14;;um tapa;;14

127 18 5
                                    

mth;;  Eu tenho a sensação que teu coração quer escapar de seu peito.
Como um pássaro preso em uma gaiola,
ansiando pela liberdade.

Jiwoo tinha um poder imenso sobre Matthew e nem parecia notar aquilo. A pergunta que ela tinha feito, após contar a história sobre Orion e pouco antes de Somin ligar para ela, foi capaz de fazê-lo perder o sono durante o resto da noite. Ele rolou incontáveis vezes na casa, com o lençol se embaralhando e a cama rangendo a cada movimento inquieto.

Ele não era burro, sabia que sua relação com o pai passava longe de ser boa. Só não sabia como fazê-la voltar a ser o que era quando ele tinha seis anos e o pai não se preocupava tanto com as finanças. Já tinham se passado mais de dez anos, aquela navalha já estava encravada na pele de ambos, já tinha se tornado algo permanente.

De uma forma ruim e desgastante, Matthew tinha se acostumado com a ideia de evitar as reuniões de família, fugir do pai sempre que ele aprecia, jogar a saudade para debaixo do tapete e seguir a vida; como se aquilo não fosse deplorável. 

Ele tinha enchido a mão e areia e agora via ela escapar pouco a pouco pelo menos dos dedos. E enquanto via as oportunidades se esvaírem tudo o que ele fazia era olhar enquanto elas se misturavam ao chão ou eram levadas para longe.

Depois de deixar Jiwoo na frente do apartamento onde ela morava, ele voltou para casa chutando pedrinhas, suspirando e sentindo a brisa leve batendo no rosto, como se estivesse se preparando para dar-lhe um tapa— finalmente o acordando para a realidade. Mas o tapa não veio naquele momento; veio dias depois, quando ele voltava para casa após uma tarde de treinos.

Matthew e Jiwoo trabalhavam avidamente para decidir o que apresentariam na competição sugerida por Seulgi. Após a noite que saíram para comemorar, se encontraram com a tutora para tirarem todas as dúvidas e tomarem conhecimento dos maiores detalhes. A garota garantiu que daria de tudo para que não houvessem problemas causados pelas condições (como a própria disse) de Jiwoo, garantiu ainda que ela poderia fazer uma performance tão boa quanto a de qualquer outro competidor, se quisesse e se mostrasse disposta a praticar sobre a tutela da mais velha.

Após deixarem tudo às claras, começaram a treinar todos os dias da semana durante horas, com rápidos intervalos para descanso. Voltavam para casa tarde da noite, com os corpos dormentes de cansaço— mas tudo aquilo parecia valer a pena.

Em uma dessas noites, Matthew foi recebido em casa por uma pequena surpresa vestida de policial. O homem era tão alto quando o adolescente, senão mais alto, e seu semblante parecia congelado em uma careta que pairava entre o nervosismo e a profissionalismo; ao ver Kim chegar, tudo que ele fez foi cumprimentá-lo com um rápido menear de cabeça, seguido por um pedido para falar com o menino.

50% do cérebro de Matt gritava sobre como aquilo não era um bom sinal e a outra metade entrou em pane assim que assimilou isso, portanto, ele simplesmente guiou o policial para dentro do apartamento, sem nenhuma palavra.

—Eu acho que, hum, você gostaria de se sentar.— disse o oficial, após limpar a garganta e se colocar de pé ao lado do sofá. Se antes Matthew já estava com medo do que viria a seguir, agora ele não tinha mais a menor esperança de ser algo bom, nunca era um bom sinal quando alguém limpava a garganta e o mandava se sentar.

—Como você sabe, eu e minha equipe somos os responsáveis pelo caso de Kim Hyuna desde o dia em que você fez a denúncia. No entanto, nós estamos seguindo todas as poucas pistas que temos não não conseguimos chegar a lugar algum, nada se conecta e nossos recursos estão se esvaindo.— No sofá, Matt começava a entender o porquê do mais velho ter pedido para que se sentasse.

—Muitos da minha equipe já desistiram de procurar, alguns eles estão convencidos de que o caso da Senhorita Kim foi como os outros desaparecimentos em baladas, caras que querem abusá-la e a deixam em qualquer lugar escondida após fazerem o que queriam; e outros acham que estamos lidando com alguém que é muito bom mesmo, bom o suficiente para não deixar rastros.— Até mesmo o policial parecia desconfortável ao falar sobre aquilo, trocando o peso de um pé para o outro, mas seu desconforto não ultrapassava o de Kim, seu coração estava apertado e a respiração começava a ficar rarefeita só de pensar sobre o que poderia ter acontecido com sua irmã.

—Infelizmente,— continuou o policial.— a maior parte da equipe acredita na primeira hipótese. É claro que poderíamos continuar as investigações e descobrir quem fez isso com ela, mas meus superiores acham que já desperdiçamos recursos demais em um caso tão comum.— Após notar o olhar vidrado do mais novo e como os nós de seus dedos já haviam se tornado brancos devido à força com que apertava as próprias mãos, ele perguntou:

—Está tudo bem, Senhor Kim?

"Ah, sim, claro! Eu estou ótimo depois de saber que vocês vão fechar o caso da minha irmã desaparecida há um ano e meio, simplesmente desistindo de procurá-la por que já gastaram recursos demais! É claro que eu sei lidar com essa notícia super bem!" Era o que ele queria falar depois de ouvir tudo aquilo, no entanto, o que ele disse foi que estava tudo bem, que ele podia continuar.

—Tudo bem, então, por ordem deles, nós estamos encerrando o caso. Se você ou qualquer outra pessoa descobrir qualquer coisa significante iremos reabri-lo, mas por enquanto, ele está encerrado. Sinto muito, Senhor Kim.

Todo o mundo desabou encima dos ombros de Matthew, tudo de uma vez só. E aquilo doeu tanto que parecia que estava sendo dilacerado, como se estivesse recebendo um tapa de cada habitante do planeta e sendo pisoteado por cada criatura viva. Ele se viu dentro de um lago, na beirada de um vulcão, bem na pontinha de um desfiladeiro, sempre a um segundo de desabar. Ele sentiu os braços magros da irmã envolvendo seu torço e as mãos suaves contra suas maçãs do rosto, viu aqueles olhos brilhantes e o sorriso de criança, ouviu sua risada e sua voz suave contra seu ouvido quando ele não conseguia dormir. Tudo isso de uma vez, uma avalanche de memórias, uma viagem no tempo.

Mas quando abriu os olhos, o mundo ainda estava inteiro, a sala estava intacta e o policial ainda olhava para ele com cautela, como se ele fosse ruir a qualquer momento. Mal sabia ele que por dentro ele já estava destruído, transformado em pó por simples palavras.

Alguns minutos depois, o policial deveria ter saído do apartamento, dizendo que sentia muito e que ele poderia ligar caso precisasse; passado um tempo seu colega de quarto devia ter entrado pela porta da sala e desejado boa noite, talvez ele tivesse começado a falar sobre como tinha sido o dia, até perceber que o amigo não tinha respondido nem ao seu cumprimento. Quem sabe, ele até tentou levá-lo para seu quarto, mas Matthew não se moveu.

Estava soterrado embaixo de tudo que estava revivendo, vendo aqueles momentos de novo e de novo, em um loop. Ele ficou na mesma posição enquanto tudo passava por seus olhos e o mundo exterior era completamente isolado, como se tivesse mergulhado em uma piscina.

Ele permaneceu o mesmo até que uma pessoa em especial entrou no apartamento e consegui tirá-lo de dentro da própria mente.


eu nem sei como parecer aqui depois de tanto tempo, mas aqui estou eu. minhas aulas acabaram semana passada e eu finalmente tomei coragem para escrever de novo c:

espero que o próximo capítulo não demore tanto e talvez saia antes do ano que vem, mas em todo caso: feliz natal e bom ano novo!!!!! que 2019 seja um pouco melhor e que você coma bastante comida no natal!!!!

blind dancer [bwoo/taeso]Onde histórias criam vida. Descubra agora