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 Algumas pessoas gostam de coelhos. Outras de um bom vinho. 

 Mas Lan Xichen não gostava de nada. 

Para ele, pouco importava o quente ou o frio, o doce ou o salgado. Qualquer um estava bom. 

Quando era apenas uma criança, seu pai lhe dissera para fazer uma canção agradável, para se proteger do mal. 

 Mas o que seria uma canção agradável? 

 Para Xichen, era fácil responder. 

Certamente seria similar ao som de sua mãe cantando na hora de dormir, velando todas suas noites para que os bons sonhos viessem. 

 Contudo, com o passar do tempo, a pequena jade se perguntou se jamais teria a chance de cantar para alguém além de si mesmo. 

 A resposta mais tarde seria, "é melhor não".

 Foi traumático o bastante ver o destino catastrófico de seu pai e seu irmão quanto ao amor, e com toda a certeza ele não iria conseguir suportar a culpa de ter sido o possível mártire para a ruína da sua pessoa amada. 

Quando ele amasse alguém, sua maior prova de afeto seria deixá-la ir. 

Sentado no chão de seu quarto completamente empenhado em seu trabalho pessoal, quem o visse poderia até julgá-lo como um louco. O piso estava repleto de papéis dobrados em formas jamais vistas, uma afronta aos olhos. Sem conseguir ignorar, o júnior Lan Jingyi se apoiou na janela para olhá-lo melhor. 

 - Senhor ZeWu-Jun, o que são essas coisas? 

 Eram formas estranhas, como pequenos pássaros que nunca voariam. Se limitando por apenas alguns segundos para olhá-lo, o mais velho respondeu sem abalar sua concentração. 

 - Se chamam Origamis. Eu pedi que me ensinassem quando viajei ao país vizinho. É bem comum por lá. São bonitos, não são?

Xichen sorriu enquanto suas mãos mexiam nas asas para cima e pra baixo cuidadosamente, com medo de rasgar. Jingyi respondeu com um aceno acompanhado de um sorriso educado, tendo sua certeza que seu pobre líder enlouqueceu pela solidão.

 O júnior não ficaria por muito tempo, já que só viera entregar um relatório mensal da seita e já estava de partida. Se seu sênior decidiu que queria viver isolado, era seu dever respeitar, por mais que isso o preocupe.

 Era um estilo de vida triste, de fato, mas era sua escolha e ninguém tinha o direito de interferir. Por mais que doesse. Se tratando de Xichen, um dos cultivadores mais empenhados do mundo, poderia se imaginar que ele ficaria bem. Mas é de se dar pena.

Se despediu, e logo a primeira jade estava completamente sozinha novamente.

 Não que isso o incomodasse, pelo o contrário. Assim terminaria mais rápido o que começou. 

No ambiente que estava, só podia se ouvir sua respiração e o papel se dobrando entre seus dedos, várias e várias vezes. Lá fora, os vaga-lumes começavam a cantar, emitindo seu brilho e anunciando a chegada da noite. Só aí que Xichen percebeu que estava duas luas fazendo isso, e que deveria ter um descanso.

 Levantou com todo o cuidado do mundo, para não acabar pisando acidentalmente em nenhum. Depois de encarar seu trabalho duro por um tempo, ele gargalhou. 

 - Olhe só. Parecem até os coelhos do Wangji! Haha! 

 Orgulhosamente saltou sobre os papéis e ficou na ponta dos pés na entrada de seu quarto. Deu um suspiro entrecortado ao ouvir a porta da frente rangir ao ser aberta, e fechou a porta atrás de si rapidamente, como se estivesse escondendo um corpo. 

08/10Onde histórias criam vida. Descubra agora