com ele na altura dos ombros, será uma boa ideia?

Sem pensar muito pego trinta dólares e alguns trocados de minha carteira e guardo meu celular no bolso de trás.

Desço as escadas e bato a porta de casa. Eu acredito que deva ter um salão aqui por perto.

***

A paisagem era a coisa mais maravilhosa que eu já vi, não me importo em quão violenta Detroit seja, eu amava ver todos aqueles prédios juntos. De noite tudo aquilo era um verdadeiro espetáculo de luzes. Já não estava ventando tanto e os raios solares queimavam meu rosto, é uma sensação gostosa.

Avisto um salão qualquer e entro, uma cadeira está desocupada. Encaro uma mulher sentada atrás do caixa.

- Ei, perdão... Mas eu gostaria de saber se alguém poderia cortar o meu cabelo? - encaro meus pés timidamente.

- Claro que sim. Eu mesma irei corta-lo - ela se levantou e me guiou até a cadeira rosa fluorescente - Você gostaria que eu cortasse ele em que altura mais ou menos?

- Até os meus ombros... E se quiser pode repicar a parte da franja - dou um sorriso amarelo.

- Mas o seu cabelo é maravilhoso! Tem certeza? - concordei com um aceno, ela espirrou um pouco de água e pegou uma tesoura brilhante.

Fechei meus olhos ao ouvir os "clics" que a tesoura fazia ressoar pelo salão, uma mulher ligou o secador e isso abafou o barulho que me deixava assustada. Nunca gostei de cortar o meu cabelo, sempre tive uma paixão por ele grande, mas agora lembrando de como Craig amava mexer com ele... Eu já não me sentia tão bem assim.

***

- Prontinho! - a mulher exclamou em tamanha felicidade e eu abri meus olhos. Eu não sabia como uma pessoa poderia mudar tanto apenas com um corte de cabelo, mas UAU! Meus olhos eram muito mais visíveis e meus lábios pareciam maiores - Você tinha razão em querer esse corte, porque garota... Você está um arraso - ela estalou os dedos enquanto fazia um bico.

- Eu amei - disse bobamente - Obrigada, quanto deu?

- Quinze dólares, anjinho - ela terminou de escovar meu cabelo e eu entreguei o dinheiro trocado para ela.

Despedi-me e o sol refletiu em meu novo visual. Peguei o celular do meu bolso e disquei o número do Col.

- Ei, aconteceu alguma coisa? - a voz preocupada do Col soou na linha.

- Cortei o meu cabelo.

- O que? Mas...

- É, bem... Eu senti vontade de cortar e cortei, acho que ficou bom - falo alegremente enquanto sigo o caminho de volta para casa - Quer uma foto?

- Quero - ele disse ainda confuso - Ainda não acredito que você cortou o seu cabelo...

- Ideia melhor! Facetime, me atende - clico e em alguns segundos posso ver o Col deitado em sua cama com seu óculos de grau, ele deveria estar estudando - E então, como eu estou?

- Diferente - ele disse abobado - Mas está linda... E você não tem juízo mesmo, já está escurecendo e você andando na rua segurando o celular.

- Já estou chegando em casa - bufo e reviro os olhos. Vejo a entrada de minha casa em alguns metros - Acha que as pessoas vão comentar sobre o meu cabelo?

- Provavelmente, você sempre o manteve grande... Ei, a conexão está ruim, nos falamos amanhã?

Concordo e desligo a chamada. Abro a porta de casa e vou direto para o segundo andar. Minha mãe já não se encontrava em casa então fui direto para o meu quarto.

Coloquei minha playlist do Ed Sheeran para tocar e peguei o livro "Os 13 Porquês" para ler. Já era a minha décima quarta vez lendo-o, mas eu amava a história... O que eu poderia fazer? Deitei em minha cama e continuei minha leitura até que minhas pálpebras implorassem para serem fechadas e, então, finalmente dormir.

Angel & CollinOnde histórias criam vida. Descubra agora