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Saio de minha casinha e tranco a porta, inspirando o ar quente da Califórnia, logo pela manhã. Isso é perfeito. Ajeito minhas mexas castanhas no rabo de cavalo alto e sorrio, descendo as escadas e passando por meu quintal bem cuidado. Abro o portãozinho e saio, indo para meu primeiro dia no trabalho. Uma cafeteria perto de onde moro.

Consegui com muito custo alugar essa casa e mas custo ainda para conseguir uma vaga na Rendevaouz, uma cafeteria muito movimentada, todas as manhãs.

Bom, antes eu vivia em Amsterdã, com meus irmãos e meus pais, mas resolvi ter minha independência cedo demais. Queria algo só meu, no lugar que eu sempre admirei. A Califórnia.
Adoro ver as praias e as pessoas sorridentes daqui, todos os dias. E também, os ares são perfeitos. Gosto daqui e pra mim não há melhor lugar que aqui. Bom, tem, mas deixemos em off.

Tenho três irmãos e duas irmãs, sendo eu a caçula da família Hildegard. Julian, o mais velho e mais bagunceiro. Laerte, o segundo, e mais na dele. Calmo, mas ama uma ironia e irrita muito quando quer. Gustav, o terceiro, idiota e brincalhão. Ele é gay e ama uma histeria. Só de imaginá-lo agora, começo a rir no meio da rua, chamando a atenção de algumas pessoas.  Sigo com meus pensamentos. Camille, a diferentona e muito espevitada, é a alegria da família.  Flora é a calada, na dela. Não gosta de desordem e odeia que falem alto quando está naqueles dias. Mas é um amorzinho quando se tratá dos irmãos. Eu sou muito diferente. Sou desorganizada, amo sair e ter amigos. Faço piadas em horas constrangedoras e pareço uma criança. Tanto na estatura, quanto na aparência.

Cabelos curtos e castanhos, olhos de um ciano claríssimo e boca em forma de coração. Tenho uma tatuagem da raposa em um planeta, esperando o Pequeno Príncipe. Tenho o sonho de achar alguém pra fazer a outra metade. Até lá, minha raposinha será solitária.

Olho a placa da cafeteria e entro, pensando que tudo vai dar certo e me motivando internamente.

Eu vou me sair bem!

***

E tudo correu... Pessimamente horrível! Eu fui demitida no meu primeiro dia de trabalho! Tinha como ficar pior? Há Deus! E agora? Sem emprego não vou poder pagar o aluguel e serei despejada!

Sinto lágrimas quentes rolarem por meu rosto rapidamente e eu não as paro. Só saio da cafeteria, ouvindo aquele senhor idiota berrando para mim. Ele teve a ousadia de me apalpar e eu não aceito isso! Joguei café nele e o mesmo me deu um banho de suco e agora estou aqui, saindo pelas ruas de cabeça baixa, chorando baixinho por tudo o que aconteceu. Eu estou ferrada.

— Tem como piorar? — Digo pra mim mesma, e no estante seguinte sinto algo quente me atingir em cheio no peito. Grito alto e arregalo os olhos, abrindo os braços. — OH CARAMBA! OH CARAMBA! OH CARAMBA! — Grito e choro compulsivamente. Puxo a camisa que grudou em mim e alguém pede desculpas a minha frente. — Oh droga! Porque eu abri a merda da minha boca? Por que? E por que eu sai de casa hoje? — Me faço perguntas e fungo, levantando meu rosto para focar em uma face preocupada e desesperada.

— Oh meu Deus! Me desculpe moça! — Ele tenta me tocar, mas eu me afasto abruptamente, franzindo o cenho.

— Você não tem culpa, eu que sou descuidada e... Meu Deus! Olha como eu tô! — Olho para mim mesma e depois olho para o moço alto a minha frente. Ele parece arrependido.

— Eu posso pagar uma camisa nova para você. Não recuse, por favor! — Ele diz, quando vê que eu já ia declinar de ideia.

— Tu... Tudo bem. — Digo confusa e ele estende sua mão a mim, que dou de ombros e a seguro. Caminhamos pela rua e páramo em frente a uma loja muito chique. Quando faço menção de me afastar, ele me puxa para dentro da loja, e uma atendente aparece rapidamente. Caramba.

All Of The StarsOnde histórias criam vida. Descubra agora