Véspera de Feriado

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Grrrr! Que merda!

Quarta-feira. Véspera de feriado prolongado. Frio demais. Respirava fundo procurando meu lado Hare Krishna que foi passear, tentando ser racional. Vamo lá.

Não adiantava rosnar pro tapete. Ele estava no lugar dele, eu que fui estabanada e acabei me enroscando e torcendo o pé. Doía.

Xingar também não funcionaria e nem alteraria nada. Vou ter que ir pro hospital por que tá inchando bem rápido. É rezar pra não ter quebrado. Ou luxado é pior?

GRRRR PUTAQUEPARIU. Tinha que ser justo hoje?

Com dificuldade e palavras que nunca falaria na frente da minha avó, levantei apoiando em tudo que achei, peguei o celular e a bolsa, fechando o escritório. Estava sozinha pois todos no escritório da transportadora que eu trabalhava tinham familiares esperando pra começar o feriado e como eu morava sozinha na cidade há pouco tempo e minha geladeira quebrou no mês passado, resultando em prestações não tão suaves e restrições severas no orçamento, não vi problema em ficar 15/20 minutos a mais pra fechar enquanto todos iam embora. Isso porque não sabia o que aquela coisa azul, quadrada e sem graça poderia se colocar no meu caminho.

Queria ir pra casa de metrô, aquela lata de sardinha de sempre até deu saudade, tomar um bom banho e descansar, tinha até separado Dirty Dancing pra assistir pela 6548ª vez! Aqui estou no banco de trás de um uber a caminho do hospital.

Da calçada pra recepção foi um caminho lento e dolorido, o pé latejava. Encontrei uma mocinha ruiva na recepção. Bonita mas tava nitidamente odiando estar ali e deixava claro no atendimento também. Reparei nisso quando ela atendia uma mãe de primeira viagem na minha frente, preocupada com a filha que tinha asma e estava com uma crise. Ela foi tão seca que todos ficaram abismados. Era a filha, maior tesouro daquela moça e ela queria calma sendo que fazia tudo lentamente de propósito? Fechei minha cara na hora. Ela teve a audácia de mostrar os dentes pra mim. Depois de ser uma vaca, queria se mostrar uma gatinha manhosa pro meu lado? Mas não mesmo!

- Boa tarde! Nome completo e CPF, por favor. - simpatia de quem quer mais do que ser simpática.

- Estão aqui - estiquei meu RG e cartão do convênio, em que ela puxou mais encostando na minha mão que qualquer outra coisa. Digitou bem mais rápido que antes. Meu nojo cresceu na mesma velocidade.

- O que aconteceu Manu? - toda educada, toda atenciosa, toda falsa.

E ME CHAMANDO PELO APELIDO COMO SE FOSSE ÍNTIMA!

Respirei fundo.

- Torção no pé esquerdo. - seca? Sim, o máximo possível.

- Ok - ela deu uma murchada percebendo que não teria brecha nenhuma, não comigo - Dra. Letícia está finalizando um atendimento e logo poderá te atender.

- Obrigada.

Sou a próxima num pronto atendimento numa quarta-feira às 18h? Nem tudo está perdido. Me sento num canto da sala de espera e vejo minha volta. Apesar de estar cheio e me ver rodeada de crianças e idosos num tempo frio e seco, percebo que sou a única que aguarda a ortopedista. Dra. Letícia. Deve ser nova, tanto pelo nome quanto por estar ali naquele horário.

Vejo uma morena linda saindo da sala de atendimento. De jaleco e um sorriso de parar...de me parar de procurar alguma coisa na bolsa que não sei qual é.

- Lê, tá vindo um acidente.

Ouço uma senhora negra avisando a moça que tá de jaleco mas continua visível as curvas do seu corpo que deveria ser levado pra academia sempre. E eu? Babando como uma adolescente de 25 outonos.

TornozeleiraOnde histórias criam vida. Descubra agora