Carta de Suicídio I

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Depois de todos os momentos vivenciados, de todas as palavras transcritas, pronunciadas e engolidas, com todas essas dores que agora atormentam meu peito, o mundo fora do meu quarto me parece tão perigoso, tão frio e medonho, mas confesso que está assim até mesmo aqui, dentro do quarto.

Tenho a crer que só estou segura deitada em minha cama, no meu emaranhado de lençóis, o meu espaço longe do chão, longe das ruas, estando assim 60 centímetros mais próxima do céu.

Ver-te partir dessa forma me causa um vazio absurdo. Um vazio ruim, o qual eu não sinto há tempos. Agora que de certa forma você se foi, não sei o que será de mim, das minhas roupas, do meu cabelo, das minhas tintas e resquícios da minha personalidade.

Tudo em mim está mudando agora, mais uma vez estou à perder minha essência, e perdoe-me, sei que tu és apaixonado por ela, mas isso me faz lembrar que por mais que a ame, nunca vai querer de fato tê-la somente para si, por tanto deixarei que ela se perca, no mais distante labirinto de mim.


.24 de Março de 2017.

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