Uma pessoa que eu costumava conhecer

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Risos alegres, brincadeiras, momentos felizes passados com aquela pessoa.

Tudo se foi em vão.

Acordei bruscamente durante uma madrugada de inverno, não sei se poderia considerar aquele sonho que tive como um pesadelo, eram momentos felizes mas.... eu nunca mais poderei passa-los com aquela pessoa.

O som irritante do despertador toca, levanto-me da cama devagar e com preguiça, visto me e arranjo as coisas para levar para a escola.

Todos os dias da semana são assim, uma rotina chata e desinteressante.

À 2 anos tinha sempre um motivo, um único motivo para acordar e fazer aquela rotina chata e desinteressante e esse motivo era uma pessoa especial para mim mas a sua presença desapareceu num dia para o outro.

Entrar na sala de aula e ver aquela mesa vazia no canto todos os dias....

Me faz questionar o porquê de eu ainda estar aqui.

O porquê de tu teres fugido,

De me teres deixado,

De saberes que não tinha mais ninguém além de ti

Eu sei que não fizeste de propósito... mas pelo menos eu queria ouvir pela ultima vez um "adeus".

Após as aulas eu saí da escola e decidi ir ao mesmo café de sempre, para relaxar e desenhar um pouco.

Eu olhei para o meu reflexo no vidro do café e me pergunto o porquê de eu me ter tornado numa pessoa assim, triste, sozinha e uma pessoa fechada em relação aos seus profundos sentimentos.

As vezes sinto como se todas as pessoas estivessem distantes com as suas próprias felicidades e conexões e eu não fizesse parte de nada disso.

As pessoas ao meu redor parecem ser tão contentes, ter uma vida feliz, um motivo para continuarem a sua vida de uma maneira alegre...

Assustei-me com alguém a bater no vidro do café.

- Haru, o que é que fazes aí parado?- Pergunta o Yamato - Faz quase 10 minutos que não paras de encarar aquele casal pela janela.

Eu olhei rapidamente de novo para o vidro e aquele casal não para de fazer cara feia para mim.

- aaaaah que vergonha... - disse eu sussurrando com a cabeça para baixo.

- É por isso que não deves viajar nos teus pensamentos em qualquer lado. - Disse Yamato colocando a sua mão sobre o meu cabelo começando a bagunça-lo todo.

Mais uma vez eu olhei para a pessoa do meu lado, Yamato, um colega meu de escola que trabalha em um café. Além de se ver sempre um sorriso no seu rosto é difícil de se perceber o que realmente ele pensa e se aquele sorriso não basta de uma tentativa de esconder os seus verdadeiros pensamentos.

Depois de entrar no café senti um ambiente confortável e quente. É sempre bom relaxar um pouco.

Yamato serviu me um dos seus cafés especiais, o sabor é meio amargo mas é bom de se beber em dias frios de inverno.

Pousei alguns trabalhos meus sobre a mesa.

Olhei para o lado da janela enquanto bebia o café.

- HEY HARU ! - Gritou Houtarou enquanto encostava a sua cara feia no vidro do lado de fora do café.

- PFFFFF. -Cuspi o café com o susto molhando um dos meus desenhos.

Houtarou e Hiroshi após entrarem no café, sentaram se na mesma mesa que eu.

Haru, eu te procurei por todo o lad-

QUAL É A TUA IDEIA, MOLHEI OS MEUS TRABALHOS TODOS. - Gritei eu, tentando limpar a sujidade.

Houtarou é um amigo meu da escola e anda no mesmo club de desenho que eu, ele é uma pessoa muito agitada e alegre, a energia positiva dele é contagiante, ás vezes é bom ficar a conversar com ele mas por vezes pode ser demasiado irritante. E o rapaz que está sentado ao seu lado é o Hiroshi. Eles são literalmente o oposto um do outro mas apesar disso tudo eles são grandes amigos.

- Ah, estes são alguns dos teus desenhos? - Perguntou Houtarou pegando nos meus desenhos. - Sempre vais participar no concurso do nosso club?

Eu dei um pequeno sorriso amargo.

- Não, eu não vou participar. - Disse-lhe eu retirando os meus desenhos da mão dele.

Eu sei que ele irá ganhar como todos os outros concursos anteriores, não vale a pena competir por um adversário bem elevado. "Adversário" foi o que eu disse?

Eu não tenho o direito de o considerar como adversário, seria até uma honra poder competir com ele.

- Já agora, o motivo pela qual me procuravas era só para me perguntares isso? - Perguntei eu.

- AH. Quase me esqueci. Eu passei pela tua casa e encontrei umas caixas na porta do lado da tua e então eu pensei que poderias ter um novo vizinho.

Um novo vizinho?

- Eu falei com ele por um pouco, o nome dele é Yuri, eu acho.

O meu coração parou por um instante, a minha voz não queria sair pela minha boca...

É impossível que seja o mesmo Yuri que eu esteja a pensar, ele desapareceu faz uns 2 anos...

A ultima vez que o vi foi um dia depois do acidente que ele teve. Eu fui visita-lo no hospital, era uma noite de verão.


Eu deitei me ao lado dele e eu segurei a sua mão, eu estava com medo mas feliz pelo facto de ele estar bem.

Passei levemente a minha mão no cabelo dele.

Várias ligaduras estavam a volta da cabeça dele, feridas nos braços, pescoço...

Passei a minha mão no tronco dele, levemente sem o acordar.

A sua leve respiração batia no meu rosto.

Eu pressenti que ele tivesse acordado então eu me virei rapidamente para o outro lado.

A meu corpo estava tão cansado que ao fechar os olhos acabei por adormecer.

Por um instante, acordo e deparo me com a cama vazia e com as ligaduras, que estavam ligadas ao corpo do Yuri, espalhadas pela cama. Repentinamente eu escuto várias vozes e um grito alto e perturbador pelo corredor fora do quarto onde eu estava.

Eu levantei-me rapidamente e ao sair daquele quarto me deparo com o corpo do Yuri caído no chão. Ele estava em um estado horrível, chorando pelo corredor e gritando várias coisas.

Eu gritei o seu nome e tentei correr até ele mas uma das enfermeiras veio socorrer rapidamente o yuri acabando por me empurrar para o lado.

Aquele momento foi perturbador, nunca tinha visto o Yuri naquele estado, eu senti me assustado e com medo.

A partir daquele dia eu nunca mais vi o Yuri e ao longo do tempo tive que aceitar o facto dele não estar mais ao meu lado. Mas esquecer ele de vez ainda é complicado para mim pois sempre tenho sonhos onde o rosto dele aparece e não consigo seguir em frente, acabo por ficar agarrado ao passado. Eu odeio me sentir assim, com saudades, raiva, tristeza... odeio sentir vários sentimentos de uma vez só, odeio me sentir sozinho e sentir que ninguém me compreende.

Mesmo tendo pessoas ao meu redor, amigos que passam o tempo comigo, que se preocupam comigo... mesmo assim eu me sinto sozinho... sinto como se não tivesse mais ninguém ao meu lado

Eu sinto saudades do Yuri.


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⏰ Última atualização: Feb 08, 2020 ⏰

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