Andy e Edu

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Eram dois amigos inseparáveis. Desde a infância, faziam tudo juntos. Enquanto Edu subia no pé de jambolão, Andy ficava embaixo, esperando as frutinhas. Tocavam campainha e saiam correndo, Edu sempre na frente, Andy atrás. Eram vizinho, duas casas de diferença. Ficavam até tarde da noite conversando, sobre tudo. Só paravam quando a voz grossa, rouca do pai dele gritava "Andy, pra dentro, vem tomar banho". Andy ia e no outro dia, se encontravam depois da aula, com a galera. Jogavam bate, brincavam de todas as brincadeiras de criança. Era uma rotina deliciosa. Confiavam cegamente, um no outro. Edu contava tudo pra Andy e vice versa. E assim, foi .Edu deu seu primeiro beijo, aos 15 anos. Um beijo cheio de dentes, nada de língua. No outro dia, nos encontros na calçada, na porta da sua casa Edu contou pra ele.

-Andy, ontem eu beijei a Fernanda. Nossa, que beijo horrível. Será que todos vão ser assim?

Andy parou. Alguma coisa dentro dele berrou. Ele gostava da Fernanda, mas naquele momento, com aquela informação, sentiu raiva. Teve medo. "será que estou com ciúmes dele? Deve ser ciúmes de amigo!"

-Edu, acho que não. É o primeiro, a gente deve ir melhorando com o tempo. Foi só um beijo?

-Foi sim, o pai dela chegou para busca-la, tivemos que parar. Mas amanha vou tentar combinar outra coisa com ela.

Andy sentiu outra pontadinha no coração. "porra, outro beijo? O que ele viu naquela magrela sem peito?".

O pai dele grita, e Andy, pela primeira vez sente um alivio por encerrar uma conversa com Edu. Se tivesse ficado ali mais um pouco, teria demonstrado sua raiva com a situação.

Naquela noite, Andy não consegue dormir. Um turbilhão de pensamentos passa pela sua cabeça. Ele nem acha Edu tão bonito. Mas Andy tem uma admiração profunda por ele, sua coragem, a maneira como ele sempre protegeu e cuidou dele. Andy é novo, nunca sentiu aquilo por ninguém, e estava confuso, com medo de estar confundindo. Tem um medo enorme de estragar a sua amizade mais sincera, duradoura e a mais bonita. Resolve não comentar. Era o primeiro segredo entre eles.

O tempo passa o tempo de conversa depois da aula, na calçada já não é tão frequente. Chegam às provas. Eles precisam estudar. Sentem uma falta absurda um do outro. Parece que Andy não consegue dormir do mesmo jeito, sem conversar com Edu. Edu trazia uma paz, que ele não conseguia em outro lugar, em outros abraços. Andy tinha nele, naquele grande amigo, um porto seguro que ele não tinha em nenhum outro lugar.

Eles vão pra faculdade. Edu  bate na porta do Anderson, o chama pra conversar na calçada. Estava com saudades dos papos, dele. Eles riam muito juntos. Conversam sobre horas, colocam o papo em dia. E num desses assuntos, Andy repara.

-Edu, vejo que está mais sorridente do que da ultima conversa. O que foi?

Ele ri e diz:

-É garoto, tu me conhece. Andy estou apaixonado. Conheci uma menina na faculdade. Linda, meiga, inteligente e engraçada. Estamos começando a sair agora. Não sei se vai dar certo, mas estou muito afim de tentar algo serio com ela.

O mundo de Andy desaba. Ele deixa cair uma lagrima.

-O que foi Andy?

-Problemas aqui em casa.

Andy desconversa, entra. Pela primeira vez, entra sem o grito do pai.

Noite em claro, choro no travesseiro, uma vontade louca de sumir. Ali, ele toma uma decisão. Ia se afastar, não estava fazendo bem. Andy gostava dele e não tinha coragem de contar. Tinha medo de Edu brigar com ele. Queria ter a imagem daquela amizade de 20 anos, como algo bom. Ele simplesmente ia sumir. Afastar. E colocaria a desculpa no tempo, na correria do dia a dia.

Então assim ele faz.

E tempo vai passando, e eles ficam dias sem se falar. Ele começa a namorar, Andy foca tudo nos estudos. Medicina não é um curso fácil.

Quando Andy começa a esquecer daquilo tudo. Um ano depois daquela conversa com ele, a ultima conversa dos dois, está sentada, estudando. Ouve a campainha tocar. Três toques, como só Eduardo fazia. Ele gela o coração. Arruma-se rapidamente e sai.

-Uma saudade enorme tomou conta de mim, podemos conversar?

-Logico Eduardo, mas coisa rápida que tenho prova amanha.

Conversam sobre algumas coisas. As coisas entre eles nunca mudam. Começam a brincar, riem. Ele percebe que precisa parar se não nunca vai esquecer aquele menino. Tenta saber como está o namoro dele.

-Edu, como está seu namoro?

-Então Andy, foi por isso que vim aqui. Eu terminei.

-Por quê? Você parecia gostar tanto dela?

-Porque ela não era você! Percebi, com o tempo, que eu procurei você nela o tempo todo. Ela não tinha seu sorriso confortante. Ela não tinha esse olhar que você tem que consegue olhar a minha alma e me entender como ninguém. Ela não tinha seu abraço, que com dois braços unem nossos corações e fazem deles um só, por alguns instantes. Ela não tinha seu senso de humor, sua criatividade absurda. Ela nunca me fez rir, Andy. Nem de cerveja ela gostava. Ela era uma pessoa espetacular. Mas tinha um defeito: Não era você. Mesmo você sendo um menino, quero ter você ao meu lado.

Andy  não consegue esconder o sorriso. Ele vai em direção de Edu e dá um abraço longo. O abraço mais demorado entre eles.

-Cara, desde os 15 anos, eu guardo esse segredo comigo. Eu sou apaixonado em você. Ninguém nunca cuidou de mim e me protegeu, como você. Ninguém fez meus deveres de matemática ou tocou violão pra mim, na calçada, como você. Ninguém fez tudo incrivelmente bem feito como você. Só que tenho muito medo de te perder, se tivermos alguma coisa e não der certo. Como fazemos?

-Tentamos. Desculpa Andy, mas não posso perder a pessoa mais incrível que eu conheci na minha vida. Corremos o risco, mas não é possível que esse amor, que tenho dentro de mim a 20 anos, tenha se enganado.

Então, ele se aproxima e tenta beija-lo. Andy afasta. Ele estranha, Andy ri e diz.

-Se vamos fazer isso, vamos fazer com calma e começar diferente. Quero que você traga flores e me busque amanhã. Coloque sua melhor roupa. E no final da noite, se você merecer. Beijamo-nos.

-Combinado, Amanha, as 20:00 te busco.

Edu chega, pegou o carro do pai, Andy lindo. Saem, comem.Edu tenta beija-lo a noite inteira. Nada. Quando está deixando Andy em casa. Ele tira o cinto e tenta o beijo de despedida. Andy nega e diz.

-Desce do carro, abre a porta pra mim.

Edu acha graça, adora ver ele se divertindo com aquilo. Ele abre a porta. Andy o abraça, pega em suas mãos e o leva para a calçada, no mesmo lugar que sempre sentaram.

-Pronto, aqui, no lugar que construímos todo esse sentimento. Beija-me aqui, na nossa calçada.

E naquela noite o pai dele não grita. Nada atrapalha. Porque quando é pra ser, até o universo conspira a favor.

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⏰ Última atualização: Oct 08, 2018 ⏰

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