"Eu não sei por que eu estou me sentindo assim, como se eu não te conhecesse mais, quando eu nunca conheci merda nenhuma sobre você" ele resmungou enquanto derramava o whisky no copo sem gelo. O abajur iluminava sua figura encorpada, imponente, e refletia em padrões faiscantes na superfície da bebida dourada. Do outro lado do quarto, Haddad o observava através de pálpebras pesadas, seu contorno sentado à poltrona mal podia ser discernido nas sombras nas quais se retraía.
"Você não precisa usar esse palavreado chulo" veio a resposta arrastada.
"Eu falo palavrão" Ciro arqueou as sobrancelhas, dando de ombros. Levou o copo à boca e pressionou o vidro frio contra os lábios. Ele sabia o que o outro homem estava fazendo, e aquilo o deixava possuído, a ponto de tirar sua sede. "Essa não é uma conversa que podemos contornar, por mais que você tente mudar de assunto, apontando meus defeitos como se não tivesse nenhum. Como sempre"
"Eu não..."
"Você me acha parecido com ele?" o homem mais velho o cortou. Diante do silêncio, ele bufou.
"Sim" Haddad pensou ser melhor escolher a sinceridade. O pedido de desculpas que viria em seguida ficou preso na garganta, e ele engoliu com dificuldade, olhando suas mãos pousadas no colo.
"É o meu temperamento? Porque não são minhas ideias, ou talvez você não saiba nada sobre mim também. Você..." ele deu um grande gole na bebida e bateu com a base do copo vazio sobre a mesa. Riu, a voz que era normalmente sonora, agora esvaziada de qualquer melodia "Você me disse muitas vezes que gostava de como a minha voz ficava rouca depois de beber"
"E você me disse que gostava de como eu grunhia no sexo, que eu soava como uma motosserra"
"Não disse"
"Disse"
"Não disse"
"Disse"
"Não disse" o tom de Ciro não permitia réplica "Isso tudo não importaria tanto se você não estivesse interferindo na minha carreira. Você começou a sua campanha há duas. Semanas. E já me passou, porra. Eu batalhei muito por isso, é impossível eu não questionar minha capacidade..."
"É que eu fui o prefeito gato de São Paulo..." Haddad murmurou, argumentação que foi ignorada por Ciro.
"Você continua roubando meu sonho. Nas pesquisas você continua subindo, subindo..." sua voz agora era como um trovão ecoando pelo quarto, demonstração de virilidade que fez todo o sangue de Haddad correr para suas bochechas e seu...
"Meus números não são a única coisa que está subindo..." sua voz falhou de desejo. Se Ciro era o trovão que previa uma tempestade, Haddad queria ser completamente sugado para dentro dela. O outro homem o olhou com seriedade.
"Eu não quero te perder" a dor pesava em suas palavras, pela traição de seu parceiro, e pela compreensão de quão longe ele próprio iria, quão baixo ele desceria, para não ter de dizer adeus. Ciro andou lentamente até a poltrona, se afastando da luz para se ajoelhar em frente a Haddad para que seus olhos estivessem no mesmo nível. "Eu não quero te perder..." ele repetiu enquanto tirava algo do bolso traseiro da calça. Ele estendeu e desdobrou o objeto, e teve a certeza de que tudo valeria a pena após ver os olhos de Haddad brilhando com o que pensou ser felicidade. Mas o outro homem só sentia gratidão por ser aceito.
Ciro prendeu o elástico da máscara atrás de sua cabeça. Pelos dois furos dos olhos, ele viu lágrimas quentes escorrendo pelo rosto do amado.
"Você não precisa..."
"Eu quero" Ciro assegurou, puxando Haddad e pressionando seu corpo contra o dele. Seus lábios se encontraram através da abertura para a boca, um contorno sorridente, o Brasil feliz de novo. Haddad acariciou o rosto de Ciro sob a máscara do Lula, suas identidades se confundindo deliciosamente, ele beijava os dois homens que mais amava ao mesmo tempo. Isso quase o levou ao clímax. Ciro o segurou em seus braços fortes, o levantou e o jogou na cama. Ambos tomaram alguns segundos para arrancar as roupas, e logo Ciro estava sobre Haddad, segurando seu membro rijo.
"Isso, ursal" Haddad havia se confundido, ele queria dizer ursão. "Me xinga" ele mordia o lábio enquanto se contorcia embaixo do amante.
"Promíscuo" Ciro forçava a voz rouca e as entonações de sindicalista "Prefeito de bicicleta" ele se empolgava "Você é tão sombra da sombra do Lula que foi só o Boulos crescer uma barba que ele lembra mais ele"
"Para, já tá bom" ele diz antes da sombra do terror existencial se projetar sobre sua alma. Ele ergueu o torço para ter acesso ao pênis de Ciro. O homem mais velho o segurou pelos cabeços, expondo seu pescoço.
"Você vai chupar direitinho? Vai ser um bom garoto?"
"Eu já sou. Eu nunca fui indiciado na Lava Jato" foram suas últimas palavras antes de encher sua boca com o verdadeiro tronco que Ciro carregava entre as pernas. A vice dele nunca poderia saber disso.
Haddad chupava com afinco, e Ciro o afastou antes de gozar, virando-o de barriga para baixo e enfiando dois dedos em seu ânus, preparando o terreno por alguns minutos até deslizar seu pênis para dentro.
"Mais rápido" Haddad implorou.
"Você quer rápido você volta pro seu ex, o Dória" e Haddad grunhiu de frustração. O barulho que parecia o de uma motosserra fez Ciro derramar seu leite no interior do outro homem, plantou nele sua semente, que agora lhe escorria por entre as pernas. Haddad estendeu a mão para trás, um pedido de comunhão tão profunda quando a que o PT teve com os bancos. Quando Ciro entrelaçou seus dedos nos dele, ele também atingiu o clímax.
A máscara largada ao chão, os olhos de Haddad foram de encontro com os de Ciro pela primeira vez desde que se deitaram, abraçados. A vergonha já tinha dado cor às bochechas do homem mais jovem, e ele se perguntou se deveria ir embora. Mas Ciro o envolvia com força, e suas raízes coronelistas já tinham-no feito coronel de seu coração. Ciro não deixaria Haddad voltar para a casa tão tarde, não com a nova velocidade da Marginal. Ele poderia até perder para ele, mas nunca perdê-lo.
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Lá em Nosso Coração... Brilha uma Estrela
FanfictionCiro e Haddad se amarão como se fosse a última noite da democracia na Terra...